terça-feira, 24 de setembro de 2019

Virar pó

Na falta de um milagre,
eu prefiro enfrentar a dor,
mas por vezes nem o dienpax pode me deixar aliviado,
preciso de um tempo, um tempo bem maior,
eu quero viver algo que nunca vire pó.

Fazer histórias tristes,
tirar um som Brasil,
destoar dos homens fúteis,
ter alma sempre febril.

Nesse tempo cor de nada,
cor de burro quando foge,
nessas décadas largadas,
dessa gente tão sem nada
que não sabe pra onde corre.

Eu quero falar do tempo,
das dores, e dos bares,
das casas de meninas fáceis,
e dos mais bíblicos lares...

Porque na falta de um milagre,
preciso enfrentar a dor,
mas por vezes nem ziprasidona
me livra desses maus bocados,
preciso de um tempo, um tempo bem maior,
pra digerir minha geração
e não querer mais virar pó.

Imagem do dia!


Doçura

Se eu fosse uma outra pessoa
e pudesse me encontrar
eu certamente diria, algo como;
não pare, não fuja,
não deixe o tempo te escapar.

E se assim fosse possível,
desapareceria na hora,
causando um efeito de assombro,
e arrepiando os passantes mortais.

E então viveria no limbo,
a pairar no espaço sideral,
em algum paraíso perdido,
sabendo que fui mais feliz.

Mas fosse uma outra pessoa,
ainda quereria ser eu,
e então certamente seria
uma versão de alguém
infeliz.

Sabendo desse resultado,
e de que a tristeza sempre vem comigo,
nos dias de todos os santos,
nas tardes de sol a pino...

Não quero ser outro alguém,
não posso ser mais feliz,
e ainda que seja possível,
prefiro manter-me insensível
não dando a doçura sua vez.

Imagem do dia!


Cheiro de veneno

Do sofá com cheiro de veneno,
hoje tenho pouco
ou quase nada pra falar.

Mas ainda lembro como fosse hoje,
do teu jeito de me entorpecer,
e gritar aos sete ventos
qualquer coisa que viesse assim,
como uma loucura,
um desaforo de momento.

Das cadeiras boas de dormir,
e do cinzeirinho de cobre,
do tempo longo de tanto faz
se já são três da tarde ou onze.

Nada por mim, tudo pra depois,
o tempo não é nada mais
que uma luz no horizonte.

Nada por mim, tudo pra depois,
o tempo não é nada mais
que uma luz que morre
ou nasce no horizonte.