domingo, 26 de abril de 2020

Medos

Um pouquinho de tudo que eu amei
está nas lágrimas das noites em que eu ando só,
está em momentos de muita luz e pouca paz.

Nas coisas de que eu fujo
nos medos que eu tenho...

De perder a inspiração,
de ter câncer nas mãos,
de não viver o suficiente
pra ganhar um epitáfio comovente.

Medo da poesia etária,
de perder a praia,
de desencantar e esquecer o pôr do sol,
de nunca mais cantar "acenda o farol!".

Medo de sentir que o fogo apagou,
de nunca mais gritar gol.
Medo de não morar em Ipanema
e morrer velho sem você de meu esquema.

Medo de tudo não ser como eu pensava,
de ver o mundo me negar tudo o que eu acreditava,
tudo que eu tinha e não posso mais ter,
tudo que eu quis mas não vou viver.

Um pouquinho de tudo que eu amei
me mata, todo dia!

Mata de saudades, de remorso,
de querer que fosse diferente.
Matam as vontades que tenho
e até as que não tenho mais...

Matam porque eu morri quando deixei,
morri pra quem deixei pra trás.

Imagem do dia!

Villa de Ipanema - 1907

Não se desespera

Ela anda me deixando louco,
quando vem e quando vai
nesse escuro...

Ela tem um jeitinho pra frente,
totalmente diferente,
é dessas que nunca deixam faltar assunto
e eu sou só mais um viramundo.

Quando diz que é hora, ela me arrasa,
me chamando, me enganando,
com olhos impossíveis de ressaca,
Capitu pós-moderna,
mas ainda obliqua e dissimulada.

Essa menina não é brincadeira,
capotando na carreira
pelos dias...

Ela tem o tal do jeito manso,
que acalma e desnorteia,
é daquelas que não querem flores,
faz tudo por sabores...

E quando é hora de ir embora
ela nunca vai,
ela chora e ignora todo tempo,
porque os dias não à dizem nada,
e as noites nunca à assustaram...

Porque ela não tem medo de viver,
e tem esse jeito pra frente,
de ser diferente,
o tal do jeito manso
de quem não quer chegar...

De quem não se desespera,
e não tem pressa pra ir
nem pra voltar.

Juramentos

É certo que fui desatento,
eu não vi os movimentos,
dos astros,
das luzes, da vida...

Seus olhos são juramentos,
nem parecem capazes de chorar,
são lindos azuis
que não viram noite nunca.

É certo que fui relaxado,
fui besta, escutei os outros,
não pude ser sincero
como eu sempre quis.

Mas quando você me aparece,
ainda é sinal de tranquilidade,
eu te vejo entregando flores
nos meus sonhos...

Nos sonhos mais quietos,
nas noites bem dormidas,
como uma divindade
desanuviando as minhas vistas...

Entregando as benditas flores,
coloridas flores,
sorrindo pra toda gente,
quase cínica...

Com os olhos mais lindos
que eu já vi.

É certo que fui desatento,
eu não vi os movimentos,
dos astros,
das luzes, da vida...

E a cidade pra mim se desfez,
junto de você...

E junto dos azuis, às avenidas,
junto dos sorrisos,
todas as praias infindas,
junto dos seus peitos,
foram as pedras minhas.

E os olhos mais lindos
que eu já vi.

Imagem do dia!