sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Passionais

Pego emprestada a tua dor
pra ir dormir em paz no escuro,
pego e reviro na cama
pensando se você me ama.

Ah, bom saber,
bom lembrar de vez em quando,
que eu sou fruto dos teus
delírios passionais,
que eu sou só mais um
dos teus desejos mais carnais.

Pego emprestado do mundo
mais um pouquinho de escuro,
porque eu preciso de sombras,
pra vagar nos escombros
do que um dia eu chamei de coração.

Pego na marra isso tudo,
divido, reparto, distribuo,
eu saio por aí pra me perder,
pra esquecer que eu não dou futuro.

Ah, tão bom saber,
bom lembrar de quando em vez,
que eu não sou nada pra você,
não sou nada, vezes nada,
absolutamente nada.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Imagem do dia!


Temperamental

Engoliu a seco logo que acordou
mais um dia de fevereiro sem ventilador,
desceu todas as escadas do prédio,
o elevador estava quebrado,
ele mal podia acreditar como era azarado.

Mais um dia frio em frente a televisão,
chove canivetes e não é chuva de verão,
o terno na janela molhou e ele nem viu,
amanhã vai odiar todos os dias de abril.

Dezembro chegou, ele consertou o ventilador,
jurou que seria um homem de mais amor,
e aos pés da menina mais querida, ajoelhou,
fez o grande pedido, e ela não aceitou.

Engoliu a seco só no dia seguinte,
desceu as escadas vestindo seu terno de mais requinte,
parou no décimo andar porque aquele era o do vizinho
que reclamava o tempo inteiro e nem era velhinho...

Aquele era um dia frio, um dia cinza especial,
incomum e detestável, e ele estava muito instável,
abriu a porta do rapaz com apenas um chute certeiro,
mijou no tapete, pintou tudo de vermelho,
pensou então que só faltava um final perfeito...

Se jogou da sacada naquele sábado frio,
não queria mais nada, sujou o meio fio.

Se jogou da sacada naquele sábado frio,
não queria mais nada, sujou o meio fio.

Voltar pra lá

Ainda tenho lapsos muitas vezes,
não sei porquê, mas funciona como vertigem,
tudo ganha cores às vezes,
as coisas ficam menos feias,
e a cidade menos nociva, as pessoas mais amáveis,
e o ar mais puro e fácil de respirar...

É uma coisa muito esquisita,
dá de repente uma tranqulidade,
sente-se a pureza escapar por entre os dedos,
e os medos, os medos nem existem mais.

É como em cena de cinema,
mas cena de filme antigo,
filme barato e bonito.

Eu ainda tenho esses lapsos,
mas me dói pensar que eu vivia permanentemente nesse estado
e que deixei o mundo me tirar dali...

E agora esqueci como faz pra voltar pra lá,
agora eu não sei mesmo como é que faz pra voltar pra lá.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Dores no joelho

Hoje há uma fonte inesgotável de você em mim,
hoje há um monte de motivos pra desandar por aí,
pelas lembranças,
pelas andanças, pelas tranças,
e as pajelanças pras minhas dores no joelho...

Hoje, assim como ontem,
ainda vivo crendo,
ainda penso que o amor é como o oxigênio,
e por isso não esqueço,
eu quase sempre me lembro,
da saudade, da vontade,
da falta e dos desastres a nossa volta...

Hoje há uma fonte inesgotável de você em mim,
e ainda há um monte de motivos pra desandar por aí,
por mim, por nós,
por toda essa vida.

Acredite

Dos dias infindos de ressaca,
e das noites imensas sem porquê,
tire um pouco de vida pra viver a semana,
guarde um pouco de amor,
tenha qualquer desejo alquímico e misture tudo...

Diga aos outros que não entende,
e que apenas faz e pronto,
diga que seu sorriso não se explica,
e que a agonia que te viram sentir
era miragem, era só de sacanagem.

Não encene qualquer papel,
mas aceite do mundo uma ou outra desilusão
pra poder molhar os olhos.

Tenha fé nos céus, nos deuses,
nas luzes inexplicáveis
que passam pelas nuvens à noite.

E acredite cegamente na terra,
nas forças telúricas,
nas pegadas vindas de todas as direções
que marcam as areias...

Acredite nelas, nas mulheres,
nas meninas de olhos claros,
e viva.

Imagem do dia!


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Menina lua

Ela é menina lua,
sabe bem o que a noite é,
o retiro dos folgados,
lugar de exaltação dos loucos,
viciados, dos poetas sem razão...

Ela sabe bem de tudo,
sabe que a noite não mente,
e o perigo não está nela
mas em todos os seus residentes.

Ela é menina lua,
não tem medo de andar no escuro,
e diz ao mundo cão, hoje não,
que é noite de lua cheia...

Com os pés num riacho límpido
e os olhos voltados pro céu,
com o vento nos cabelos,
rezando pra uma lua cor de mel.

Ela é menina lua,
sempre cheia de palavras fáceis,
não nega nunca ao que veio,
se revela com os olhos agéis.

É de alma lunar,
vida mansa,
de sombra e onda,
de sangue e qualquer coisa,
qualquer coisa que a noite dá.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Louco de pedra

Tudo que há lá fora
já não faz a menor diferença,
o sol ou a chuva,
dias de frio e calor...

Porque você sabe que eu sou
louco
de pedra, com as pernas viradas pro ar,
louco
de pedra, com as penas no bolso preparado pra saltar...

Pra fugir desse mundo,
e forjar novo assunto,
só pra ter o que falar
pros olhos mais lindos das meninas do lado de cá.

E como um Deus, deslizar, sem sentir nenhum cansaço,
fulgurar pelas pistas sem nenhuma ameaça,
ter em mim, sentimentos,
e poderes desastrados,
sobreviver pra contar,
para os filhos e netos...

Sem fugir desse mundo,
inventando novos assuntos,
só pra ter o que falar,
pra conquistar as meninas mais lindas...

Porque elas sabem que eu sou
louco
de pedra, de vida incerta e palavra sincera
como ninguém fará igual,
louco
de pedra, pintando aquarelas, vivendo nas telas
de um mundo pouco habitual.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Imagem do dia!


Dura demais

Como sempre quis, já vivi um amor sofrido,
e se ser feliz é triste,
a tristeza nos faz bem...

Hoje eu vejo o mundo
com olhos de esperança
e guardo minha tristeza
pra viver o carnaval

Os meus poetas dizem
que a vida é só beleza
mas eu insisto ainda
em não acreditar nessa besteira

Como sempre quis, estou vivo por milagre,
e ser feliz agora
já parece ser tão tarde...

Hoje eu vejo o mundo
com meus olhos de desastres,
e vomito minha tristeza
pelas ruas da cidade

Porque os meus poetas todos,
eles estavam errados,
e a vida real é
dura demais pra ser verdade.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Imagem do dia!


Vida sem graça

Trágico momento, me levantei,
a luz do sol encoberto pelas nuvens incomoda,
o dia triste que se ergue é fatidicamente
anunciado pela barulheira da rua,
o circo se arma, a vida tem dessas...

A vida tem desses dias,
quando o peso dos ombros é assustadoramente demais,
mas a engrenagem permanece a girar,
tudo insiste tristemente em apenas continuar.

E como a vida,
como o mundo,
o ser,
precisa ser insensível
e permanecer de pé...

É preciso morrer e andar,
morrer e continuar vivo,
é preciso às vezes não ter brilho,
não ser brilhante,
não ser ninguém,
e escolher vida ruim pra si...

Dizem que é preciso vestir um terno
e de sol a sol fazer só o que te mandam,
é preciso trabalhar, fazer dinheiro,
é preciso pensar nisso o tempo inteiro,
e ter andar de moço próspero,
esquecer o porte de sem jeito.

É preciso não viver as garotas da praia,
morrer sem olhar as mais belas vistas,
é preciso às vezes esquecer que se viveu melhor,
não ser saudoso,
não ser ninguém,
e escolher vida sem graça
pra não morrer sozinho
como os velhinhos da praça.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Bem longe daqui

Falam tanto do mundo por aí
que acho que hoje só não sabe tudo
quem não quer...

Teorias e café, antes de ir dormir,
uma bala e um revólver,
pra ser o próprio mártir.

Como pode a beleza assim
se dividir,
se o amor,
como o mundo,
é um todo,
é tudo...

Como pode o que é lindo
estar tão longe do que é certo,
se o amor
quase sempre,
é inflamável e indiscreto.

Falam tanto sobre tudo
que eu sou mudo porque quero,
e quando não penso em nada,
quando eu consigo não pensar...

É que eu sou como um Deus,
é que eu vivo mais,
é que eu sou como um Deus,
e consigo estar
bem longe
daqui.

Imagem do dia!


Futuro

Só dou futuro de quinta a domingo,
é quando eu vivo e elas querem mais,
e eu me esquivo de todos os vícios,
é como eu atravesso a tristeza dos temporais

Eu sou sozinho nesse mundo bobo,
eu descomplico tudo e um pouco mais,
se vivo muito, vivo muito louco,
é como eu faço pra não me entregar.

Nunca jurei um amor maior
do que o que sinto por mim,
nunca esperei de alguém
amor maior que o que tenho por mim.

Só dou futuro de quinta a domingo,
é quando eu vivo bem e elas querem mais de mim,
sempre me esquivo de todos os vícios,
é como eu faço pra não me matar...

Porque eu sou sozinho nesse mundo louco,
eu descomplico pra não enganar,
e se vivo muito, vivo muito louco,
é como eu faço pra não me matar.

O amor dos seus olhos

Pequena do cabelo amarelo,
seu sorriso é como um sol sincero,
céu sem nuvens,
dia limpo, dia lindo...

Sinto seu olhar me consumindo,
e eu queria tanto ter pra mim o amor,
ter pra dar e dividir,
ter pra mim, pra poder sentir,
eu queria ter o amor dos seus olhos.

Já não lembro mais a cor do seu vestido
naquele dia claro em que falamos de ter filhos,
por sorte ainda tenho a sua voz comigo,
cantamos tantas coisas boas por aí.

Eu briguei com o Chico há tanto tempo por sua culpa,
não posso ouvir nem pra ver tempo passar,
eu já não sei se o que vivo é mesmo o fim da história,
ou se ainda temos alguma lenha pra queimar...

Em noites frias vivo os seus problemas,
eu fecho as portas mesmo sem o vento incomodar,
e quando ligo a televisão na sala,
eu quase posso ouvir você vir reclamar.

Pequena do cabelo amarelo,
o seu sorriso era como um sol sincero,
céu sem nuves,
dia limpo, dia lindo...

Queria ter seu olhar me consumindo,
queria tanto ter o amor pra mim,
pra dar e dividir,
pra mim, pra poder sentir,
queria ter o amor dos seus olhos.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Imagem do dia!


Um amor qualquer

Ela acabou de acordar
são duas horas e nem quis saber,
o sol que há lá fora não quer mais se pôr
e ela só diz pra eu me deitar também.

Chove há duas semanas,
e ela não quer carnaval,
as praças e os bancos,
os gramados e chafarizes,
são todos tão tristes.

Ela acordou muito antes de ir dormir,
e ainda saiu pra ver o mar,
me parece que essa menina
não bate muito bem,
com o frio que faz lá fora
ela vai gripar...

Ela não vive igual a ninguém,
ela só faz do jeito que quer,
ela é tão triste e tão feliz,
ela é sempre o maior amor,
e um amor qualquer.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Atravessado

Essa noite um sentimento antigo me atravessou,
me tirou da cama num pulo,
foi como um antigo capítulo que eu já havia assistido,
e foi como antes,
foi quando eu fechei os olhos e vi os seus,
quando seus azuis me molharam com as gotas do mar da tua alma,
quando suas lágrimas por mim se derramaram.

E foi como se eu houvesse morrido,
e o mundo inteiro estivesse parado,
os carros da sua rua,
a brisa do mar nas janelas,
a dança da copa das árvores,
as árvores, até elas.

Foi essa parte que me atravessou,
foi bem aí que a vida se acinzentou, e eu cresci,
foi aí que o Rio mudou, que a cidade deixou de bastar,
que os cantos viraram quaisquer cantos,
e as pedras quaisquer pedras,
como se tanto fizesse a morte ou a vida,
e o sumo do teu choro de menina,
me tirasse toda vida colorida.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Imagem do dia!


Um amanhã

Ando cada vez menos parecido comigo,
hoje passo pelos dias como se não houvesse amanhã,
vivo me esquivando das felicidades da vida,
vivo pra esquecer que você ainda vive...

Bem aqui ao lado, no lugar das nossas estacas,
logo ali no canto, onde víamos o sol acordar,
bem aqui do lado, nas areias do nosso leblon,
logo ali no canto, onde passamos todo aquele tempo bom.

E os dias de céu nublado
vendo o mundo da janela do seu quarto,
hoje são as lembranças mais doces que tenho da vida,
são as coisas mais bobas,
tão boas, mas bobas demais.

Eu ando cada vez mais desacreditado
só arrasto meu corpo roto pelos meus lados sagrados,
eu vivo a cidade, eu penso em esquecer,
eu vivo demais pensando em você...

E os dias de céu nublado
passando tão longe dos seus passos,
são dias iguais, que tiram minha paz,
que levam pra longe
tudo que eu tinha antes...

Bem aqui ao lado, no lugar dos postos sagrados,
logo ali no canto, onde o sol me ensinou a viver,
bem aqui do lado, nas areias de ipanema,
logo ali no canto, onde eu vi meu primeiro poema.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Tudo diferente

Pelas noites que eu faria quase tudo diferente
há tanta coisa, tanta gente,
que é difícil de explicar...

Hoje que é tudo mais claro,
ainda me enrolo, me complico,
e como adicto eu me aplico
pra elas não me esquecerem mais.

E pelas noites que eu faria quase tudo diferente,
tanta coisa, tanta gente,
que eu nem sei porque mudar...

E hoje eu vejo como um direito,
eu prefiro tudo do meu jeito,
não me enrolo e nem complico,
eu me aplico feito um doente,
porque nada, nada deve ser diferente.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Imagem do dia!


Aniversário de João

Hoje é aniversário de João,
e é dia de algum santo com certeza,
mas João que é homem feito,
que é senhor e bem direito

Ainda é o homem dessas bandas onde vivo,
João do rio, e da nossa bossa,
desafinado em seu banquinho,
um tímido infalível

Hoje é aniversário de João,
e é dia de saudade com certeza,
mas João que é homem feito,
um senhor muito direito,
não vai comemorar,
não quer comemorar...

Ele vai pegar seu violão,
rezar por silêncio, como não?
E vai tocar sozinho,
bem afinado, sim,
triste e desalmado assim,
como nunca foi...

João vai tocar seu violão
pra ninguém ouvir,
buscando a perfeição,
sem ninguém ouvir,
como fosse um grande feito
tirar som pros azulejos,
os sons mais perfeitos,
num cenário de delírio,
um som frio...

Hoje é aniversário de João,
e do santo da saudade com certeza,
se esse santo existir,
se por acaso existir... digam que chega.

Só saudade

Embora você sempre diga
que tudo corre muito bem
meu coração num outro ponto
faz cena só por atenção

Meu amor, o que há em mim
vive em frangalhos,
e não há muito lados
pra onde eu possa correr

No meu corpo
cada pedaço é uma dor,
e eu não divido mais,
eu quero só pra mim

E embora você sempre diga
que tudo corre muito bem,
meu coração num desespero
faz cena por sua atenção

Meu amor, o que há em mim
é só saudade,
e não há muitas partes
onde eu fui feliz.

Imagem do dia!


segunda-feira, 24 de julho de 2017

Livre

Desando pela cidade,
desabo em qualquer lugar,
perdido por aí,
indo em direção ao mar

A noite molda caráter,
faz você desaguar,
os cantos proibidos
são os que sempre voltam a chamar

Desisto de mim mesmo,
desato todos os meus nós,
tiro meu time de campo,
eu preciso de descanso

Ser livre dá trabalho,
parece que vivo preso,
preciso descansar,
eu preciso de um bom apego

Torço meu cacho com a luz do dia,
é hora de voltar pra casa,
recolho as minhas asas,
preciso me encontrar

Me arrasto até onde consigo,
eu marquei hora comigo,
ser livre dá trabalho,
mas não reclamo, eu só me viro

Não posso lembrar

Eu não posso lembrar que te matei,
preciso deixar que passe,
preciso que não haja êxtase,
que não me acelere os batimentos,
que a sensação esteja permanentemente no passado.

Eu não posso lembrar que ainda hesitei,
que eu estava alterado,
que o mundo girava e tudo estava confuso;
sempre vivi em outro fuso,
sempre vivi do meu desinteresse crônico por tudo,
até que te encontrei,
e então eu te matei,
eu te matei para que passasse.

Para que a vida em mim crescesse,
que houvesse uma outra descoberta,
e que o estado de alerta em que eu fiquei fosse mais longo,
para que a tua alma que me assombra fosse embora,
e que as tuas falsas falas que ainda ecoam
fossem logo pra um outro plano,
para que fosse possível que eu apenas passasse um pano
e esquecesse que matei você,
que te arranquei da vida,
que te expulsei da minha, que te esqueci.

Por isso eu não posso lembrar que te amei,
que te matei, que amei demais, não posso lembrar,
lembrar que te amei, e que hesitei,
que esqueci porque não posso nem lembrar,
não posso permitir, preciso que esteja morta,
mas não matei, eu hesitei, eu só amei,
amei, amei demais.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

O resto do mundo

Se você enxergar em mim
a luz bonita de uma paixão,
não se engane não,
não se deixe enganar...

Eu sou da vida triste,
pertenço à sombra do mundo,
aos dias mais turvos,
e as meninas de família.

Mas se por acaso você enxergar em mim
o brilho infalível de uma paixão,
não se engane não,
não se deixe levar...

Que eu sou mesmo sozinho,
não tenho pra onde correr,
pertenço as trevas totais,
e aos versos que faço pra sobreviver...

Por isso não há brilho nenhum,
só a beleza do homem triste,
só a beleza de um dia sem sol,
de um carnaval debaixo de chuva,
de um amor de verão se mudando pra lua,
das meninas semi-nuas desfilando no calçadão...

Por isso se você enxergar em mim
a luz bonita de uma paixão,
é só o resto do mundo,
o resto do mundo refletindo como uma paixão.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Segunda-feira

Não me dê bom dia, não mande eu me apressar.
Não me pergunte as horas, nem me acorde pra jantar.

Não fale comigo, não me mande levantar.
Não me peça nada que eu precise me esforçar.

Domingo maldito,
segunda feira tristeza.
Não me note,
sou só um lugar vazio à mesa.

Não conte piadas, não pise forte no chão.
Não faça ruídos, não arranhe um violão.

Não fale de futebol, não me cubra com lençol.
Não entre sem bater, não bata só pra me ver.

Domingo maldito,
segunda feira tristeza.
Não me ligue,
e tirem as facas da mesa.

Não conte dias e meses, não espere interesse.
Não diga nunca o que devo fazer.

Não me venha com teorias, não me fale das suas tias.
Não pense que eu quero saber.

Domingo maldito,
segunda feira tristeza.
Não force o decote,
ainda sou fã de pureza.

Não esteja sorridente, não estou nem pro presidente.
Não sou obrigado a viver.

Não fale que sou mau humorado, não preciso ser engraçado.
Não pense que eu vou ceder.

Do passado

Ela saiu de um sonho pra ser real,
escolheu não ser do passado

Mas foi somente por uma noite,
por meia manhã

Uma chuva,
bons risos, uns chopes,
trezentos metros de pés trocados,
e uma despedida

Foi assim porque ela quis,
porque ela escolheu que fosse,
e eu fui

Eu fiz como nos sonhos,
nos sonhos que se repetiam no passado.

Imagem do dia!


Caju

Trilhas previsíveis
nos nossos álbuns roubados do Barão,
e os desacatos no baixo, a "boa vida",
o "maior abandonado"

As melodias tatuadas,
o rock'n'geral, a vida nos supermercados,
e toda aquela lucidez derramada pelas calçadas do jardim em baixo tom,
as tiradas sem vergonha, as fugas e desculpas
roubadas de Caetano, Chico, e João

Os Novos Baianos e as novas paixões,
encontros por acaso pela praia,
o tempo pregando peças,
levando os seus bordões

E todos os passos cantados,
esses que nunca foram palpites em vão,
são vícios angariados
pela nossa falta opcional de instrução

"Tudo é amor, mesmo se for por karma..."

Tudo é amor, nessa nossa lua deserta, exagerada!

E todos os passos cantados
nunca foram mesmo palpites em vão,
são vícios angariados,
pela nossa falta precoce de crença em sermão

Aceitando doces de estranhos,
em ruas escuras, na calada da noite,
trincando e esquecendo emoções

"Leve, como leve pluma, muito leve, leve pousa..."

Caminhando nas calçadas de pedras portuguesas quebradas,
tanto ou mais quanto os nossos jovens
e não menos portugas corações...

Que pra sempre vão gritar cegos; que somos cobaias,
pares complementares, incorrigíveis em nossa carência sem igual,
somos dois pra amar e cantar, reivindicar em dueto,
um trocado pra ser "carente profissional".

O inverno

Acordei cedo pra dizer pro vento
que você não é mais meu amor,
eu vi nas cartas, nos búzios,
nos seus olhos

Eu vi estampado na face mais pura,
na doce entrega do coração

Eu vi o amor se esvair, vi sumir,
na neblina e na canção

E então acordei pra dizer ao vento,
e pedir por favor,
pra trazer novo amor
pra eu passar o inverno.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Imagem do dia!


Canalhas

Essencialmente magros, os canalhas nos rodeiam,
choram, coram, fingem amor, dor e ciúmes,
roubam, matam, desfiguram,
tem a carne fraca,
e a moral intacta como a de um cristão.

Vivem vida boa, boa vida mesmo,
de televisão, vida de filme bom,
sem miséria, sem tempo ruim,
vida de quem tem dom.

Essencialmente magros, todos tem ossos fracos,
sofrem demais, vivem quebrados,
morrem sozinhos, e como os passarinhos,
tão frágeis, tão pequenininhos,
por vezes são tristes demais.

Canalhas por toda parte,
canalhas na internet e na tevê,
canalhas nos jornais,
canalhas pelas ruas pra todo mundo ver...

Essencialmente magros, eles nunca morrem de fome,
por menos matam homens,
por pouco vivem muito, vivem demais,
canalhas, choram, coram, fingem amor, dor e ciúmes,
roubam, matam, desfiguram,
tem a carne fraca,
e a moral polida, intacta como a de um bom cristão.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Interno

Meu contínuo fado pessoal
estremece com a possibilidade de felicidade,
esconjuro essa plenitude burra de minha vida,
essa coisa do sorriso fácil e da alma vívida.

O escuro parece ser mesmo o meu lugar,
e meu corpo nega toda e qualquer investida à luz do dia,
minha sina parece ser
apenas viver no meu lugar, apenas ficar por lá.

O fado não pode terminar,
os meus versos mudos não devem acabar,
meus versos versados pelos olhos cheios de lágrimas devem continuar,
persistem, revivem, apenas devem continuar.

Pois a palavra é meu grilhão,
o sofrer meu carcereiro,
e eu, um interno satisfeito.

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Imagem do dia!


Castigo

Não conto minha vida pra você,
e tem tempo que eu penso numa desculpa,
pra chegar com os meus olhos afogados,
e te encher com os meus dilemas imorais.

Eu sinto tanta falta de você,
dos olhos verdes, do diabo,
e do arpoador...

Parece que eu vivo longe,
muito longe de você,
e o mundo cada vez mais apertado
me assombra com o sentimento
de que eu preciso te ver...

Pra contar da minha vida pra você,
e dizer que você não pode casar,
porque existe um dilema no meu peito,
e que sem você não vou solucionar.

Eu sinto tanta falta,
preciso te dizer,
eu sinto muito a falta de você,
e o mundo anda cada vez mais apertado pra nós dois,
pra tudo que eu tenho aqui comigo,
pra tudo que eu tenho sentido por você,
e agora até parece castigo,
sem você tudo parece até castigo.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Portugofilosófico

As rosas secam nas paginas amareladas
dos seus versos preferidos...

E aqui de cima das pedras hoje eu vejo que as areias
estão mais brancas que o normal,
e as minhas lusitanas na canela,
gritam a saudade de um outro carnaval...

Porque ainda que ela respire longe e viva outros ares,
ainda que ela só pise leve por aqui pra eu não notar,
os cantos dessa casa e as ruas desse lugar
guardam aqueles passos,
guardam esses rastros que não me pertencem,
e que só me enchem de saudades.

São pontos pra ninguém botar defeito,
coisas tomadas e deixadas por pressa e despeito,
objetos largados que só fazem o efeito contrário,
são lembranças dos tempos de rei,
são os dias de sumiço riscados no quarto.

E mesmo que brindado com esta conformada forma de viver,
com esse jeito omisso, pacato,
de aceitar e pronto,
de levar a vida, ser feliz e ponto...

Não há nada nesse mundo que me assuste mais
do que não poder contar e cantar
o meu tropeço nos sonhos dela...

Nada que me assuste mais do que ver os anos
jogando outras cartas no baralho,
me tratando de otário e sumindo com tudo que eu amei.

Esmerilhando as dores mais lindas,
jogando no sol pra curtir,
fazendo elas acreditarem que vão se dissolvendo sem peso na alma,
amalgamando o sofrer do amar em vida e corpo,
em dor que bate... coração!

Pulsando a mais viva forma de se sentir a paz,
jogando nas veias com o sangue pra se dissipar,
trancando nos cantos do corpo os desejos
e as lembranças que não se devem fazer lembrar.

Sim, essas são as minhas ilhas de paz!

Guardadas com algum medo, só pra ainda me manter refém,
em forma de um arquipélago de desastres póstumos,
vigiado pelos dois mil cavalos calados de sempre,
e tomado nas margens pelas águas choradas,
e as caravelas roubadas de todo o meu lamento portugofilosófico.

Imagem do dia!


Por acaso, de repente

Às vezes penso em como fugimos de nós,
penso no quanto vivemos assim,
sem sentir, sem dizer,
sem viver como queríamos...

Nas esquinas do nosso lugar,
deixamos ao acaso o nosso amor,
deixamos que o acaso nos desse qualquer coisa,
até não termos o que dizer
e não termos o que contar,
esquecemos de nós dois,
até mesmo no nosso lugar...

Nós viramos histórias,
ficamos para trás,
nas areias, no vento, no mar,
nas areias, no vento, no mar...

Ficamos na alma do nosso lugar,
nas esquinas do nosso lugar,
nos bares, nas quinas,
nas piscinas dos prédios mais altos,
nos cantos e avenidas, nos becos sem saída,
nós ficamos pra sempre,
nós ficamos pra trás...

Mas por acaso, de repente,
quem sabe nos vemos no nosso lugar,
por acaso, de repente,
nosso amor se acende no nosso lugar,
e aí por acaso, de repente,
resolvemos não deixar tudo acabar.

Poesia de refúgio

Me aproprio dos versos dos grandes poetas pra dormir melhor,
finjo que são meus,
finjo que posso ser,
que posso ter aquele amor todo dentro de mim.

Imagino mil cenários,
mil cidades, mil romances, mil casais,
e finjo que são meus,
finjo que posso ser,
que posso tirar mesmo aquele amor todo de dentro de mim.

Mas hoje minha poesia embusteira, mais do que nunca, falha,
me falta, e faz uma falta danada,
ando precisando preencher minhas noites,
terminar um bloco, escrever algo que me apeteça,
qualquer coisa que enfim me desça e não arranhe.

Por isso eu pego, rasgo, desfiguro, puxo, estico e mudo tudo,
preciso de um poema sujo, preciso de uma boa obra,
eu tenho amor por isso, eu tenho e não finjo,
eu oro à Vinicius,
e que me matem os vícios se for por vontade de Deus...

Mas preciso mesmo disso, necessito das palavras,
das sentenças fluindo, dos versos se encaixando,
dos anos passando e dando sentido a tudo,
preciso ver valor no meu refúgio,
na minha poesia de refúgio.

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sexta-feira, 28 de abril de 2017

Como um samba de verão

Toda vez que passa me salta aos olhos,
e os olhos de mar,
me lembram que o mar é logo ali,
e que bate, as ondas batem,
e meu coração também, bem forte.

Toda vez que aparece,
tenra em seu passo, firme na vida,
por vezes sem motivo,
avoada, distraída.

Toda vez ela passa,
e em seu passo pelas pedrinhas,
como teclas de um teclado,
passa e toca em mim aquele samba de verão.

E olha, ela é mesmo como ele,
e ele se fosse como ela,
seria exatamente como é.

Toda vez, toda vez assim,
de corpo hermético e livre,
e alma dura, alma antiga,
daquelas que se lê de longe, que se foge.

Toda vez, toda vida,
todas elas, todas as vidas,
toda vez ela passa e me salta aos olhos,
e os olhos de mar me lembram,
e os passos nas pedras me lembram,
e as pernas, os trejeitos, as idéias...

Toda vez, toda vida,
ela sempre passa com seu samba de verão por mim,
e olha, ela é mesmo como ele,
e ele se fosse como ela...
seria exatamente como é.

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Viver mais uma vez

Mais uma vez escrevo pra você,
pensando em nunca mais te ver e nem te esquecer,
querendo remoer, tudo aquilo que eu senti,
tudo aquilo que sinto, tudo aquilo que deixei ir.

Mais uma vez escrevo,
mais uma vez é pra você,
e toda hora é hora,
todos os dias são pra viver,
essa falta de coragem,
essa raiva de corroer,
essa vida mesquinha de homem,
de garoto sem nada a perder.

Mais uma vez na vida,
mais um dia pra você,
mais uma carta escrita
que eu vou queimar pra você não ler.

Te deixo ali em brasa, sem piedade,
esperando que o fogo te levasse,
e enfim, desse a mim,
o pouquinho de paz que eu pedi,
pra viver, sem lembrar,
pra viver, sem você,
pra viver, pra poder viver mais uma vez.

Cantinho bom

No meu coração apertado,
encontrei bom lugar pra você,
quem disse que eu não podia,
quem disse que eu não era assim...

Sou triste, perfeitamente,
uma obra do nosso senhor,
sou triste, perfeitamente,
está entendido, mas por favor...

Não me venham cortar as asas,
nem mexer no reflexo das águas,
não me tirem do sério, que eu me desespero,
e vivo da raiva que há em mim.

Sou triste, perfeitamente,
está entendido isso muito bem,
sou triste e digo, nem ligo,
eu prefiro ser assim.

Mas no meu coração apertado,
inteiro abarrotado de coisas ruins,
encontrei um lugar pra você,
eu arrumei um cantinho bom..

E quem disse que eu não podia,
quem disse que eu não era assim?

Que eu não era feito pra ser feliz.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Era medo

Os seus castanhos nunca foram meus problemas,
e até em sonhos foram muito verdadeiros,
eu tive mesmo foi um medo de amar,
o que eu queria era ter você pra mim,
mas eu não soube dizer,
não soube agir,
e tudo que eu fiz foi afastar você daqui...

Eu não queria que você mudasse,
eu não pensava no que eu fazia,
hoje é tão claro como eu fui um cara chato,
agora eu entendo muito bem o seu lado.

Não foram os seus olhos, nem o jeito de olhar,
não foi culpa da sua irmã, muito menos do seu pai,
nem você e nem ninguém nunca iriam entender,
porque tudo que eu fazia era só um jeito muito difícil de dizer,
meu bem eu tenho medo de amar você,
meu bem eu tenho medo,
meu bem eu tenho medo de gostar demais de você,
meu bem eu tenho medo...

Eu não queria que você mudasse,
eu não tinha boas e nem más intenções,
e hoje de repente é tão claro, como eu fui um grande babaca,
agora eu entendo muito bem o por que da faca afiada.

Nâo foram os meus pais e nem aquela sua amiga chata,
não foi culpa da cidade e muito menos do verão,
não tinha nenhuma outra, você está louca,
eu só não entendia o meu coração quando ele dizia pra eu ficar com você,
porque tudo que eu fazia era só um jeito bem difícil de dizer,
meu bem eu tenho medo de amar você,
meu bem eu tenho medo,
meu bem eu morro de medo de amar você,
meu bem eu tenho medo.

terça-feira, 4 de abril de 2017

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Grande amor

Grande amor, faça-se presente em riso e choro,
venha dividir fartura e fome,
venha se espalhar nos meus refrões,
grande amor, vem fazer doer,
fazer sarar,
recostar teu rosto em meu abraço.

Grande amor, faça-se presente em verso e prosa,
costure meus botões com as tuas mãos, tão finas mãos,
ame tudo o mais que há no mundo,
mas não ame, não ame ninguém mais do que a si,
meu grande amor.

Ah, como era bom, como será melhor depois,
como é tão doce o teu corar,
e o teu sorriso cético,
quando eu digo que é por falta de amor
que um dia vou me matar.

Grande amor, faça-se presente em gesto, em adoração,
venha dividir comigo o que há de bom,
uns dois corações,
vem fazer loucuras com o meu mundo são,
vem, meu grande amor,
vem fazer chover, fazer secar,
recostar teu rosto em meu abraço,
me salgar nos dias ruins com as tuas lágrimas...

Grande amor,
meu grande amor, vem cá.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Aqueles azuis

Aqueles azuis ainda me sugam todo dia um pouquinho de vida,
e quando aparecem pela cidade,
sempre me jogam num mundo novo de possibilidades.

E ela nunca avisou mesmo, nunca foi de ser normal,
ela nunca parou pra pensar,
e sempre me causou toda sorte de problemas.

Todo dia, de noite ou de dia,
sempre fez questão de não se guardar,
sem vergonha, seguia com aquela sanha
imparável de se entregar.

E aqueles azuis ainda me dão certa pena,
me doem nas noites em que passo sozinho,
me tiram um pouquinho de paz todo dia.

Porque todo dia ela partia pras ruas,
seguia com as idéias turvas,
e levava aquela alma toda nua,
sem uma pontinha de esperança pra se escorar.

Aqueles azuis ainda me trazem aqueles anos,
me tiram o sono,
e sem cerimônia me fazem chorar.

Imagem do dia!


De amargar

Foi mesmo de amargar, difícil de lembrar daquela noite,
eram quatro horas da manhã
e eu já via o sol como um farol no horizonte,
eu alucinava mil situações, não estava bem,
mas não fazia mal, mal nenhum à ninguém...

Foi por culpa dela, dos olhos verdes de água do mar,
que eu me repeti, que de novo caí naquela escuridão,
eram quatro horas da manhã o tempo todo,
e eu via que o sol na verdade era a lua,
eu alucinava uma multidão,
enquanto sete vampiras se digladiavam pelo meu coração.

Não foi uma noite fácil,
aquilo nem parecia o leblon,
em todas as calçadas eu via corpos pelo chão,
e era tudo culpa dela,
daqueles olhos de morfina,
o mundo estava acabando por causa daquela menina.

Eram quatro horas da manhã o tempo todo,
e eu era apenas uma sombra, um rastro de escuridão,
carregando a dor comigo, até o dia amanhecer,
esperando por milagre que tudo estivesse no lugar,
depois daquela noite tão difícil de lembrar,
depois daquela noite de amargar.

More than ever

Mais do que nunca o mundo parece me pregar peças,
continuo sem vontades, continuo aquele mesmo ser absorto,
morto em vida, vivo em caos, perdido, desencontrado,
mais do que nunca, hoje,
more than ever ando sumido de mim.

Agora não são só vontades que me faltam,
já não me sinto à vontade nos dias,
já não faço nada que me encha o peito,
o Rio não basta, se é que um dia bastou,
a vida parece que não vale, e até meu vale de lágrimas secou.

Quando muito, tenho sentido apenas raiva,
quando sinto são coisas que preferia nem sentir,
nas ruas não existem mais novidades pra mim,
na noite também, nos bares, nas pedras, na areia, no mar,
é tão difícil explicar o que me falta,
só sei que falta e sinto falta do que antes eu tinha pra amar.

Mais do que nunca, hoje, more than ever me sinto outro,
antes fosse triste, antes fosse só como era antes,
fosse só eu contra o mundo, contra tudo que não queria,
antes eu queria aquele não querer com tanta força,
com tantos motivos, com frases prontas,
sorrisos e olhares tão sórdidos,
eu tinha alguma coisa,
eu tive algum amor dentro de mim.

Mas hoje, mais do que nunca,
more than ever,
não tenho, não sou,
não sinto nem um tiquinho...

Eu só rezo pra Deus não esquecer que estou vivo.

terça-feira, 7 de março de 2017

Só viver

Hoje eu acordei pensando em você de novo,
mesmo depois de todo esse tempo,
mesmo depois dos ventos que nos afastaram,
das coisas da vida que covardemente nos envenenaram.

Escutei um crepitar no meu peito,
e era o fogo do meu coração se apagando,
era um pedido de socorro da minha alma,
era o que eu podia fazer pra viver.

Pedir, pedir por socorro,
querer de novo, pra ter um pouco,
e trazer de dentro qualquer lembrança,
sobreviver, e só viver,
só viver um pouquinho mais.

Deuses do carnaval

Tomem as ruas, falem a língua dos outros,
esqueçam o sol que faz aqui,
esqueçam dos graus tão altos daqui,
sumam de casa, ganhem o mundo,
cantem e sambem,
até não ter mais o céu azul...

Peçam aos deuses do carnaval,
um pouco mais desses dias,
orem aos deuses do carnaval,
peçam que a carne sobreviva.

E tomem as ruas, falem a língua do povo,
esqueçam o sol que faz aqui,
esqueçam o calor tão fácil daqui,
sumam de casa, ganhem o mundo,
um pouco de tudo, cantem e sambem,
até não ter mais o céu azul...

Peçam aos deuses do carnaval,
a benção dos Orixás,
a benção de Deus,
Ganesha e Alá,
a benção dos deuses do mundo que há,
lá fora, do mundo que há lá fora.

E tomem as ruas, esqueçam de tudo,
tomem as ruas, em nome dos deuses,
em nome dos deuses do carnaval.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Imagem do dia!


O pão

Estive perdido, jogado, sem amor,
procurando falsas peças pra enxugar meu dissabor,
andei por mil travessas, tropecei pelas calçadas,
eu comi o pão que o diabo amassou.

Me lançando pela cidade
só com a tristeza que trago nos olhos,
e com o peso que tenho nos ombros,
aprendendo a andar por escombros,
tive um Deus, uma vez, mas perdi o amor que ele me deu,
já fui Deus, uma vez, mas perdi todo amor que era meu.

Me lançando pela cidade,
com os olhos vermelhos de noites perdidas,
só com as meninas que tenho na vida,
todas as minhas bem nascidas.

Todas elas falsas peças, pedacinhos de mau caminho,
que achei muito boas pra enxugar meu dissabor,
que achei tão perfeitas
pra comer comigo o pão que o diabo amassou.

Cinzas

Vou te guardar numa gaveta,
trancar, jogar a chave fora,
ou te botar numa caixinha,
selar, lançar num rio distante.

Vou te tirar de mim
nem que eu tenha que partir também,
vou te pedir pra devolver
tudo que eu escrevi pra você,
e publicar um livro que ninguém nunca vai ler.

Porque você é minha caixa de pandora,
tudo que eu tive antes de me perder,
é meu passado distante,
tudo que fui um dia,
meus segredos, desesperos, minha paz.

Vou te jogar pro alto pra você voar,
voar pra longe daqui,
ou te amarrar num quarto escuro
só pra te ver dormir,
e queimar a casa inteira,
botar fogo no apartamento,
pintar as paredes com o sangue dos meus pulsos
escrevendo todos os meus lamentos.

Você é minha caixa de pandora,
o que é bom e também ruim,
é a onda que bate e a que vem,
é o choro e o riso também, mas hoje eu te nego,
te declino aquele velho direito de me usar,
eu quero todos os meus segredos,
quero a minha paz.

Por isso vou te guardar no mar,
afogada,
vou te guardar em casa,
enterrada no quintal,
vou te guardar pra mim,
num vaso cheio de cinzas...

Meu amor, sei que parece horrível,
mas é que você nunca entenderia.

Imagem do dia!


Pedacinho de verão

Se bem lembro, talvez fosse dezembro,
de um tempo em que eu ainda
trazia alguma cor nos olhos.

Ah, e se estiver certo,
pode ser que agora eu lembre,
ela era uma linda menina de olhos claros,
tinha os olhos rasos de esperança,
olhos claros raros,
daqueles que muito pouco choraram,
olhos que me roubaram todo o amor de uma só vez.

E trago essa dor comigo, por tê-la perdido,
naquele fim de tarde, naquele domingo,
naquele verão de tantas incertezas.

Mas se bem me lembro, era dezembro,
e eu ainda tinha toda a vida pra viver,
ah, e se estiver certo,
pode ser que agora eu me lembre mesmo...

Mas ela era tão menina,
tão feita pra ser sempre um grande amor,
que por lá ficou,
gravada como numa moldura,
num pedacinho daquele verão.

Desconheço

Eu não amo você, amor,
e preciso dizer pro mundo,
todas as cores são de mentira,
todas as flores dos jardins,
é outono o ano inteiro no meu peito seco,
e só chove quando Deus me dá razão.

Eu não amo você, pequena,
e preciso dizer pra mim,
que o mundo na verdade é mesmo esse preto e branco todo,
que tudo na verdade não tem brilho e nem sabor,
é dia sete no meu peito o tempo todo,
e só há alegria quando gritam gol.

Eu não amo ninguém,
eu não amo você também,
e preciso viver com isso,
eu preciso encontrar meu precipício,
pra dar asas a imaginação,
pra dar vida ao meu vôo final.

Eu não amo você, amor,
eu não amo ninguém demais,
eu não sei o que é amor,
não conheço e nem sei como é.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

O tamanho de mim

Derrotado, debruço-me na história que você deixou,
vago de olhos vazios
pelos nossos lados da cidade.

Cada vez mais depressa, o dia passa,
e a noite fica,
cada vez mais depressivo,
e a vida me parece uma coisa antiga.

E esse cinza, esse preto e branco todo,
a falta de luz, o escuro do mundo,
a música, o fado, a valsa russa...

Lanço-me sem medo nesses sentimentos de refugo,
procuro nas pedras qualquer amor que tive,
vasculho os cantos do meu mundo,
os olhos claros do meu mundo,
as meninas tristes do meu mundo.

Lanço-me sempre nos mesmos apuros,
mas procuro motivos novos
pra usar como adornos antigos,
pra jogar com a vida, viver personagens,
e descobrir n'outras peças...

O tamanho de mim.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Uma outra baiana

Eu gosto dela e dessa paixão
que ela tem pelo carnaval,
e sinto uma inveja danada
de como ela fala que ama essa confusão.

Mas eu gosto dela desse jeito,
eu gosto assim quando ela ri,
quando ela joga confete pro alto e me diz
que nenhum bloco vai sair sem ela.

Ah, eu gosto dela,
como eu gosto dela assim feliz,
quando o surdo começa a tocar
e os tamborins vão esquentar,
quando o carro de som diz que vai buscar o ita no norte.

Ah, eu gosto dela,
como eu gosto dela assim feliz,
nos fevereiros do nosso amor,
nos dias longos de folia aos pés do redentor,
e quando o surdo começa a tocar,
quando o carro de som diz que vai buscar o ita no norte,
eu vou por aí com ela, pra ver o bloco passar,
ver toda essa gente viver
como se a vida nunca fosse terminar.

Eu gosto dela e dessa paixão
que ela tem pelo carnaval,
e eu sinto um ciúme danado
quando ela diz que ama tanto isso tudo,
e que vai ficar maluca
quando quarta feira chegar...

Ela sempre diz que só vai parar
na quarta feira de cinzas...

Ela sempre diz que ainda vai desfilar
quarta feira de cinzas.

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sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Semi-lúcido

No quarto sumi-lúcido,
um quarto pra ver tudo derreter,
eu fujo dos meus monstros todos,
eu busco um final qualquer pra mim...

No quarto semi-morto,
o ser mais absorto, excesso em vida e caos,
não sinto mais nenhum sabor,
a dor é o meu ponto final.

Deslizo pelas bordas,
me atiro em parapeitos,
se tudo não é nada e nem tem gosto,
eu não aceito desaforos.

No quarto semi-lúcido,
dois quartos pra poder ver mais do mundo,
eu quero qualquer coisa pra sentir,
quero não poder dizer
que não estou nem aí.

Deslizo pelos cantos,
procuro histórias boas pra contar,
preciso transcender, esquecer o que há de mal,
porque no mundo sem gosto, o tato é quem me salva,
é quem põe grades nas sacadas pra eu não me jogar.

No quarto semi-morto,
não há mais quartos pra saborear,
estou vivo, estou confuso,
meu fuso é de outro mundo,
não vivo o que aqui há.

Deslizo pela vida quando ninguém me vê,
eu só me alimento do que vai te enfraquecer,
porque o que eu amo me mata,
e o que me ama também,
por isso vivo nesse inferno,
amando mais do que ninguém.

Ponto de reflexão I

Ando ausente de mim, dos meus lados escuros,
dos meus cantos sozinhos,
das minhas noites em claro.

Vivo estranho, poupo os pulsos,
penso menos, não sei se morro
ou se vivo por dentro,
só sei que é pouco
o que sinto aqui dentro.

Prefiro comedidamente o antes,
preciso de menos do agora,
quero de novo exigir candura
e poder cantar sozinho para o nascer do sol,

Quero a cidade minha e de mais ninguém,
não quero dividir,
quero ser inteirinho,
quero estar sozinho pra enfrentar o mundo.

Só, somente um, somente eu,
me esguiando para atravessar a cidade fenecida de sonâmbulos,
e pular das pontes altas
tendo em mim os sentimentos mais estranhos;

Quero morrer por dentro,
quero querer outros milênios,
e chorar, e chorar, e chorar de desespero...

Quero tudo de volta,
e nada comedidamente,
quero meu sofrimento,
minha melancolia,
quero minha tristeza,
e a dor da sabedoria.

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