sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Menino fútil

Procura no amor
o que enxerga no espelho,
perfeição, que erro...

Entre seus pares de sapato
e camisas sociais,
ternos italianos,
coisas legais...

Tudo tão lindo,
corte batido,
que faz estilo,
old school é tão fino.

A vida dele é uma novela de tv,
um seriado legal,
mas sem atriz principal...

Batendo perna pela orla,
sem clamar por atenção,
ninguém precisa dizer
que ele é a sensação...

Ele procura no amor,
aquilo que vê no espelho,
e não sabe, não sabe

A vida dele é uma novela de tv,
um seriado legal,
mas sem atriz principal...

Vivendo a noite com o sol só pra ele,
água não mata sede,
com tantos peixes na rede...

E a cidade inteira de portas abertas,
as casas certas,
mar nas janelas...

Ele procura no amor,
aquilo que vê no espelho e não sabe,
não sabe...

Não há problemas, só solução,
a vida não é cara, com tanto dinheiro na mão,
mas ele não sabe, ou finge não saber,
menino fútil, só precisa entender...

Que o amor também pode ser sórdido,
e as coisas podem não fazer sentido,

Que a vida nem sempre segue um roteiro digno,
e tudo pode findar fora dos trilhos.

Vamos conquistar o mundo

Eu quero devorar toda a chuva dos seus olhos
e fazer grande banquete dos seus pensamentos tristes,
contempla-los em agonia,
vomita-los pelas vias,
descartar-los numa noite fria...

Pra te ver sorrir de novo,
sem um pingo de desgosto,
partindo do suposto
de que você também me ama.

Eu quero devorar todos os seus medos,
e tomar pra mim os seus inimigos,
queimar todos como em ritual,
e fugir daqui pra outro lugar,
pra curtir um outro carnaval.

Pra te ver sorrir de novo,
sem sentir um pingo de desgosto,
partindo do suposto
de que você também me ama,
vamos conquistar o mundo.

Mas se você não sente nada,
e nem quer saber de mim,
trate de mudar de calçada,
que eu não fingi que era ruim...

E pra fazer você morrer de medo,
e chorar por meses, eu juro,
não me custa muito mesmo,
não me custa um puto!

Imagem do dia!

Drop do Maraca - Pier de Ipanema 73/74

O carimbador de almas

Sabia que podia
apesar do que estava escrito,
sabia que não ia desistir.

Tudo idealizado,
sem deslumbre pelo poder.

Tudo sempre na palma da mão,
sem nenhuma chance de se perder.

Cultivava a sua volta
lindos pontos no espaço tempo,
pintados por aí pra não esquecer,
num dia quente daqueles seus,
sentimentos derretendo feito a cera no entardecer.

Confiava só no acaso
porque ele nunca o traiu.

E não gostava de pessoas,
só de algumas poucas e boas.

Escolhia os seus lugares
incluía quem ele quisesse,
colhendo almas bonitas
pra que elas não esmerilhassem.

Sabia que podia
um outro mundo escrever,
sabia que ninguém podia deter.

Em noventa graus pra entreter os olhos,
perder-se em cores, em vícios e corpos,
na areia azul do mar ou num mar azul de areia,
com o sol da noite que brilha e com sorrisos lhe presenteia.

Batuques, coqueiros, machões,
eunucos garanhões,

meninas felizes velando em choro baixo
os seus já falecidos botões...

Sabia que podia
esse outro mundo vivenciar,
mas sentia que o tempo era cruel,
e as máscaras iam despencar.

Caixa de pandora

O néctar da noite dita o efeito,
dita o meu jeito e os feitos que eu devo contar,
faz da noite uma caixinha de surpresas,
e a cada copo alguma coisa pode mudar.

Nem que seja o ângulo de ver o mundo,
e por ser vagabundo a liberdade eu não precisei comprar,
eu nunca precisei pagar...

A madrugada estende a mão,
salva e leva tanta gente,
conhece os pulsos das mansões e da sarjeta.
Todos os malucos que não se medem pela grana,
todas as vadias, e as meninas de família,
traficantezinhos, otários, 
viciados, boas pintas...

A noite é de todos,
caixa de pandora,
labirinto de perdição.

A noite é de todos,
ela é uma criança cruel e doce,
que não gosta de ouvir não.