sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Apaguem a luz

Meio dia,
meio sem vida.

Encho os pulmões
e sigo, há muito azul demais,
e pouco de mim aqui.

Gostaria talvez de...
não sei do que gostaria.

O dia voa, não almoço,
escrevo um troço que não me desce,
ando topando qualquer negócio,
acho que é stress.

Faço noite às três da tarde,
é impressionante como arde essa lua,
como me consome 
esse sem fim que é o céu.

Me recuso,
luto por qualquer sombra,
eu nunca entendi esses 
que clamam por lugar ao sol.

Vivo de olhos pregados,
de óculos filmados,
repelindo simpatia,
impassível pelas vias...

Faço noite a qualquer hora,
vivo madrugadas,
me intriga o escuro todo,
e como o mundo, bobo, burro velho,
morre de medo
e vive com as luzes acesas.

Gostaria de...
ainda não sei do que gostaria.

Talvez que não fosse dia,
não fosse mais,
já que eu não sou dia,
eu gostaria que...

Apagassem a luz.

Imagem do dia!


 

O pulso

Infelizmente ou felizmente 
o pulso ainda pulsa.

Junto a toda minha repulsa,
a vergonha misantropa,
dessa miserabilia estranha forma de viver.

O mundo não me representa,
dos rios aos mares, os lugares mais lindos,
nada mais requenta o que um dia foi amor.

Infelizmente ou felizmente
o pulso ainda pulsa...
E sobrevive valente 
aos impulsos frequentes de me cortar.

Os olhos dos outros,
as bocas e os dentes,

Os filhos, os pais,
os burros ou inteligentes,

As palavras, as mágoas,
o choro, o riso

Preciso sumir, eu preciso, preciso.

Detesto todos vocês,
eu não amo ninguém,
e quando eu me for não digam que amei.

Detesto esse mundo, a vida, a morte
a sorte, a falta, o frio ou o calor.

E dói tanto saber
que se eu pudesse agora me mandar,
ela não mais impediria,
não pediria pra eu ficar.

Mas por falta de coragem... 
é tão difícil me jogar.

Infelizmente...

O pulso ainda pulsa, 
pulsa, pulsa.

Lisboa

Porque foram embora os descobridores?
Se Lisboa é tão boa quanto Lis,
Lis que é luz de minha vida
e também tão boa quanto Lisboa.

Porque foram embora tantos deles?
Se todas as coisas que vejo no mar
eu vejo nos olhos de Lis.

O que será que faltaria, 
o que foram buscar no mar de fora dos olhos dela?

Se aqui há o Tejo latejante,
mais até que meu amor por Lis,
que por sua vez, 
continua tão boa quanto Lisboa.

Lis, Lis, luz de minha vida,
que tem mente sã e corpo são,
que vive deslizando pelos ares quentes
daquele distante povoado de São Sebastião.

Lis, Lis, luz de minha vida,
perene aura equidistante que me equilibra
o amor a vida, Lis, 
Luz. 

Luz que tão boa quanto Lisboa, 
me fez resistir vivo ao fascínio pelo Porto,
que se não fosse por Lis,
de lá só sairia morto.

Lis, luz... 
que tem elegante ganho de causa 
em cada brilho,
em cada palavra.

Lis, Lisboa, 
que magoa os desavisados,
magoa os ingênuos, 
e os desajeitados.

Esses, esses homens tolos
que sem saber quem e quão boa é Lis,
não poderiam querer ter e amar 
qualquer outra.