quinta-feira, 27 de junho de 2019

Tristeza lusitana

Da saudade que sinto de mim,
hoje, ninguém pode me curar.

Dos amores que senti e guardei pra mim,
hoje, ninguém pode me curar.

Dos males que fiz,
das dores que me vitimaram,
dos olhos cerrados que me encararam com desprezo,
e da culpa, ah a culpa...
hoje, ninguém pode me curar.

Mas quando o tempo puder passar sem que eu sinta,
e as areias cobrirem todas essas coisas doídas,
e o azul do céu mais límpido não me ferir...

Quando eu puder chorar a falta das tijucas,
e alimentar a mata suja,
adubar também essa terra infesta dos antepassados lusos.

Aí então, quem sabe,
me sentirei curado,
com toda penitência deposta do peito,
e a tristeza lusitana, enfim,
deixando minha alma amargurada.

Imagem do dia!


Somos nós

Há de se viver o mundo
enquanto a esfera que é,
o adorno que é
pros outros céus por aí.

Há sempre que se acreditar na fórmula da paz,
na fórmula do amor,
enquanto a esfera que é,
o adorno que é
pros mil céus por aí.

Há de sentir-se a vontade,
sentir carinho e amor,
por cada grão,
por cada pedra e cada flor,
pelos caminhos, pela vida,
e pelo amor de Deus...

Deus enquanto esfera,
enquanto grande mistério
que nos é capaz de ser,
criar, e amar.

Há de se reconhecer assim,
como um lampejo, uma explosão,
um grande acúmulo de amor
que por muito fora sufocado...

E então, por graças, por inspiração divina,
somos nós, esferas,
seus filhos, filhos do amor,
irmãos das pedras, dos grãos,
das flores e da vida,
somos nós, senhores, somos nós.

Meia luz

Eu tive um sonho com você,
sonhei de novo os seus azuis,
e acordei chorando,
sem entender muito do mundo...

Me doeu,
doeu doído,
foi tão triste,
perturbador...

Te vi com umas cartas na mesa,
um baralho de tarot,
na frente de uma feiticeira holandesa
que no seu futuro previu muito amor.

Por isso, benzinho,
largue os cigarros,
e volte logo da europa,
esqueça Paris e Milão,
abstraia esse mundo da moda...

Voe de volta pra mim,
que o que foi nosso não será desfeito,
vamos fazer uns herdeiros,
com os olhinhos claros
de quem não tem jeito...

Como nós fomos,
como somos.

Hoje eu acordei chorando
e sonhando os seus azuis,
eu acordei me afogando no mar
que nos separa da meia luz...

Do jeito que gostamos,
jeito que somos,
e permanecemos...

Sombras.