terça-feira, 31 de julho de 2018

Imagem do dia!


Até quando

O ritmo extasiante das tragédias me consome,
toda noite quando deito,
deito sempre novo homem.

Sobre viver, já escrevi,
sobre vida, sobre morte,
sobre amor à primeira vista,
e sobre meninas sem sorte.

Mas hoje, é o ritmo embevecido desse mundo violento que me exaure,
que me deteriora, que me parte e me desconsola,
não vejo melhora, nem de longe, nem por hora.

E sabe-se lá até quando eu escrevo,
até quando terei bala na agulha,
amor a altura,
e olhos pra ver...

Ver as coisas do mundo que não choram,
ver as coisas que nos refazem, que nos acendem...

Escrever sobre freiras atravessando a rua,
balões coloridos caindo sob a cidade turva,
uma noite tranquila, Ipanema vazia,
o vento do mar...

Sabe-se lá...

Até quando aqui?
Até quando capaz de amar?

Devoro-te

Devoro-te por esporte,
uma consagração
ao teu eu mais sórdido.

Reviro meu coração,
em busca de um nome pra você,
qualquer coisa que não seja amor,
qualquer coisa que eu não possa depender.

Descarto todas as semanas,
eu vivo pro anoitecer,
deságuo com o mundo,
eu me viro no escuro,
só sei mesmo de tudo que eu não quero ser.

Devoro-te por esporte,
a cidade é meu templo pagão,
e o meu tempo, o instrumento,
de uma sórdida ingratidão.

Imagem do dia!


Amanhã não mais

Essa noite as coisas parecem normais
gente louca pelas ruas
pessoas quase sempre más,
as paredes do quarto estão se fechando,
não sei se foi álcool ou algo que eu disse,
neurótico assíduo já nem sei o que é real.

Mais uma noite normal,
mais um dia que vem pra dizer
que não há nada de errado no mundo,
só há tudo de errado com tudo,
tudo de errado com tudo.

Só por hoje as coisas parecem normais,
e eu posso garantir uma tragédia nos jornais,
é tudo tão claro, hoje é tudo tão certo,
um vento sudoeste, um maral e o tempo aberto....

Sinto cheiro do seu sangue misturado,
eu farejo seu medo, farejo seu amor,
posso sentir como o tato,
o que você me diz com os olhos,
e o que você esconde,
tenho um monte de verdades pra dizer,
percebo tudo, tudo, tudo tão antes...

Mas é só por hoje,
ah, é só por hoje,
ah, é só por hoje,
mais um dia normal...

E amanhã,
amanhã não mais.