terça-feira, 30 de agosto de 2016

Imagem do dia!


Caê

Meu peito derrete ao som das palavras mais doces,
e Caê me impressiona
mesmo depois de tanta repetição,
mexe com os agulhões do tempo,
faz parar tudo a minha volta.

São versos pra curar,
coisas que se diz pra quem se ama,
outras que são boas de separar.

E meu peito derrete,
minha carne trêmula se rende,
minha doença se retrai,
e o amor que há em mim abre os olhos.

Vez em quando eu preciso de palavras,
como de alimento,
separo o que gosto e o que desgosto,
às vezes consumo de tudo,
às vezes pareço minguar sem sentir.

Mas Caê, Caê me impressiona mesmo depois de todo esse tempo,
e eu o trago pra mim, trago pra junto dos meus sonhos,
rezo pra que aprenda a amalgamar esses ensinamentos,
transformar em peso vivo na minh'alma,
em fogo de inspiração toda e qualquer palavra,
peço pros deuses da vida, pro senhor das esferas,
adjuro qualquer compreensão, porquê eu preciso,
já não vivo sem, eu preciso das palavras,
umas palavras certas nunca ditas por ninguém.

Os meus anjos

Meus anjos mais velhos pedem pra que eu escreva,
querem que o peso dos meus ombros ceda,
sussurram em meus ouvidos as palavras todas que eu preciso,
eles querem meus olhos vivos, querem meu fogo da vida,
sentem aflitos que eu ando perdendo o brilho.

Meus anjos sabem o que fazer,
se debruçam ao meu lado e me rezam pra eu entender,
que a vida é leve e a alma eterna,
que o mundo pode ser doce,
e as noites muito mais ternas.

São os meus anjos que tiram o peso dos meus ombros,
e eu escrevo em forma de agradecimento,
preciso deles ao meu lado,
não sei enfrentar o mundo sozinho e calado,
ando morrendo a cada passo,
andei tão fraco, tão precisado...

Mas os meus anjos sabem o que fazem,
eles me amam, só eles me salvam,
me arrancam da tristeza, me fazem encarar o sol,
os meus anjos mais compreensivos voltaram,
somente pra me fazer voltar a vida,
somente pra me fazer amar melhor.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Imagem do dia!


Vê se te ajeita

Pra você que anda nesses cantos escuros,
nesses lugares imersos em dúvidas,
essas paradas suspeitas,
menina, vê se te ajeita...

Porque a vida cobra tudo nos trilhos,
ela te rouba o brilho e te devolve um vazio,
ninguém quer ser mais um,
e ninguém pode fazer essas escolhas por você.

Porque a vida quer sempre tudo nos trinks
e ela liga pros meios e também para os fins,
a vida é caixa de pandora,
ela é ódio e adoração,
tua vida é mais que uma passagem,
é uma herança, ecoa no universo,
junto desses versos que eu fiz pra ti.

Eu fiz pra você,
pra você que tem mania de vagar no escuro,
eu fiz e fiz com gosto,
eu cantei a noite inteira pra não esquecer,
porque a vida cobra tudo nos trilhos,
e há em mim o vazio de quem não soube andar,
eu fiz, e fiz sorrindo,
pra não ver o brilho dos teus olhos se apagar.

Fiz pra você que anda agora nesses cantos sombrios,
você que ainda tropeça nas veias verdes da cidade,
pra você que ainda não sabe, mas que morre de saudades,
eu fiz, e fiz sorrindo,
fiz pra não ver o brilho dos teus olhos se esvaindo,
me escapando por entre os dedos,
se mandando por interesses escusos,
desaparecendo com você no escuro,
desaparecendo com você no escuro do mundo.

Choque de realidade

A luminosidade latejante
e tormentuosa do impiedoso astro-rei,
hoje disseca os poros,
cega quando chega nos olhos...

Covardia.

Penso que deveria ser decreto,
domingo é dia triste!

Sim, deveria chegar aos ouvidos de todos,
estar sempre em domínio público,
todo domingo é sujeito a intervenções violentas
para deter qualquer sintoma de alegria.

E veja só, é covardia,
domingo não pode fazer esse azul,
Deus precisa saber disso...

A não ser que seu time ganhe,
que a sogra empacote,
que você acerte os seis números da loteria!

A não ser que o dólar caia,
que a mulher subindo a escada esteja de saia,
que você abandone ipanema e vá viver na marambaia...

Tendo essas e não outras muitas situações em curso,
penso que aceito viver um domingo solar.

De resto, preciso é de chuva,
no Rio é dificil;
mas fog, saca?

É, ressaca mesmo,
preguiça de acordar,
horror de abrir os olhos,
asco de toda vida falante e muito próxima.

Domingo é o dia oficial
de todo sentimento misantropo,
é o dia do alívio,
de sentir a leveza de não ser importante,
de não ser ninguém, ser poeira das estrelas,
a doença do planeta, o lixo da galáxia...
domingo é dia de choque de realidade.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Imagem do dia!

Da esquerda pra direita: Murilo Mendes, Anibal Machado, Jayme Ovalle, Manuel Bandeira e Augusto Frederico Schmidt

Um dia

Ando perdido de mim mesmo,
tenho sentido um peso nos ombros,
são os pianos que carrego;
e cruzes, eles já são tantos.

Tenho sentido um vazio,
coisa de corpo e de alma,
minha mente não está clara,
os pensamentos voam, me escapam,
e não há nada que eu possa fazer.

N'outros tempos eu me receitaria umas boas horas dos meus poetas,
costumava funcionar, costumava levantar o meu astral,
mas hoje, hoje receito apenas o silêncio,
e recito minhas tristezas em voz alta,
soluço e revezo o choro de criança
com o medo de morrer assim, aqui, sozinho.

Ando realmente perdido, vivo como se apenas contasse os dias,
como se esperasse tudo acabar,
tudo virar pó bem na minha frente,
mas, sigo em frente,
não enfrento, reluto, me interno em sofrimentos,
enterro minhas vontades, eu seco, a fonte seca,
já não sei se duro, se vivo ou se morro,
não sei se duro, mas não me retiro fácil daqui,
só vou, um dia,
num surto, quem sabe, de noite ou de dia,
não sei... mas vou.

Personagens

Já não tiro do papel meus acidentes de verão,
matei meus personagens num dia que chovia,
em boas horas de tédio
onde eu serenamente me consumia.

Matei Maria Fernanda,
e eu a amava tanto,
morreu em minhas mãos,
morreu de inanição.

Era tristeza que ela sentia,
e eu não podia escrever diferente,
os olhos dela em mim não mentiam,
era de tristeza que ela morria,
e eu não podia escrever diferente.

Matei meus personagens mais amados,
soterrei todos eles nas areias do meu mais profundo esquecimento,
eu deixei pra trás, eu não pude continuar,
eu não era bom assim, precisava parar,
eu precisava viver umas coisas mais,
reviver, reviver umas coisas más.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Imagem do dia!


A culpa

Ando pensando em como você destruiu a sua vida,
e em como também poderia ter destruído a minha,
ou eu é que talvez devesse ter te salvado,
já não sei no que pensar, já não sei o que faço.

Eu vejo nos meus sonhos os seus olhos vermelhos de quase 10 anos atrás,
e choro por dentro, ouvindo ele cantar que homem não chora,
já que hoje, só existe mesmo essa nossa intimidade entre estranhos pra viver,
eu não te reconheço mais,
e nem sou aquele que você deixou pra trás.

Vez em quando me lembro das coisas,
como em flashes, há dias em que tudo me aparece de repente,
os móveis, o cinzeiro, a grade da varanda,
as suas amigas chatas, o seu jeito de pidona,
penso em tudo que foi ruim e ainda sinto falta,
penso no homem diferente que eu seria ao seu lado.

E então, ouço de novo aquele disco em que ele diz que homem não chora,
e não chora mesmo, mas eu choro por dentro,
eu penso em como você destruiu a sua vida,
eu lembro dos olhos vermelhos, dos sóis poentes que vimos,
dos dias nascendo, das matinadas que tanto queríamos,
lembro das voltas pra casa, das casas, do alto, da serra, da barra,
lembro dos tetos, dos choros, das brigas, de todas as desgraças também,
e não entendo, eu não consigo aguentar...

Como foi que você fez pra destruir a sua vida?
Eu preciso saber, eu preciso entender,
pra aceitar que a culpa não foi minha.

Imagem do dia!


domingo, 14 de agosto de 2016

Um susto

Um susto, meus livros na estante não significam nada,
minhas poesias, todas essas palavras,
todas as meninas cantadas,
isso tudo não me diz mais nada.

Fui tomado por um vazio tremendo,
uma impossibilidade, uma falta de norte,
um anseio pavoroso,
coisa que nunca tinha me acontecido.

De repente estava destinado
a um papel pequeno no mundo,
e até aí, perfeitamente aceitável,
mas era mais do que isso,
eu parecia destinado ao esquecimento,
a desimportância,
destinado ao apagar das luzes.

Um surto, não sei,
não respondo mais por mim,
a família, os amigos,
todas essas preciosidades,
todos os meus cantos pela cidade,
isso tudo já não me diz mais nada.

Fui tomado por um sentimento terrível,
um tipo de ausência,
uma tristeza profunda,
uma dor nos olhos,
nos ombros...

Como pesa essa existência,
como é forte essa deslealdade que traz o tempo,
como é grande o coração para que caiba tanta dor,
como é difícil ser osso e carne,
como é sofrida essa passagem.

Um susto, sim,
e tudo isso já não me diz mais nada.