segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Cardeal

Curto quartas longas,
daquelas que se passa inerte no frio do quarto.
Sem horas pra ganhar ou perder, sem saber se parto ou não,
se te peço mais um beijo ou te deixo ir com a razão.

Porque esse tempo que se perde feliz
não é um tempo perdido, então me diz...
Fica comigo aqui?

Desfrutando do tempo em brasa,
no ar de dez ou desfilando pela casa,
só sentindo o ópio queimar...

Sem suar, mas sentindo o sal,
porque ás três horas da tarde
o sol arde feito o peito de um cardeal.

Longas são essas nossas manhãs da côrte
que duram pouco mais de uma eternidade.
E o sono solto, farto,
que vem do leito de um vira-lata,
não mata o que já é amor...

Só nos envenena de preguiça e de vida,
pra ser vivida na cara dura, sem vergonha alguma.
E é isso que assina embaixo
de todas as minhas composições.

Meu bem, nada disso é meu,
são só frutos dessas horas de paz...

Em que eu deixo que falem por mim,
em que eu deixo que a pureza da ausência do mundo fale por nós.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Passos leves

Todo o fim de noite em domingos febris,
toca feito alarme aquele silêncio desalmado.

E aí, me vem mil palavras,
mil escolhas, incontáveis novos jeitos de errar,
cantar outros tristes fins, destrambelhar pelos papéis
as narrativas de noites perdidas
em que os olhos molhavam sem antes amar.

Dizer tudo sem desvios, rir pra não chorar
dos desatinos que vivi e já nem lembro mais...

Apago, esvazio o meu peito, esmoreço
debruçado feito um velho cansado,
permaneço inerte, sem motivos pra me levantar.

Até que me lembro de você...
e nessas trevas totais, um rompante de alegria
da luz a um céu até então escuro e sem graça.

Um sorriso de canto agora da lugar
ao canto triste que eu tinha pra jogar num papel qualquer.

Não me importo tanto assim...
e nem lembro de haver orgulho do lado de lá do meu coração.

Te aceito de novo, não tenho do que reclamar,
me conformo com uma noite e o que mais vier,
pode ser tudo como era, como você quiser...

É bom te ter assim pra me fazer de gato e sapato,
pra amar feito louca e depois deixar de lado.

Repetir sempre as mesmas falas falsas
só enquanto ainda não há sol no céu,
vomitando seus números ensaiados e bordões,
prevendo todas as reações...

E não erra sequer uma deixa, um ato,
me dobra e sai ao primeiro sinal de céu azul.
Deixando a cena com olhos de fuga
e a mesma infalível devassidão nos passos leves.

E eu? Nem me importo tanto assim.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Veja bem

Olha só, veja bem...
tome cuidado com esses olhos,
não deixe que molhem.

Não vá me confundir com qualquer um,
não vou fingir...

Não fique pensando que eu sou seu.

Amor, só sirvo assim...
de letra tiro o seu tédio,
e num estalo eu arrumo remédios
pra nossa poética solidão.

Posso até ser bom partido, passo cheque, assino embaixo,
mas só faço tudo isso por mais um sorriso descarado...

E paro!

Faço por mais de você, mais desse amor
mais desse descompromisso, desse descompasso...

E paro!

domingo, 21 de outubro de 2012

Insones

Insones vivem sonhos,
e morrem loucos,
sem um mundo pra se instalar.

Donos de toda inquietude do planeta,
eles querem a palavra,
querem tudo que puderem carregar.

Batam, me botem pra dormir,
calmantes não me dopam,
meninas não me acalmam,
o amor não me entorpece,
o amor nem passa muito perto por aqui.

Chorem, despetalem desespero,
molhem todo o chão com flor de sal.

Nessa terra não há dia e nem noite,
não há vida, nem morte,
natal, nem carnaval,
nada é importante demais.

Esse novo mundo é uma ode a poesia democrática,
e a chegada trágica da burrice nas estantes e ouvidos.

Na falta de amor dos passantes que surdos são ninguém
e que mudos nem me parecem tão ruins.

Vamos, derramem todo o velho ouro de tolo,
nesse novo ouro preto de comendas,
que é pra ver se alguém aguenta a verdade assim de perto.

Insones vivem sonhos
e morrem loucos, aos poucos.

De olhos pregados no céu
procurando estrelas mortas pra pedir,
pra silenciar um desejo qualquer,
sem querer demais.

Só pra poder falar,
gritar bem alto...

Pra entender se ainda há amor por aí.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O que a gente sonhou

Me cura, me jura,
diz que vai ser tudo sempre fácil assim.

Me acorda e me beija
quando eu não quiser viver só por mim.

As tuas vontades me movem,
seus erros, seus cabelos pretos, seus olhos.

E a pálida pele
que pelas noites aquecemos ao rubro,
só pra esquecermos do mundo...
já que temos muito ainda o que fazer.

Estacar essa nossa zona
pra fazer filhos aos montes.

E depois de velho ir morar nos montes
de frente as palmeiras centenárias do nosso jardim.

Quero ver teu riso bobo
depois dos cinquenta e pouco,
podendo contar que isso
é tudo que a gente sonhou.

Que tudo isso é um sonho
que a gente viveu.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Medo de amar

Pensei em ser feliz e me lembrei de você,
do medo que eu tinha, tenho e vivo,
de te amar e escurecer...

E em cada momento só
numa dessas noites como a de hoje.

Uma dessas de domingo
ou de quarta feira bem cinza...
uma dessas que podia ser só nossa,
minha, tua e de mais ninguém.

É só nisso que eu penso,
estar, viver, pensar sempre por dois
estando junto de você...

E é assim que eu me perco dentro de mim mesmo,
e acabo procurando rosas pela cidade pra te dar.

Acabo dando voltas e mais voltas
e voltando sem levar...

Estúpido? Criança? Burro?

Não...

Existe até um sentimento nobre pra se cantar,
a todo momento paira esse medo.

É, tudo isso é só medo.
Medo de amar.

Flor

Ela tem nome de flor
mas não respira mais o amor.

Não se sabe se por medo
ou só vertigem.

Não se entende o que ela diz
mas é feliz e vive assim...

A perambular por corações
do quinto dos infernos ao sétimo céu.

Acabando com o inverno
armando o seu escarcéu...

Nas areias do leblon,
rindo, negando o tal futuro bom.

Ela tem nome de flor
mas vive só...

Ela tem tanto amor pra dar
que nada pode ser melhor.

sábado, 13 de outubro de 2012

Por nada

Pra sempre de repente é um tempo
nem tão distante de onde habito...

Escolhas por toda parte,
mentiras, chuvas de verdades,
em lugares que nada pode me tirar do rumo.

O mundo é menos cruel
do que dizem por aí...

E tudo é tão mais fácil
do que eu vejo.

E aí, o pra sempre,
apesar de você viver diferente,
de repente é um tempo conturbado.

Um momento feito das escolhas,
das tristezas e risadas...

Pra sempre é tão perto e longe
que eu prefiro viver feliz por nada.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Ponto fraco

Pequena, o que cê ouve?
Me diz se te faz feliz...
Esse balanço é tão a gente
é tudo que eu sempre quis.

Então solta o Tom na caixa e não abaixa, amor...
que a luz do sol já vem, levando a luz do redentor.

Vê se não enche e ganhe logo as ruas,
siga com o seu sotaque roto, morto
e o anel que eu te dei...

Lembre que hoje a noite é só meia lua inteira pra nós
e que não há voz que cante "nós" tão bem.

Também não há quem grite melhor...
quem conte assim os nossos únicos bens.

Os passos na lua deserta e as noites perdidas de alá,
você no meu baixo posando de star.
Trincada por aí, pisando torto no salto
pensando alto, cheia de irmãos...

E eu, largado no mundo...
vi que a menina mimada nem se parecia com todo mundo.

Comprei essa briga, te disse: me chama, me liga!
E em pouco, com os olhos eu já me entregava,
eu já não negava o meu ponto fraco.