segunda-feira, 20 de junho de 2022

Velho hábito

Desacato, destempero,
velhos hábitos,
reclamo, sofro,
tenho sofrido bastante,
em baixo volume,
por trás das estantes.

Somos falhos,
demasiadamente humanos,
e agora, improfundo,
dono de uma rasura que me arrebatou,
que me segurou e me enfraqueceu,
do alto desse nada,
direto desse lugar nenhum,
maldigo a vida,
como em um velho hábito...

Por destempero, desacato,
e por tê-la comigo,
trazê-la sempre comigo...

A esquecida face da realidade,
dos mundos imperfeitos,
das vidas miseráveis,
dos atos mais horrendos,
as coisas detestáveis.

Por destempero, desacato,
velho hábito de ter comigo, 
trazer comigo o inatacável,
fato acurado, o indiscutível...

Nós somos falhos
seres esfíngicos,
de simplórios corpos,
com desertos e labirintos,
com pegadas gélidas
e temíveis calores sísmicos,
forças telúricas e divinais.

Nós somos falhos,
por destempero, desacato,
por sermos simplórios e infinitos,
por sermos odiosos e magníficos,
por absurdos e pequenices,
misantropia, bom velho hábito.