quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Imagem do dia!


Cor quo vado

Pelas madrugadas, de quinta a domingo,
o corcovado quase sempre diz
que eu não vou nada bem sem você.

E quando encana, de segunda a quarta,
eu abro a janela e ele me manda dormir,
insiste que vai tudo muito bem
sem que eu esteja andando por aí.

E é quase sempre tudo igual,
eu já não aguento esse sol
quando vem da guanabara
e avermelhece copacabana,
todo dia reflete naquelas pedras
a minha tortura matinal.

Fazendo os pássaros berrarem de manhã,
e as ruas escuras agonizarem mais a cada minuto de sol,
pedindo socorro ao silêncio,
reivindicando escuridão de horas atrás.

Cor quo vado?

Meu mundo é tão estranho sem você,
me acorrente ao ócio, eu prefiro não viver,
não saber de mais nada.

Não suma, não me deixe, não peça perdão,
é só não ter motivos,
não venha me dizer que não.

Coração, para onde vou,
para onde me levas, coração?

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Oração dos postos

Que não faltem elas à eles,
que estejam sempre em paz.

Que aguentem firme quando o mar chegar,
e estejam sempre em paz.

Que continuem estacando meus amores pela cidade,
e os quilômetros marcados com cuidado.

Que sejam pras próximas gerações o que foram pra mim,
motivo de sensação sereníssima
e liberdade sem fim.

Estejam eles cercados sempre das bem nascidas,
as de olhos muito, muito claros;
dos coqueiros muito velhos,
e das plantas que moram nas dunas, é claro.

Que não faltem à eles os homens do mar,
que estejam sempre em paz.

Que aguentem firme a ressaca dos anos, e dos carnavais,
que estejam sempre em paz.

Que permaneçam sendo memória viva, afetiva,
e me tragam sempre paz.

Imagem do dia!



Fingir tudo

Destrato de mim, joelho no chão,
me entrego, me afasto,
meu Deus,
eu sou tão ingrato.

Eu fujo das luzes,
do sol e do mar,
passado e destino
já nem estão lá...

Eu sou como as coisas
que nos pegam de surpresa,
eu sou triste, tão constantemente
como uma leve correnteza,
já nem sinto nada,
eu não sinto mais,
já nem sinto nada,
eu nunca senti.

Há um esbranquiçamento no meu peito,
uma massa que corre estancando o sangue em minhas veias,
sinto como fosse até tristeza, mas não é,
sinto como fosse algo da minha natureza,
mas não é.

É vontade de estar só,
de viver sozinho o mundo,
é vontade de estar só,
de chorar sem saber porque,
é vontade de estar só,
e fugir de tudo,
deixar de fingir tudo,
desistir de ser poeta.