terça-feira, 31 de dezembro de 2024
sábado, 7 de dezembro de 2024
Fazenda inglesa
Assim como sempre chove na fazenda inglesa,
também não há sol em mim;
há anos não há luz aqui.
Sim, assim como sempre chove na fazenda inglesa,
aqui os tempos se fecharam.
As boas novas findaram;
o ritmo impassível da vida
diante dos desastres,
me atropelaram.
Desato os nós de maneira silenciosa,
de dentro deste moedor de carne
que virou a vida.
Do peso morto que sou,
do muito roto corpo,
e do que valho... só o peso da carne.
Dói, sim,
dói, e vai doer pra sempre mais.
Compreender a existência,
transcender os paralelos nos dias de chuva,
atravessar a cidade fenecida,
inundada de tratantes e homicidas.
Nunca me deve parecer normal
o mundo sem ti,
a cidade sem ti,
a vida sem ti...
e a morte tua dona.
Mas, assim como sempre chove na fazenda inglesa,
há em mim essa centelha,
o sopro dos anjos,
a vocação dos mais tristes,
dos incompreendidos homens.
A desobediência,
do ser que não sendo Deus
e nem divindade,
ainda assim é capaz e crê
no poder de criar beleza.