segunda-feira, 29 de julho de 2013

Sabotagem imobiliária

Sentou-se timidamente,
sem nada em mente pediu o da casa,
fazia o estilo discreto,
nem rei nem rato, despreocupado...

E quando me bateu na lente
não parecia ninguém diferente,
era só mais algum costa quente,
metido a modesto assalariado...

Pediu mais uns bons drinques,
sem gelo, sem dignidade,
e pelos traços sentidos
alguma coisa ali era saudade.

Transitou entre mesóclises,
até enrolar o palavreado,
disse ser o barão de não sei onde
com seu rebuscado vocabulário...

Distinto do resto dos seres parvos do recinto,
explicou ainda que arredio
que a partir daquela data não era nada...
Só mais um divorciado
que gastou milhas em honorários
pra ficar com o piano da sala.

Mas que no fim de tudo
só ficou com o seu amor em migalhas,
e um tapete persa enrolado
esquecido em um dos quartos da casa.

Replicante, profetizou o fim dos tempos
quando viu o calendário,
apontou sem pestanejar
numa data da semana passada...

Excelentíssimo senhor,
desnorteado pelo engano,
chamou todo mundo de babaca.

E lá pelas tantas
com tudo já longe das tampas,
chorou, chorou, depois sorriu...

Como quem tem alguma idéia genial,
levantou, pediu uma garrafa e abriu,
chorou, chorou, serviu.

Elogiou o serviço ao gerente,
saiu pela porta da frente
com um andar inabalável
e pensamentos condenáveis...

Se foi, escolheu não ser notícia,
estendeu o seu tapete
naquela sala imensa já meio vazia...

E colocou bem alto o velho disco arranhado,
aquele de oitenta e quatro, do barão.

Escutou silenciado, junto ao barulho do mar,
mentalizou uma quarta-feira de dezembro
e deu a ela um chão vermelho, um céu cinzento.

Sorriu mais uma vez
e se jogou no seu impulso vingativo e ciumento...

Da janela do quinto andar,
só pra desvalorizar o apartamento.

terça-feira, 23 de julho de 2013

A cura

Me deixa só por hoje ser feliz,
não abra sua boca,
nem fale do que acha que lhe diz respeito.

Porque da minha parte é sempre de coração
quando eu digo que não,
que não quero saber como anda o seu...

O seu.

Me deixa viver de longe
e só saber por acidente.

Me deixa viver dessa falta de amor
como quem faz disso um interesse livre-docente.
E me perdoe o tom pedante
mas isso é pela ausência de interesse, amor...

No amor.

É que eu ando ultimamente entretido,
tomado por uns sentimentos, uns estilhaços variados,
algo como um coquetel de dores sortidas,
uma compilação de fracassos...

Eu ando remexendo uns espaços,
lugares que sempre tiveram alguma coisa pra me dizer,
e que escondi muito bem escondido
pra não tropeçar no próprio sofrer.

Tô dando uma volta por aí,
revirando o vão entre os paralelos,
as raízes daquele lugar, das pedras da nossa parte,
que não sei se você sabe
mas continuam sendo parte de um infinito desaguar.

Tô dando uma volta cercado de despretensão,
com uma mão na frente e outra no acaso...

Tô procurando pra não encontrar,
esperando uma chuva de dezembro
que me pegue de surpresa na sua rua,
e traga num tiro, num pingo morno,
aquele tempo que não parou pra você ficar.

É eu tô nessa, tateando qualquer coisa que me faça sentir,
que me faça não querer sumir daqui...

Algo que se misture, sincretize, incorpore
e por dentro detone...

Algo que machuque, que aniquile,
extermine, dissolva, destrua!

Algo que não seja amor
e que me cegue, me triture...

Que só guarde a síntese
e então por milagre ou piedade
me refaça e me cure.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Tudo mudou

Essa noite o acaso quase me pegou
e eu andava distraído...

Foram palavras me alertando sem querer
foi um anjo qualquer que teve pena
porque já sabia o que ia me acontecer.

Era seu dia e nada parecia ser diferente,
lá estávamos: eu, você...
só que não tinha mais a gente.

Tudo mudou, tudo mudou...

E pra não chorar, mascarei,
eu sorri, disfarcei, andei, sumi dali.

Só quis ir pra casa,
pensei em desaparecer,
desistir de viver.

Essa noite o acaso quase me pegou,
e eu andava distraído, ainda sem entender...

Que tudo mudou, tudo mudou.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Stand by

Me desinforme,
preciso de paz.

Não compro esse mundo,
não quero nunca mais.

Em 20 minutos nada deve mudar
e se mudar talvez ninguém precise saber...

O que é que há com vocês?

Me de opção, eu quero dizer não,
ao menos uma vez, eu não quero tudo no on!

Stand by! Stand by me!

Stand by! Stand by me!

Não derrame o clima
assim na minha cabeça,
eu prefiro surpresa, eu prefiro não levar o guarda-chuva,
eu entendo numa boa se Deus tiver a fim de fazer chuva.

Me desinforme por favor,
eu preciso de mais amor,
eu prefiro paz...

Stand by! Stand by me!

Stand by! Stand by me!

Não compactuo com esse lixo,
essas vozes da verdade,
comentaristas dos anais,
os senhores da palavra,
essa gente escrota e triste
que parece viver por nada.

Me dê opção, eu preciso dizer não,
ao menos uma vez, eu não quero tudo no on!

Apague a luz, desligue o rádio,
não ligue o computador...

Quero silêncio que é pra sentir,
pra saber se o problema é óleo no radiador...

Já que meus dois mil cavalos calados
estão reduzidos a pó,
e o meu andar alucinado
virou uma tristeza só.

Stand by! Stand by me!

Stand by! Stand by me!

Me desinforme, tire o uniforme
esqueça o seu crachá, jure pela sua mãe mortinha
que não abrirá a boca se não tiver nada pra falar.

Não despeje o seu discurso pedante
à toa assim nos meus ouvidos,
poupe-me de sua inteligência amarga,
de suas histórias inventadas...

A vida é uma grande piada
e se não tiver graça, não vale de nada.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Fino trato

Hoje eu sonhei com você
e tudo era tão real que parecia mentira.

O mundo não era essa tragicomédia,
esse combinado de descombinos,
esse atar dolorido, esse conto sofrido,
esse repetido desamor que é o frio dos desatinos.

E eu acordei feliz...

Querendo seu corpo, seu vinho, seus vícios,
querendo suas partes nos meus olhos tristes,
seu corpo hermético ensaiando revide,
seu nariz em riste, e vide, veja bem...

Veja só... que dó!

Tem dó de mim,
tem dó que só assim...

Me chego nos seus passos,
me largo sem vergonha nos teus sonhos rasos.

Só assim esqueço das máscaras
pra me aventurar na sua parte,
pra deslizar na tua quadra com esse meu porte covarde.

Largado e salgado de mar,
de corpo inteiro na tua rua,
mas com a cabeça nas tuas curvas...

Pensando se minha covardia tem fiança,
se ainda tenho pra mim suas ancas,
as covas e constelações...

Sabotando a mania de curto prazo,
querendo de novo uma migalha que fosse
daquele amor desmedido de juntar os trapos...

Pensando no bem que me fazia
o seu fino trato.

domingo, 14 de julho de 2013

Gostaria

Em noites como essa
eu gostaria de esquecer o seu nome...

Domingos me pegam de jeito
e eu lembro sem um erro,
o seu endereço e o telefone.

Posso soletrar o dia inteiro sem parar
todos os detalhes
dos seus cantos mais secretos.

Todas as marcas das suas costas,
todas as datas pra se lembrar.

Posso repetir pra eternidade
que a minha metade mais intensa
ficou com você...

Mas também posso sorrir
mesmo andando assim vazio.

Porque se eu chorei,
eu chorei com razão.

E se amei, eu amei porque amar
é um jeito bom de sofrer.

Em noites como essa
eu gostaria de esquecer o seu nome...

Porque me bate um tédio enorme da vida,
largado de madrugada,
vendo o vt de uma partida qualquer...

Eu gostaria mesmo é de não existir
já que não posso te esquecer,
eu não pensaria duas vezes
se de repente eu pudesse sumir...

Desaparecer.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Nada sério

Não entendo,
eu não pego,
não compreendo
esse complexo raciocínio...

Esse amor cínico,
reduzido a terrorismo

Esse atentado pagão
só corpo a corpo
sem mão na mão.

E me perdoa essa crise,
essa bandeira que eu to dando,
falando coisa de quem gosta,
coisa que só fala quem se importa.

Mas é que você merece muito mais do que procura,
do que pensa que te basta, do que vive, do que acha...
Hoje o que te abasta nem te merecia ter por perto.

Por isso eu não entendo,
não pego,
não compreendo
esse complexo raciocínio...

Essa falta de amor,
esse avoar, os conceitos frios.

E me perdoa o ciúme
eu sei que é bobagem,
mas é que as suas palavras
quase nunca me deixam impune.

Eu sofro a beça,
as vezes faço um verso,
mudo o disco, desconverso...

Mas não te entendo,
não concordo com o seu lero-lero,
não acho esse papo sincero, é velho,
é muito velho dizer só que não quer nada sério.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Fecha o mundo

Não abra sua janela,
não deixe o sol entrar.

Feche o mundo pra balanço,
e leve a vida mansa
só pra ver no que vai dar.

Namastê, por quê?
Carpe diem? Carpe noctem?

Mais o quê?

Qual é a sua onda,
me fale do seu mantra,
qual a transa que te prende,
o que te faz viver melhor?

Me fale dos seus deuses,
os do céu ou da televisão...

Me diga algo sobre a revolução,
ou sobre qualquer coisa fútil...

Me diga algo bem inútil,
sobre um célebre sem cérebro,
sobre algum vírus altamente infecto,
genocídio, fale de suicídio...

Me diga qualquer coisa
que eu precise concordar.

Namastê, por quê?
Eu preciso saber!

Carpe diem? Carpe noctem?
E mais o quê?

Me explica essa alegria
que me parece estupidez...

Tem a ver com astrologia?
Cartas? Búzios?
Alguma orgia que eu não fui chamado?
Magia? Sorte? Sacanagem com dados?

Eu preciso mais que o sol,
também nem me ligo mais no mar,
céu azul, a sul, você...

Eu to precisando de alta voltagem,
de superdosagem até regular...
to numa de não pensar em voltar,
dopamina até sumir, bitolar.

Qualquer coisa assim,
triste ou feliz...

Que me faça o olho brilhar.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Quinze dias

Hoje a repetida noite
me trouxe uma sensação nova,
e já fazia tempo
que eu andava descrente de encontrar.

Tem uns bons quinze dias
que eu não falo de você,
e sinto falta de qualquer dor
só pra por o amor em dia.

Anda me faltando aquela vontade
de me jogar da janela do seu andar...
Ainda acho o elevador tão sem graça.

Aliás, hoje eu descobri andando na lagoa
que vão derrubar aquele prédio da nossa quadra,
aquele quase na epitácio...

E eu lembro muito bem de dizer que era alí,
de dizer que a gente ia... ah, é melhor deixar pra lá.

Menina, cê me perdoa?

Mas é que eu me peguei ouvindo umas músicas,
usando umas coisas... e de repente já eram dez pras três.

Eu nem me liguei, só que já tinha tanto tempo
que eu não prestava atenção no Cazuza.

Que loucura, imagina a fissura,
a cara de tacho, a falta de norte...

Que sorte!

De repente eu já estava alto,
muito alto pra acertar o seu telefone,
e ainda meio baixo pra cair no choro, no sono...
Uma linha tênue difícil de se equilibrar.

Hoje a noite ia bem,
e faziam uns bons quinze dias...

Mas agora já posso parar de contar.