domingo, 22 de dezembro de 2013

Lembrete

Quando achar alguma coisa
que faça seus olhos brilharem,
agarre, não solte, não deixe que passe...

Nesse tempo em que vivemos
muitas coisas nos escapam,
tudo é tão rápido,
tudo fica preso no passado.

É difícil não ter o controle
das coisas que amamos,
e as pessoas cada vez mais
ignoram os chamados do coração...

Condenando o próprio futuro
a vivenciar ausência,
sentir a vergonha da hesitação.

É verdade que no caminho muitas pedras nos assustam,
e pelo fim, pelo sim pelo não...
pensamos que os meios talvez se justifiquem.

Que os grandes amores,
matem as flores...
e que as dores
semeiem o que vai se tornar felicidade.

Mas e saudade?

Saudade não tem jeito,
saudade é dor,
dor que ata e desata,
que morde e assopra,
que dá e não passa...

Saudade é dor de verdade,
sem semente,
sem raiz,
sem solo que sustente essa realidade.

Saudade é perfume de loira gelada,
é brilhos nos olhos,
lembrança das madrugadas.

Saudade é ser magro e pesar toneladas,
é salgar os olhos aparentemente sem motivo,
abater-se, é salvar-se a poucos passos do tiro,
do salto do alto da sua falta de equilíbrio,
um último ato.

Saudade é amor que não se alcança,
é vontade de voltar a ser criança,
é querer ser dono do tempo
pra poder chorar de novo
como um tolo pelo primeiro amor.

É amar,
saudade é sentir,
é sentir-se frágil,
humano, triste, vulnerável,
mortal.

Saudade é amor,
amor quando acaba,
amor quando é amor mal,
amor que mata.

Saudade é falta,
é amor que não se tem,
amor que só dói,
amor que rói a alma e os sentidos.

Saudade é tanta coisa
que nem sei como evitar.

E esse é só um lembrete,
um jeito de me safar,
um tipo de auto-consolo,
um manual de auto-controle...

Algo que escrevi pra ter comigo,
pra me preparar...

Pra manter os anjos por perto
quando minha hora chegar.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A indiferença

- Parte primeira

Odeio sua auto-suficiência
e amo você de todo coração.

Odeio seus teatros,
suas obras, desacatos,
mas amo todos os seus papéis,
todos os seus retalhos.

Odeio a tarde quente sem você,
porque eu amo sempre
o que há de mais frio em nós dois.

Odeio estar longe demais,
eu amo essas duas quadras,
eu amo as nossas estacas.

Odeio a idéia de te perder,
porque te amo.

Odeio tanto, tanto,
que às vezes odeio você.

- Parte Segunda

Eu amo fazer de você meu sonho de paz
e odeio ver nosso cenário se desintegrar,
eu amo esse lugar.

Odeio ver tudo se desconstruindo
pela idéia do progresso.

Mas enquanto amo você
de muito pouco importa o resto.

Odeio notar que as esquinas da nossa zona azul
ficam tão diferentes com o passar dos anos,
odeio mudanças.

Eu amo o jeito como você surta
e enuncia barbaridades,
e amo mais ainda essa maneira doce de falar
que faz tudo soar tão sincero, tão leve,
digno, indiscutível.

Odeio ver mundo,
mas amo o mundo
quando penso que o mundo todo pode ser você.

Odeio me distanciar,
tenho medo do fim,
medo de ver tudo mudar.

E em nome disso tudo
eu seguraria qualquer barra,
eu entraria em qualquer onda errada...

Só pra ter certeza,
pra não permitir que os maus hábitos
emitissem um ruído que fosse na nossa história,
nos nossos cantos, nossos segredos,
nos nossos olhos salgados pelas tantas besteiras.

Eu faria de tudo pra defender
pra proteger toda a ternura de nós dois
do rompante inexplicável que é o desamor.

A apatia, o desinteresse,
o desespero legítimo dos corpos unidos
e das almas distantes.

Ah, eu me vitimaria de olhos impávidos
somente pela certeza de aniquilar para todo sempre
qualquer possibilidade de ver nascer a indiferença entre nós.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Fantasma

As luzes se apagam lentamente,
fantasmas sobem as escadas,
voltam para os casarões...

Com suas roupas de baile
e os seus modos da côrte,
ouço o sotaque lusitano,
o império ainda prospera noutros planos.

Os bichos se espreguiçam,
o som dos pássaros toma o quarto...
e a noite num susto,
enfim dá seu adeus.

O horizonte clareia,
o sol covarde invade a sala,
queima as cortinas,
queima meus sonhos, rouba minha onda,
esquenta, se deleita nas horas do dia,
ri de mim e das minhas manias,
tripudia sob meu frio enclaustro.

E eu me sinto um louco,
um estranho rastejando nas sombras,
pedindo uma força das nuvens,
um milagre dos céus...

Esse é o meu jeito
de sentir o seu perdão,
de sentir qualquer perdão...

De fingir que tudo ainda está feliz,
que tudo que escutei é realmente o que devo sentir
e é o que devo falar, repetir pra sempre...

Não devo mais fugir,
preciso me render,
me arrepender, me redimir,
deixar crescer a luz em mim.

Mas o sol quando vem,
desarma e joga no meu peito aquilo tudo
que não se deve mais lembrar,
me lança numa agonia ressequida,
doída, difícil de enganar...

Covarde,
laça, prende, o sol me parte,
me corta o coração,
me julga e executa na luz do meio dia,
no raio que racha o chão de terra batida,
sol que mata, que maltrata,
que ata mais o nó dessas feridas...

E isso não é só cisma,
esse é peso de sofrer
junto ao castigo de lembrar...

De saber que nada agora faz sentido
sem a noite pra me por no lugar.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Bicarbonato de sódio

Hoje eu acordei sozinho
sem querer ver gente,
rolando de um lado pro outro,
tentando lembrar porque que a gente
não ficou junto no fim da noite...

Ah, mas me falta coragem pra levantar,
pra ligar, pra saber como foi, como está.

E o sol, o sol ta queimando o mundo
a duas quadras daqui,
e o meu senso crítico mesmo que sujo
diz que eu não devo sair por aí...

Pelo menos não agora,
não a essa hora...

É cedo,
são quase duas depois das doze badaladas
da senhora da paz.

É cedo demais pra começar a odiar o mundo,
mas falta pouco, muito pouco...

Logo logo, meu eu aristocrata dá as caras
pra reclamar das mazelas
dos metros quadrados mais caros do Rio.

Logo eu me enfio numa onda errada qualquer
e saio por aí falando barbaridades,
sem cobrar, sem que ninguém venha perguntar.

Eu vivo ao contrário,
eu não tenho horário, nem honorário,
eu arrasto chinelo e o meu ego,
sem compromisso...

Eu me acabo sozinho
antes de você começar
a entender qualquer coisa.

Pra quê correr,
pra quê criar todo esse clima,
o fim da estrada
não é o fim da vida,
tudo ainda tem muita linha pra dar...

A história só se repete
e é até triste que se repita.

Mas pra que se importar demais,
apenas viva, deslize por aí,
ande pisando leve...

Clareie os ambientes,
não chova, não nuble,
leve o sol no peito,
dê jeito nesse lixo que te entregam
e entregue vida,
se entregue a vida.

É, acho que tá bom,
nem eu me aguento mais,
mas pelo menos já tenho coragem pra levantar,
tem papo furado que dá resultado...

Ah e penso que agora sei porque a gente
não ficou junto no fim da noite,
só que eu preciso acordar primeiro,
me serve um café, tô de bode,
preciso de mel e bicarbonato de sódio.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Juras por hora

Já é dezembro
e eu não quis nada...

Das promessas que eu fiz
nem lembro mais,
e a descoberta mais valiosa
de todo esse tempo foi você...

É, você que não sei porque insiste tanto
pra que eu arrume alguma coisa pra fazer.

Acho que é porque todo esse tempo,
é tempo de menos pra você pescar
as vontades dos meus olhos.

Pra você entender que o que é real
e luzente dentro de mim,
vem diretamente do que há de mais escuro
nos porões do meu pensamento.

Vem de qualquer coisa que respire e morra,
qualquer líquido sujo que possa ser destilado
e escorra dos meus olhos.

É, eu nunca fui o rei da noite,
só que eu preciso sumir de vez em quando,
nunca fui difícil, nada foi difícil,
mas eu também nem tentei viver feliz...

Mentira, eu estraguei tudo,
mas embora o mundo esfregue isso na minha cara,
não sou bom de fachada.

É que eu preciso
de um canto escuro,
a verdade é que eu morro de medo
de qualquer futuro...

Eu não escondo,
só me recuso,
recluso...

Não me alinho na onda de comprar as verdades
que já vem fabricadas pra uso.

E todo ano é a mesma história
são promessas e juras
que nunca vou cumprir...

Que pra ser sincero,
nunca fiz,
proferi.

Só porque deixo o acaso me levar,
porque sou prisioneiro das vontades do momento
e vivo rodando em juras por minuto...

De zero a cem em duas loiras por noite
se bem me lembro agora...
e uma morena por hora,
só dependendo da cor dos olhos.

Por isso não te peço que me entenda,
só que deixe
e que também não me deixe...

Depois deixe isso pra lá.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Vou passar aí

Di Cavalcanti então
e um disco do Tom...

Porque eu ando sem dom
e só a estrada do sol
pra dar jeito em mim quando é assim...

Mas amanhã vai ser diferente,
se for depois do meio dia,
se eu acordar e não ver gente.

Preciso de uma jura nova,
de uma nova cura,
preciso de uma rima boba,
uma rima boba nova que me acuda.

Eu procuro um refrão
mas não posso por seus olhos,
cansei de me repetir...

Também não devo por o pôr do sol,
procuro originalidade,
eu to fugindo do arpoador,
dos lugares óbvios onde até cego se enxerga o amor...

Então fechei os meus
e eu vi seus novos anos,
senti cansaço
e o mormaço no redentor me seduziu.

Preciso te esquecer qualquer hora,
não precisa ser agora,
não tem pressa, não tem desespero...

Perdi seu telefone,
mas lembro seu endereço,
sou amigo do porteiro
às vezes deixo meu camelo por aí...

Você nem sabe,
nem sei se vai saber.

Mas vou te ligar,
vou ligar pra dizer qualquer coisa,
pra falar das esferas do senhor,
dos meus planos, nossos planos...

E da minha nova original vontade,
novíssima, outra óbvia inverdade,
daquelas que de longe até os cegos enxergam...

Sentem que é só mais um velho e desonesto refrão,
outra velha jura já sem cura,
sem firmeza, sem paixão.

Eu vou te esquecer amanhã de manhã,
se não fizer sol,
se não tiver gente,
na quadra, no bairro, na praia,
no mundo...

Eu vou te esquecer,
eu vou passar aí pra dizer.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Já vi muitos filmes

Quando você diz que eu estou distante
de olhos fixos em outros planos,
é que eu to pensando em ser feliz,
é benzinho, eu to pensando em você...

E nada pode ser melhor,
nada me tira deste lugar.

Não tem outro futuro,
nem desejos distantes demais,
não existe um caminho solo,
das minhas coisas favoritas
a mais importante são os seus olhos.

E isso é coisa muito séria,
esse negócio de querer você
é um problema...

E não, não tem nada novo,
esse sou eu de novo,
sendo exatamente como não deveria ser.

Garota, acredite,
eu já vi muitos filmes
e sei perfeitamente reconhecer um grande amor.

Então me escute,
vê se entende de uma vez...

Vem comigo que não tem perigo,
aqui no limite dos postos eu mantenho vivo,
esse nosso amor lindo e pequeno-burguês.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Bem nascidas

Todos reclamam o tempo inteiro
do meu mundo perfeito...

Mas que culpa tenho eu
do mundo deles ser feio,
se é o mesmo,
se é o mesmo que o meu.

Eu andaria feliz
em qualquer dos pontos cardeais,
embora as minhas preferências
sejam baixas, sempre baixas...

Eu gosto mesmo é de sabor,
eu vivo mesmo é pra ganhar a vida,
pra conquistar os corações,
pra ficar de bem com Deus
e ter o amor das bem nascidas.

sábado, 23 de novembro de 2013

Rainha das verdades

Seus olhos pretos
são da cor das minhas vontades
e o riso rasgado inocente
vive perigosamente rente
a minha sede compulsiva de te amar.

Te comer com os olhos
já é um costume inextirpável do meu ser,
eu te quero tanto, tanto...

Que vivo arrumando encrencas,
eu vivo roubando idéias,
juntando destinos e viagens,
estudando a sério Bonnie & Clyde.

Mas a verdade é que eu não quero fugir,
nem fingir!

Eu queria é entender de pintura
pra te pintar numas aquarelas...

Ou então tocar piano
e inundar a sala com as sonatas
menos discretas que encontrar
pra te pegar desprevenida qualquer hora.

Quero tantas coisas,
mas queria mesmo fazer de você
minha princesa do baixo
ou das terras do alto que você quiser.

A mais linda do sétimo céu,
a vampira do arpoador,
menina do rio, garota dourada,
primeira dama... do rei do nada.

Soberana da minha parte,
imediata do Deus sol,
radiante, imprescindível luz,
a primeira de minha santíssima trindade,
a mais leve cruz...

A rainha de todas as verdades
dos meus desonestos verde-azuis.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

1957

Tem tempo que eu não tenho conseguido
destilar meus pensamentos,
as palavras estão fugindo
e eu me sinto mais inútil a cada dia,
a cada hora que passa...

Eu venho me esforçando,
mas me sinto adoentado vivendo mudo.

Acho que me falta um tiquinho de tristeza,
assim bem no diminuto mesmo,
bem sincera também,
aquela tristeza bem do fundo.

Quase sempre isso passa,
é fase, é só ter calma, aguarda,
relaxa...

Só que a vida é muito ruim assim,
eu preciso jogar no papel,
preciso ver mundo,
cantar, falar do céu, do mel da boca das meninas,
das suas delícias,
dos corpos celestiais despejando charme pelas ruas...

Preciso do dom da palavra
antes de mais nada,
eu só quero poder dizer,
poder jogar no ar qualquer besteira...

Preciso de um megavocabulário,
de um novo cérebro,
um hd com mais espaço.

Eu preciso ler livros,
ter filhos e filhas,
plantar uma árvore,
uma floresta,
comprar um jaguar
mil novecentos e cinquenta e sete.

É...

Quase sempre passa.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Lindeza

Vida, conta de você,
linda, lindeza,
vem me dizer qualquer coisa importante
ou desimportante...
vem falar como é viver.

Diz que crescer,
crescer machuca muito...

Me explica esse muito,
que eu nem quero ver.

Vida minha,
diz pra mim um pouquinho do que você viu,
fala por favor que o mundo é doce,
é bem mais doce do que dizem por aí.

Linda, lindeza,
divina, azul, fortaleza,
meu néctar, meu harém,
minha mais que perfeita...

Não me deixa aqui nesse mundão, só,
assim sem um chão pra enxergar,
sem um céu pra achar lindo,
sabendo que tudo contigo
é que fica bonito sem nem estar.

Vida, conta de você
e diz qualquer bobagem,
qualquer besteira, só pra eu me fazer,
depois deita do meu lado
e presta bem atenção...

Vida, vou escrever o seu nome no ar
que é pro vento levar,
que é pra chuva molhar,
que é pra ele pingar no mar
e vir ver a gente nas pedras.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Das coisas mais lindas

Você, menina,
é das coisas mais lindas
que eu já vi nessa vida
e nas outras...

É de todos os sonhos
o mais belo instante,
é doçura com olhos de desejo,
um sudoeste laçante,
soprando qualquer medo pra longe.

Você é a força
que me faz prensar a tinta nesse papel,
pra cantar todos seus cantos,
passar a limpo os seus encantos...

E rir de novo seu riso,
traçar um plano de vida
cultivando vícios,
desvendar todos os indícios,
da nossa história de amor...

Você, menina,
é das coisas mais lindas
que eu já vi nessa vida
e nas outras.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Eu lírico

Tem dias que eu entro numa
de pensar mal do mundo todo,
e aí me pego de conversa com você...

Reclamando, jogando meus pensamentos amargos
sem pedir licença...
e por fim, tendo um retorno virtuoso,
uma compaixão sincera, compreensão de louco pra louca.

Não é a toa mesmo,
nada é tão despretensioso assim na vida...

E é incrível como tudo se completa,
como o destino e o acaso se odeiam
e nos pregam essas peças.

Cada momento desses com você
é um pouco de mim que muda,
um pouco de mim que pensa que de repente
o mundo não é tão ruim quanto eu pressuponho que seja.

E então eu me equilibro internamente,
me afasto de pensamentos asfixiantes,
da misantropia, da solidão...

E troco tudo pela plenitude do sentimento
de que tudo pode ser melhor uma hora,
num estalo, onde do nada, por nada,
ou por genialidade de algum Deus onipotente,
de repente, todo mundo vai ser lindo assim por dentro.

É, é você que alimenta o lobo bom da minha alma,
é essa ilusão do tempo que te tenho que me salva.

To precisando de uma dose,
faz tempo que me sinto um dependente,
e é isso que me mantem vivo.

São os seus olhos, menina...

Nutrindo as verdades ocultas
e puras dos meus monólogos mais introspectos,
e sugando as sombras, roubando a desilusão,
calando os discursos genocidas do meu eu lírico vilão.

É, é você,
só você.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Frente fria

O nosso amor é uma frente fria
trazendo os ventos da estação
vociferando entre os braços do cristo
tentando somente dizer...

Eu existo!

Eu existo por entre as palmeiras,
cambaleante, na contramão.

Eu existo subindo o morro,
lá por cima, no alto leblon.

Eu existo nas pedras portuguesas,
e nas areias,
cantarolando Meditação.

De olho nas luzes do jockey
quando nuvens baixas chegam pela noite
pra me fazer rir de nervoso
e me deixar louco...

Ouvindo vozes,
querendo sumir.

Pular da janela,
só pra voar,
desistir de qualquer coisa.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O mal do século

Tá vendo aquele cara triste ali?
Ele pode não estar tão triste assim,
ele pode ser só alguém igual a mim,
que saiu pra conferir,
pra ver se o mundo ainda tava na mesma.

Tá vendo aquele outro?
Aquele ali tem cara de que vive um tempo ruim,
que talvez nem seja assim tão ruim,
mas pra ele parece,
tem jeito de fim de linha.

Mas sabe... não temo pela vida deles,
tenho mais medo de gente feliz.

Tá vendo aquela ali,
bebendo um dry martini,
jogando conversa fora,
com jeito de que nada pode ser melhor...

Ali que mora o perigo,
a tristeza às vezes está tão longe,
tão fora de questão,
que quando vem, quando aparece,
é ofensiva demais pra que alguém possa deter,
a vergonha de ser triste, por vezes,
é tão maior que qualquer detalhe lindo da vida...

Que não existe mundo zen,
não tem ioga,
nem guru que dê jeito.

Não tem aura que te deixe seguro,
nem estrada de tijolos dourados,
livros de auto ajuda,
místicos, magos, padres,
pastores vendendo serenidade,
lugares no céu, terrenos na lua...

Nada pode contra essa pregação da necessidade
de viver uma felicidade inabalável no mundo.

Essa é a maior doença do século,
uma condição genocida,
câncer indetectável,
asfixiante,
assassino de nações inteiras,
gerações inteiras...

Que vivem amortizadas pelo medo de ser humano.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Trip

Surpreendentemente
ela me apareceu
e disse qualquer coisa engraçada
que me fez rir
e não querer mais nada.

Investi dois mil réis nuns embrulhos,
eu toquei minha vida sem fazer barulho,
injetei uns produtos, esqueci dos orgulhos,
eu fiz o que devia fazer...

E faria tudo de novo, eu faria tudo de novo,
viveria tudo de novo, só pra ver,
os seus olhos como na primeira vez.

Branca de neve me dê o seu cartão,
se espalhe no espelho, não diga que não...

E se ajeite sujeita,
que cê é pura,
mas só me usa que eu sei.

Sei bem que esse deleite,
num fundo nem tão fundo assim,
é só um enfeite pra viver em paz
nesse universo de ingratidão.

Rastejando no mármore
de um mundo sem regras,
se perdendo nas viagens
a bordo de tapetes persas...

E veja, admire toda essa falta de importância,
sinta um pouco desses romances
empoeirados nas estantes...

Deslize seus olhos nas paredes e me encontre lá,
ao lado do lindo e emoldurado impressionismo,
do retrato, do abstrato, dos realismos,
e a natureza morta... quem se importa?

Art nouveau, art déco,
expressionismo, futurismo,
construtivismo russo!

É tudo lindo, é tudo fluxo,
é puro, colorido, doce, revestido de sabor.

É medo e delírio, loucura e desespero,
é só o efeito do meu papel pequeno... no mundo!

É o efeito do meu quarto,
do quarto que frita na língua o escuro do mundo,
do mundo que eu fujo dissolvendo os meus cristais.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Eu vi

Eu vi...

e ela tinha os olhos
de quem poderia
engolir o mundo inteiro.

Eu vi...

e ela em seu todo peculiar jeito de ser
atuava em frequências distintas,
quase nunca espectro visíveis...

Revelando por pouco,
quando não por acidente
alguns detalhes sutis dos cantos sombrios
onde costumava se abrigar...

Cantos esses onde vivia se escondendo das possibilidades
que tinha no seu infinito universo singular.

Eu vi...

e ela só vivia nas margens pra socorrer,
pra estar também nos momentos inconjugáveis,
nutrindo esperanças...

Tendo como representante, mandatário e procurador,
o mantra dos corpos, da vida entre os copos,
dos fogos no céu, o teatro da carne, a sétima arte.

Eu vi...

e ela reverberava esse incansável espetáculo
com uma aura abençoada, em canduras,
cercada da luz de todo papo hype
e anti-high-society que se pode imaginar...

Assinando embaixo do que consta
nos nunca publicados manuais da alta cultura,
nas bíblias milenares,
nas palavras que foram aprisionadas
nos ares dos fins de tarde.

Ó luz divina,
majestosa arte,
representante de toda vida,

Ó graciosa rainha do mundo,
do mar, do ar, do par do céu,
a lua e o sol.

Ó magnífica multiplicadora incalculável
que reina onipotente no azul,
no infinito negro espaço,
no grande mistério do tempo...

Deusa da ilusão, dona do indizível,
dos olhos que devorariam o mundo...

Tende piedade de nós!
E perdoe os homens
que não sabem o que dizem.

Nos proteja em suas lágrimas
ainda que elas sejam derramadas em nosso nome,
por nossa causa...
E nos entregue qualquer das suas grandezas,
queremos ser seu orgulho.

Tende piedade de nós!
E perdoe os homens,
porque eles não sabem o que dizem.

Eles não sabem de nada.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Vento e chuva

Vento e chuva
aliciam minha tristeza pelas frestas
e mesmo com o cristo lá fora
nem sei a quanto tempo eu não abro a janela.

A noite habita as ruas,
e aqui dentro...

Só escuto o que quero escutar,
eu só vejo o que não devo,
só me entendo com o que ninguém vai se importar.

Mas as luzes e as nuvens baixas do horizonte
toda vez são melhores do que antes,
a escuridão da noite
é sempre assim, tão importante.

Que eu não perco um minuto da madrugada
e apago sempre quando sinto o dia
me trazendo o sol na ponta da faca.

Faz tempo que confundo
a luz do mundo todo
com as luzes do jockey.

Fazem noites que não durmo,
fazem dias que não vivo...

E esse é um norte solitário,
mas é dos mais maduros que encontrei,
está entre as coisas mais plenas e suaves
que já experimentei.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Te amo mas não presto

Será que os meus dias frios
são os seus também?

E que você espera as minhas palavras secas
como eu espero o jeito que você me faz aguar?

Eu juro pela minha vida,
eu te entrego o coração na mão,
só pra ouvir uma mentira qualquer,
um eu te amo, eu te quero,
vem me ver.

Será que os meus dias perdidos
são os seus também?

E que qualquer coisa que eu digo,
quando tem amor é só de você que eu falo?

Será que você não percebe
que eu te amo muito mais do que eu declaro?

Eu juro por qualquer parada
que não é minha intenção te deixar magoada,
mas é que às vezes é amor demais,
é muito amor demais,
muito amor demais pra mim...

Porque eu te amo, mas eu não presto,
eu nunca prestei, mas nunca menti.

E eu não sei ser de outro jeito,
assim é tudo tão mais fácil pra mim.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Gosto

Gosto quando a chuva chove de manhã,
quando céu amanhece coberto de lã...

Gosto do mundo,
quando nada parece com o mundo.

Gosto de gente dormindo,
gente calada, sem muitas opiniões.

Gosto de olhar e não ver muitas coisas,
gosto de poucas pessoas.

Gosto de andar olhando pro céu,
no céu nunca tem ninguém.

Gosto do farol vermelho na noite,
perfeitamente inútil, sem nunca se ressentir.

Gosto de não gostar,
de não me importar com quase ninguém.

Gosto de palavras,
de brigas e risadas.

Gosto de ser de você,
gosto de não ser ninguém,
e de não ser de ninguém também.

Gosto dos seus olhos pretos de graça,
gosto dos seus peitos, do seu jeito,
da sua cara de tarada...

Gosto de te comer com os olhos
e fingir fascínio quando você me dá bola,
de enrolar na cama
e falar do cazuza por horas...

Gosto quando tudo de repente importa,
e o amor meu se instala no seu pescoço,
nas suas costas, nos seus cantinhos,
no nosso apego pela imagem de casal cínico.

Gosto das cismas, dos diminutivos,
dos filhos que nunca teremos.

Gosto de pensar que vai tudo bem,
quando tudo está de mal a pior...

Gosto de você,
gosto de estar só.

Gosto de ser dúvida,
gosto de te ver dormir com a luz da lua...

Gosto das suas pintinhas,
das suas estrelinhas,
gosto dos cachos,
dos seus descasos,
do seu sorriso,
e do jeito que eu acredito
quando você fala que...

Tudo está tão bem assim,
tudo está tão bem.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Bárbaros em stand-by

Inaptos da terra,
se levantem.

Incautos e inatentos de todos os cantos,
venham comigo.

Vamos sair por aí,
sem destino, pra dizer qualquer coisa,
pra descobrir que a Atlântida do mundo
está no inconsciente.

E então distraídos venceremos,
seremos a âncora de um novo pensamento,
estaremos no fundo da alma,
plantando consciência na beira do abismo
onde se divide o medo da existência e da razão.

É preciso ser sincero,
destrave a língua,
e largue a míngua essa mania de politicamente correto,
isso não passa de um novo conceito barato de imoralidade aviadada.

E o mundo sempre foi imoral,
sempre fomos imorais,
ser humano é imoral desde Adão e Eva.

No fundo,
num fundo nem tão fundo assim,
ainda somos animais,
com as mais terríveis maneiras,
palavras e verdades...

Sempre fomos animais,
humanos animais, bárbaros em stand-by.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Desistem

Será que você não vê
que as pessoas sempre desistem de você?

Será por que?

Se não é por mal, nem é por bem,
é só porque sempre foi assim.

Meio sozinho, meio perdido,
olhando pro nada, sem saber de nada,
caminhando e cantando por nada,
sorrindo por nada, chorando por nada...

Faturando só o que vem nos olhos
quando vem de encontro e nada pode mudar.

Só o que estava escrito nas esferas do senhor
e que nenhum amor maior pôde levar.

Será mesmo que é assim tão grave?

Viver tudo no humor do vento,
no passo de gato sonolento,
sem comprometimento,
sem se importar muito com tempo
e com o que vem com ele...

Será que é mesmo assim tão ruim?

Achar que tudo vai dar certo no final,
que o acaso é o senhor da vida,
e que qualquer página sofrida
de repente vai virar...

Será mesmo?

Eu penso às vezes,
só às vezes...

E quando penso muito,
penso que não pode tanta gente estar errada.

Eu vejo,
entendo, eu sei.

Mas é que sempre foi assim,
e é assim que eu sei que vai tudo muito bem.

É assim que vejo com algum gosto o mundo funcionar,
de fora, de longe, acompanhando os problemas do alto,
avaliando uma ou outra incursão estratégica
pra não me sentir parte disso tudo.

Não me sentir muito mal
de me tornar qualquer coisa que nunca quis ser.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Lonjuras

Enquanto eu tiver
alguma coisa pra dizer,
alguma coisa em mim
vai estar gritando você...

Porque é por isso que ainda vivo
e mantenho como um vício esse fascínio
pelo mundo violento que você me apresentou.

Cada poro do meu corpo
é como um louco diferente
dentro de um só eu...

E ainda que esses átomos todos se rebelassem,
ainda que em vida todos eles me trocassem,
haveria alguma coisa inexplicável pra sentir,
certamente eu ainda teria um grito de amor seu em mim.

E é por isso que enquanto tudo isso me corrompe o amor a vida,
tropeço com você em nobre horário,
explorando outras feridas, repartindo os olhos mel,
entregando ao mundo o céu do meu agora ínfimo paraíso.

O meu último e real desejo puro de criança,
pra quem quiser olhar, bem ali na frente,
perfeitamente intocável, já sem nenhuma esperança...

E é assim que chego ao ponto
onde me arrasto pelos cantos,
procrastinando, relendo todos os cantos
que eu nunca cantei pra você...

Todos os que eu fiz por não ter mais o que dizer,
não ter mais com o que lutar
e nem saber pra onde correr...

Enquanto você me faz pensar que fui escola,
cobaia, laboratório, um ensaio...

Alguém que reagia as esmolas
de qualquer atenção que você estivesse disposta a dar,
de qualquer textinho pronto,
qualquer coisinha com algum amor nos olhos e uns diminutivos.

E é por isso que enquanto tudo isso acontece,
o que me resta é me agarrar a alguma prece,
alguma informalidade mundana,
um troço que não me roube
e nem envenene essas doces lonjuras
das coisas melhores da vida...

E que ainda alimente alguma distância saudável
além da natural,
entre a cabeça e o coração.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Sol

Todas as verdades do mundo já não bastam,
to precisando das suas mentiras,
eu to querendo um pouco dos seus olhos,
de tudo que eles não me dizem mais...

Eu senti cheiro de sábado e era quarta feira,
achei que a vida era linda mas era segunda-feira.

E o sol...

O sol é seu cúmplice, junto da primavera,
que só vem pra me confundir nas areias,
como nas cenas das novelas no leblon.

E todas as verdades, essas, já não fazem sentir,
não fazem valer grande coisa.
Eu preciso mesmo é das suas mentiras,
daquelas coisas choradas sem razão...

Do drama pela Chaika,
do luto as casas derrubadas da semana,
da birra e das suas manias de menina mimada.

E o sol...

O sol é sempre seu cúmplice,
me traz você sem razão, como a luz,
o tempo todo, com som e imagem, num replay...

Destravando seus discursos,
anunciando a morte da nossa originalidade,
a morte da saudade,
nesse mundo que não dorme e vive online...

Rodeado dessas tecnologias arrasadoras,
destruindo as lonjuras,
desconstruindo linguagens,
roubando o sofrimento com um descaso frio,
sem nenhuma cerimônia.

E o sol...

O sol sempre esteve lá,
cúmplice de todos nós.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Coisa linda

Quantas vezes ainda posso
me apaixonar por você?

Parece que o senhor das esferas
não se cansa de rever esse jovem clichê...

E me faz sentir tudo de novo,
nada novo.

Só você... e os seus olhos castanhos,
o céu refletido, um sorriso,
uma foto bacana, um jeitinho de anja,
num mundo meio art nouveau,
coração partido, zona azul.

E tudo isso, quem me apresenta
sem grande deferência,
é o destino...

Num ensaio rico de maldades,
textos prontos sem muitas verdades,
repleto de idéias tão rasas
que me fazem sentir uma metade.

E eu só preciso mesmo
de um cantinho pra poder dizer...

Vem comigo!

Foge pro aconchego avarandado do meu coração,
rapte-me da falta de paz, da solidão.

Interprete tudo que eu digo
como um grito de socorro,
e volta pro meu lado triste
que é pra ele ficar feliz de novo.

Gata, ta tudo nas esferas,
eu vi!
Ta tudo explicado nas telas
de uma outra dimensão.

Gata, o futuro é coisa linda,
eu vi!
É tudo uma suave neblina,
doçura, carinho, uma vida,
feita toda pra se apaixonar.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Santo sujo

Se o tempo pudesse
parava em cinco oito,
e devia...

Porque nunca chega de saudade
ver aquela realidade tão distante,
deste dia.

E o cento e sete,
a Elizeth, a bossa, a fossa,
a nossa grande dor
de viver pra ver essa ipanema apocalíptica,
especulada, loteada, agonizando com a fama,
como no apagar da velha chama.

Mas essa dor tão presente,
tão cruel e insistente...

Não me pega pela Montenegro,
perdão poeta, mas ainda é cedo.

Fosse eu, te punha nas Acácias,
e fazia dessas bandas um culto aos teus vícios imorais.
Fundava o sindicato da bossa sempre nova
e abria o cinema dos teus olhos na Visconde Pirajá.

E por falar em paixão, Tom,
te resgatava logo que pudesse daquele esquisitíssimo Galeão,
e em teu nome plantava palmeiras imperiais
pelos escassos canteiros
devastados por Sergios Dourados
e outros sem jeitos, sem poesia.

E se desse tempo, eu acho que me arrependia,
voltava, tirava Vinicius das Acácias,
botava de vez entre a Maria e a Joana,
ali na Senhora da Paz...

Na marra, eu arrumava uns milagres
e pagava pra ver o santo sujo,
o aluno do místico...

Verdadeiro barão de ipanema,
imortal, eclesiástico...

E ainda me faltariam títulos,
e não haveriam adjetivos,
se por acaso não existisse paixão pra explicar...

São sujo,
o defensor das causas imorais.

De Moraes.

domingo, 22 de setembro de 2013

Dos céus

To precisando de uma força de Zeus,
pra fazer chover
e trovejar qualquer dia...

Que é pra eu poder te ligar,
é pra eu perguntar
se você está por acaso precisando de mim.

To precisando de uma força dos céus,
que é pro tempo fechar... num domingo qualquer.

Prometo, juro, eu deixo uma oferenda pra Rá,
se ele tirar uns dias de folga
e deixar Tupã trabalhar...

Caciques do Brasil, tupis-guaranis, kaiowás,
to precisando que se faça chuva,
pro sol de um velho amor voltar a raiar.

To querendo mesmo uma interferência divina,
que é pro céu chorar e fazer sorrir minha vida.

E São Pedro por favor, tenha dó,
piedade de minha alma pagã,
mas é que minha fé, o meu catolicismo barato,
não parece bastar pra fazer chover amanhã.

sábado, 21 de setembro de 2013

Maria Joana

Maria Joana,
fez seu altar na cama,
numa sala com cortinas
perfeitas pra esconder o caos.

Ela faz um tipo esquisito de lunática
que pra mim nem é tão difícil de entender.

Maria Joana,
ruiva, uiva, aceita, deita,
veste, despe, ama e usa...

Aplica!

Porque a vida é tão mais linda,
com amor, com metafísica,
com suas curvas cruzando todos os olhos
no leblon.

Maria Joana,
está entre as coisas prediletas da vida,
menina doce, soltinha, perdida...

Ela não quer fama, Maria Joana,
é tímida e cínica,
maldita e romântica.

Ela é a própria contradição,
é certa e errada,
é beijo na boca e mão na mão.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Daqui dez anos

Ela escolheu o lado torto da vida,
quis assim pra contornar suas avenidas,
pela margem, sem medo...

Pra deixar por aí
todo o gostinho do mel que sentiu,
e que viu escorrer entre as mãos
das atitudes mais turvas
e das vantagens mais estúpidas
que se podem desejar.

E eu vou fazer o que?

Prefiro esquecer,
deixar pra dizer qualquer coisa daqui dez anos...

Quando esfriarem os ânimos,
quando estivermos calmos feito o mar no verão.

Ela escolheu o lado torto da vida,
pra esconder suas fraquezas, suas feridas,
pra deixar por aí impressões sexuais...

Vontades de uma juventude corrida
que pertence a vida de quem pensa
que tudo pode realmente acabar amanhã de manhã.

E eu? Prefiro esquecer...

Deixar pra te ver por acaso,
daqui dez anos, quando esfriarem os ânimos,
quando estivermos calmos
feito o mar nas noites de verão.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Os dias

A noite me entrega verdades
que o dia jamais pôde me vender,
é nela que eu encontro
os desencontros que me prendem a você.

E os dias quase nunca trazem paz,
quase sempre insistem em me lembrar
que tudo está longe demais
de qualquer final feliz...

Eu não estou longe de casa,
mas a milhas e milhas de você,
e honestamente, eu não sei o que devo fazer.

Volta pras minhas areias,
pras nossas pedras lusitanas,
conta pra mim qualquer coisa engraçada,
olha pra mim, não diz nada,
não precisa dizer.

E eu peço pra noite uma benção,
mais uma daquelas estrelas cadentes
que me concedem desejos,
que me deixam viver pra te ver,
pra te ter...

Volta pros meus falsos trilhos dourados,
me diz qualquer coisa, me prometa feriados,
espere o sinal abrir, a chuva ir embora,
e quando o mundo parar de trovejar,
me esqueça...

Porque os dias quando vem,
levam a noite,
e as coisas doces que ela deixa também.

E os dias vem,
todos os dias,
eles vem.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Cartilha

Pressupondo uma quarta feira de cartilha
não posso jogar meu papo
de que o mundo é mesmo uma maravilha...

Já que nem por aqui na zona azul,
do lado certo, na vida certa,
as coisas andam muito bem...

Chove, faz frio,
o vento é norte,
o mar batido.

Trovoa, eu não vôo,
você voa e eu mal rimo.

Sou mesmo um acidente,
uma alma até certo ponto firme,
mas numa existência esfarrapada,
meio nas coxas...

Espero o dia em que ainda vão me arrumar uma personalidade patológica grave,
talvez me eternizem no nome de alguma enfermidade,
algo que até então nem me parece ruim de todo...

Seria interessante pra me resgatar
desse estado que não é mais de graça
e que nem tem tanta graça assim...

Deve haver algo latente,
algo da mente que quando acorda
cisma de destruir essas pequenas felicidades de vez em quando...
mas é só de vez em quando.

Principalmente nesses meios do nada assim,
nas quarta feiras frias do meio do ano,
do meio do mês, no terço mais estranho da vida...

Seletos dias da existência
em que a linda manhã agoniza,
a tarde de sol inferniza,
e a noite estrelada
assassina qualquer rastro do que um dia foi amor...

E com a ajuda da tortura impiedosa das horas,
dos infinitos segundos que são só tédio e silêncio,
gritando, discutindo entre os meus ouvidos,
dizendo coisas que eu não posso falar
e que talvez eu nem pudesse ouvir...

Semeia males inéditos
com hemoterapias românticas,
injetando misantropia via intravenosa,
diretamente na corrente mortífera,
tendo por objetivo atingir a infrutífera parte do sistema límbico.

Sensus in absentia!
Parece feitiço, mas não é bem isso...

É o que eu sinto,
ou melhor...

O que eu não sinto mais.

E que pensando bem
nem sinto muito.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Claro no escuro

Não acenda a luz,
é tudo tão mais claro no escuro
dos seus cachos,
dos seus olhos pretos
que só dizem sim...

E não, não me diga nada mais,
essa sua admiração me corta a onda.

Prefiro que cuspa, xingue, chore,
e diga alguma verdade além de: "te acho lindo,
te acho um cara tão legal, que sorte".

Não me repita essas maldades,
eu jogo com o descompromisso,
é disso que eu entendo,
é nisso que eu acredito...

Eu me viro bem assim com o acaso,
me sinto em casa em qualquer lado,
sempre bem acompanhado pela minha sombra
que quando não quero apago.

E aí de novo no escuro me acho, me encontro sozinho,
de olho fechado, tranquilo, pregado...

Eu prefiro um amor incerto,
eu nunca fui tão certo
ao ponto de pensar ser bom assim
pra bastar pra alguém.

Eu sou o copo meio vazio,
a zebra, o azarão,
eu sou o ás que cai da manga,
o vira-lata, um sem razão...

Eu nunca fui tão bom em nada,
eu nunca quis ser.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Bonaparte

Defendo um qualquer no jogo,
eu sou um fruto infeliz,
divido tudo com minha tristeza,
não sei de nada se ela não me diz...

Mas se preciso for...
eu fabrico a felicidade,
ignoro as duras verdades
encontro a fórmula do amor.

Por você, pra te ver
sorrir de vez em quando,

Eu faria tudo,
tudo que nunca pensei em fazer,

Eu faria desse mundo
o seu objeto de prazer...

Me transformaria num conquistador
com meu exército por toda parte,
seria maior que Bonaparte
e seria tudo por você.

Pintaria o mundo de azul
porque azul é cor do céu
e deixaria o mar decidir
se seria verde ou ia refletir
os meus sonhos... com você.

Eu te daria os sete reinos,
remaria sete mares,
mataria, morreria, viveria por você...

Pra te ver
sorrir de vez em quando.

Pra te ver, só pra te ver
sorrir de vez em quando.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Sangue latino

Gelado por dentro
é só vento que sinto em mim.

Já não faço valer, não faço ferver
o tal sangue latino.

E as vistas que antes me punham de pé,
hoje faço pouco pra não ter que levantar...

Falo de faltas, de mágoas, passado,
já dizem: moinhos que giram em águas amarguradas
não tornam a adoçar novas águas.

Roubaram de mim o meu bem mais importante,
o brilho dos olhos, a vontade de seguir adiante.

Mas quem sabe um dia,
também não passam e roubam essa dor,
essa dor de ser assim...

Gelado por dentro
é só vento que sinto em mim.

Já não faço valer, não faço ferver
o tal sangue latino.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O jornal

Li no jornal que amanhã não vai dar sol,
que bom... porque é segunda-feira
e eu não nasci com esse dom de ter que viver pra crer.

E não tem mistério, não tem crise existencial,
é que eu me viro puro no escuro,
trancado com meu mantra de carnaval...

Eu me protejo, me sinto mais firme
no infinito de um céu nublado,
repetindo amores temporais, odiando feriados.

Eu me saio muito bem
sendo inteiramente seu,
me encontro, me resumo sem remorso por você.

Li no jornal que o seu signo não bate com o meu
e escrevi sem querer o teu nome nas palavras cruzadas,
por nada, eu devo estar louco...

Li no jornal que o Hamilton venceu em Mônaco
e que o âmago de toda relação está no sexo vulgar.
Eu li no jornal qualquer coisa sobre como a vida é dura
e que essa semana vai ter show do holograma do Cazuza...

Li que o mar está cheio de tubarões
e que no futebol ultimamente andam faltando vilões,
que o Egito está em guerra,
que não existe paz na terra nem nos corações.

Todo dia o mundo é devorado nos jornais
e isso me dá um grande alívio de ainda viver
embora a vida lá fora me lembre da saudade imensa
que eu sinto de você...

E mesmo com essa dor,
eu, covarde,
sumi, não pude sair pra te ver...

Porque no jornal dizia que ia chover
e não há guarda-chuva contra você.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Silêncio

Toda noite espero por isso,
como um vício,
o arrepio que acorda,
o susto que traz de volta,
que apunhala essa falta de amor pelo mundo.

Pouco a pouco
e cada vez mais eu acredito
que essa seja a dura realidade
de todo pouco louco como eu...

Saber que a lucidez é um choque,
um veneno dos mais mortíferos e cruéis,
desses que não mata, enlouquece.

Veneno que te acorda
no meio do caos dessa escolta flutuante de maneiras,
desse modos operandi esquizofrênico que rege tudo a sua volta.

Veneno que torna realidade num ato súbito todos os teus medos,
te sufoca e joga na infinita falta de desejos
que vem se tornando esse lugar...

Aí te corta a onda, as asas, o tempo
e põe pra exposição...

Te julga, te maltrata,
transforma em vilão.

Em costume, em rotina,
te corrompe e te transmite a genética da sina
de ser quente, de ser quem sente e sofre,
quem se rende pra tirar do peito uma luz que seja.

Mas que seja, que seja gelado então,
e estupre as regras, mate as feras,
e corte os sete pescoços, dos sete dragões de sete cabeças,
faça 12 trabalhos e jogue alho nessa platéia de vampiros,
arranque pela raiz essa ode aos trágicos vaticínios,
o mundo não é o fim, sim, surpreenda-se, não é...

A história apenas se repete.

Por isso, seja quem é, quem for, quem veio pra ser,
cumpra seus amores, seus desejos,
seja quem quis, seja você...

E vá, siga, siga noutras ondas,
voe com suas asas, faça no seu tempo,
não existe cartilha, não tem palavra mágica,
não existe nenhum grande ensinamento.

Erre, acerte, grite, ame,
ame muito...

E lembre que de certo só há o eco da sua existência,
portanto exista, não seja silêncio.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Tango tenebroso

Em seu nome com muito gosto
resolvi tirar do peito
este elegante tango tenebroso.

E com minha voz mais cavernosa,
à maneira de Sátiro Bilhar,
eu quis dedilhar, quis dedicar
qualquer coisa imponente pra você...

Que é pra te transformar,
num fino encontro etimológico,
num lance meio aristocrático,
um moderno verso estilizado,
tomado inteiramente
pela prosódia intrínseca impecável
que me traz o seu olhar, o seu viver, o seu amar.

Mas de nada adiantou a minha inclinação,
minha vontade foi solenemente ignorada,
e o estro de minha poesia foi marcado,
anulado impiedosamente pela zaga dos compêndios de gramaticidade
que não me trazem verdade e ainda me podam seu amor...

Assim meu tenebroso tango, virou samba,
samba-choro, um lance fossa,
como fosse assim meio Maysa, meio Buarque de Holanda,
apaixonado, um quase trágico e provinciano fado,
fardo doce e amargo,
que no entanto me parece enfim ter se tornado algo mais apropriado.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Termine pra mim

Onde será que ela anda,
onde tem deixado aqueles passos?
Se no mundo parecia faltar espaço,
não acredito que não a tenho mais em minhas vistas...

Onde será que ela anda,
onde desfila aquele bronzeado?
Se por mim viveria mil anos,
não acredito que tenha nos deixado de fato...

Onde será que ela anda,
onde tem cantado caju?
Se pra mim isso ainda é um grande nó na garganta,
não acredito que ela tenha esquecido isso aqui pela sul.

Onde será que ela anda,
onde tem feito amor?
Se em minha cama ela faz tanta falta,
não acredito que não sinta nenhuma ponta de dor.

Onde será que ela anda,
onde tem falado que o mundo acabou?
Se pra mim parecia pura falcatrua
dizem que agora ela atua
com um texto de quem vive louca de amor.

Onde será que ela anda,
onde será que alguém ama ela mais do que eu?
Se pra mim isso tudo é uma faca no peito,
não acredito que os meus pulsos ficaram inteiros.

Não sei onde ela anda,
também não sei o que ela quer de mim,
mas se quiser, é bom que ela saiba
que eu sou dela e que sem ela,
sou eu que não sei pra onde vou.

Eu não sei onde ela anda
e nem desconfio o que ela faz com os meus refrões,
mas é bom que ela saiba, que o mundo pode ser uma farsa,
que esse mundo que acabou, é cheio de ilusões...

E se o tempo passar,
bem como deve, como vai...

Também é bom que ela saiba que tudo passa,
mas que eu ainda vou estar lá,
no dia certo, de cinco as sete,
independente do pileque
e de tudo naquele lugar que me entristece...

Me procure, me resuma como um qualquer,
ainda que seja cruel, enfim...

Apareça e me ajude,
termine isso tudo pra mim.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Jotabê (Jardim Botânico)

Ela é do jotabê
e nem quem vê
consegue crer
que alguém pise tão leve assim...

Flutua entre as faixas
dos discos do papai,
e sabe bem, que quem sonha não dança!

De segunda a segunda,
ela é só esperança
e foge da inércia pela ciclovia
pra virar poesia.

E tem mais...

Ela curte, arranha uma viola,
e tem um sentimento bom que me desarma qualquer hora,

Ela é cool, se amarra em Jethro Tull,
e tem uns olhos castanhos que me deixam full of love...

Ela é minha Gal mesmo sem duna nas areias
e quando cisma caetaneia,
adoça minha vida sem suíta,
amansa meu viver, ela é minha índia,
é a sereia do meu lado da lagoa...

É tão linda,
tão linda quando sobe o humaitá
me doutrinando cheia de certeza e delícia
naqueles olhos raros...
Que nem na casa do mago
existe algo tão certo pra me enfeitiçar.

Ela me hipnotiza de pés nos pedais,
com essa dança de coxas,
esse viver meio aéreo, radiante,
um corpo celeste de alma etérea,
absolutamente hermética, poética...

Flutua pelas ruas
ligada no cheiro do mar,
sem muito se preocupar.

Segue com seu desembaraço
num balanço saturnal...

Segue desmedida
em direção ao inevitável encontro
com os desencontros da vida.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Não importa

Faz frio no Rio
e o teu corpo esguio
hoje me faltou...

Junto do cheiro de mar,
das pedras, do seu olhar.

Mas é verão
e o que todos falam
tem menos valor...

Não me importa
o que os canalhas
andam dizendo do amor.

É verão
e quando faz frio
no calor do Rio
o problema vem do coração...

Todo amor é de verdade
por isso não deixe que os sussurros da cidade
roubem o que isso tem de bom.

Não preste atenção;

Não importa o que os canalhas
andam dizendo no baixo leblon...

É verão.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Se você diz

Se você diz que eu sou seu tipo, meu bem...
mas que mau gosto você tem, neném.

E se você diz que eu valho muito,
deve ser falta de assunto...

Eu não me iludo.

Porque me custa muito crer,
que qualquer coisa boa eu cause em você,
além de você sabe bem o quê...

Eu não sou agradável, não sou lindo,
não sou ninguém, eu não falo muitas línguas
e eu não tenho um vintém...

Nenhum tostão furado,
não tenho um canudo, não fiz doutorado.

Mas também não sou pato,
não sou rato...

Eu sou gato vira-lata,
sem vergonha, sem cascata,
sou da nata...

Coroado rei da lua,
rei da sua vontade de se perder,
vem me ver, me procura,
que eu te juro uma cura
e sumo quando amanhecer...

Por isso se você diz que eu sou seu tipo, meu bem,
eu até te entendo...

Mas é mau gosto isso que você tem, neném.

E se você diz que eu valho muito, está enganada,
eu não valho nada, mas é pura opção...

E se não for por essa noite,
não se iluda comigo não.

sábado, 10 de agosto de 2013

Onésimo

Escrevo-te morto, roto, seco,
com um passo descontinuado,
um viver quase hesitante...

Porque me bate às vezes
essa certeza cruel
de ter perdido o brilho.

Me abate a idéia
de ter perdido o amor,
perdido a chance, o gosto, o sabor...

E aí me pego nessa onda errada,
de olhos vermelhos salgados,
em noites que o mundo parece fugir
e tudo parece estar fora do lugar aqui...

Noites de um solene terror,
em que as horas combinam
por falta de sorte ou capricho do destino...

E todos os sentimentos que me restam,
se apresentam desnutridos,
me expondo de peito em frangalhos,
soluçando, rendido...

Escrevo-te chorando,
verdadeiramente desaguado, traído.

Por tua causa
e culpa minha,
pelos teus olhos
e os meus também.

Hoje sou só tristeza
por que é disso que sou feito sem você.

Um homem fraco, tardo,
que duvida, sorri e desaponta.

Tremendo lamentador, insuportável,
onésimo no último, um árabe num elevador.

Sujeito estranho, fugindo,
procurando qualquer rastro teu por perto
que é pra ter o que sentir...

Mesmo que seja só dor
e que você já não queira mais estar aqui.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Pé na bunda

Amor, me dê um pé,
na bunda...

Que nessa vida imunda
o que eu mais quero é falar de tristeza,
da sua falta, do seu lugar vazio à mesa...
do frio que faz o seu lado da cama,
e da sua detestável mania de dizer que me ama.

Amor, me dê um pé,
na bunda...

E tire da última pétala de flor
um sonoro mal me quer... por amor!
Que é pra ver se eu me manco,
desencanto e canto algo melhor que:
Eu te amo, eu te amo, eu te amo...

Porque eu não me aguento mais
e detesto ser escravo dessa repetição.

Me dê um pé, por favor,
eu não sou de ser feliz...
Tenha dó, tenha dó,
tenha dó de mim.

Eu preciso tanto, amor,
preciso tanto de dor.

Ser feliz anda tão last week
que new wave de verdade hoje é sofrer,
é sofrer e de tanto sofrer
ter que cantar...

Me dê um pé, me desmanche,
e grite as verdades nuas,
me deixe jogado na rua da amargura,
de cara no asfalto, falando alto,
voltando pra casa num arrasto sem igual...

Aproveite e arranje um mandado de segurança
de uns quinhentos metros
e use os métodos mais escusos pra me destruir.

Me dê um pé, e diga o quanto não me quer,
me processe, me restrinja, acabe com a minha vida!

Declare seu desamor
pelos "outdores" da cidade
pra todo mundo ler...

Compre um intervalo do jornal nacional
só pra dizer: "Eu odeio, eu odeio, eu odeio você!"

Benzinho, me dê um pé,
não é pedir muito, faça por amor...
E não me leve a mal,
eu sei que é difícil de entender.

Mas é que a minha onda é sofrer
e tudo anda bem demais com você.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Sabotagem imobiliária

Sentou-se timidamente,
sem nada em mente pediu o da casa,
fazia o estilo discreto,
nem rei nem rato, despreocupado...

E quando me bateu na lente
não parecia ninguém diferente,
era só mais algum costa quente,
metido a modesto assalariado...

Pediu mais uns bons drinques,
sem gelo, sem dignidade,
e pelos traços sentidos
alguma coisa ali era saudade.

Transitou entre mesóclises,
até enrolar o palavreado,
disse ser o barão de não sei onde
com seu rebuscado vocabulário...

Distinto do resto dos seres parvos do recinto,
explicou ainda que arredio
que a partir daquela data não era nada...
Só mais um divorciado
que gastou milhas em honorários
pra ficar com o piano da sala.

Mas que no fim de tudo
só ficou com o seu amor em migalhas,
e um tapete persa enrolado
esquecido em um dos quartos da casa.

Replicante, profetizou o fim dos tempos
quando viu o calendário,
apontou sem pestanejar
numa data da semana passada...

Excelentíssimo senhor,
desnorteado pelo engano,
chamou todo mundo de babaca.

E lá pelas tantas
com tudo já longe das tampas,
chorou, chorou, depois sorriu...

Como quem tem alguma idéia genial,
levantou, pediu uma garrafa e abriu,
chorou, chorou, serviu.

Elogiou o serviço ao gerente,
saiu pela porta da frente
com um andar inabalável
e pensamentos condenáveis...

Se foi, escolheu não ser notícia,
estendeu o seu tapete
naquela sala imensa já meio vazia...

E colocou bem alto o velho disco arranhado,
aquele de oitenta e quatro, do barão.

Escutou silenciado, junto ao barulho do mar,
mentalizou uma quarta-feira de dezembro
e deu a ela um chão vermelho, um céu cinzento.

Sorriu mais uma vez
e se jogou no seu impulso vingativo e ciumento...

Da janela do quinto andar,
só pra desvalorizar o apartamento.

terça-feira, 23 de julho de 2013

A cura

Me deixa só por hoje ser feliz,
não abra sua boca,
nem fale do que acha que lhe diz respeito.

Porque da minha parte é sempre de coração
quando eu digo que não,
que não quero saber como anda o seu...

O seu.

Me deixa viver de longe
e só saber por acidente.

Me deixa viver dessa falta de amor
como quem faz disso um interesse livre-docente.
E me perdoe o tom pedante
mas isso é pela ausência de interesse, amor...

No amor.

É que eu ando ultimamente entretido,
tomado por uns sentimentos, uns estilhaços variados,
algo como um coquetel de dores sortidas,
uma compilação de fracassos...

Eu ando remexendo uns espaços,
lugares que sempre tiveram alguma coisa pra me dizer,
e que escondi muito bem escondido
pra não tropeçar no próprio sofrer.

Tô dando uma volta por aí,
revirando o vão entre os paralelos,
as raízes daquele lugar, das pedras da nossa parte,
que não sei se você sabe
mas continuam sendo parte de um infinito desaguar.

Tô dando uma volta cercado de despretensão,
com uma mão na frente e outra no acaso...

Tô procurando pra não encontrar,
esperando uma chuva de dezembro
que me pegue de surpresa na sua rua,
e traga num tiro, num pingo morno,
aquele tempo que não parou pra você ficar.

É eu tô nessa, tateando qualquer coisa que me faça sentir,
que me faça não querer sumir daqui...

Algo que se misture, sincretize, incorpore
e por dentro detone...

Algo que machuque, que aniquile,
extermine, dissolva, destrua!

Algo que não seja amor
e que me cegue, me triture...

Que só guarde a síntese
e então por milagre ou piedade
me refaça e me cure.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Tudo mudou

Essa noite o acaso quase me pegou
e eu andava distraído...

Foram palavras me alertando sem querer
foi um anjo qualquer que teve pena
porque já sabia o que ia me acontecer.

Era seu dia e nada parecia ser diferente,
lá estávamos: eu, você...
só que não tinha mais a gente.

Tudo mudou, tudo mudou...

E pra não chorar, mascarei,
eu sorri, disfarcei, andei, sumi dali.

Só quis ir pra casa,
pensei em desaparecer,
desistir de viver.

Essa noite o acaso quase me pegou,
e eu andava distraído, ainda sem entender...

Que tudo mudou, tudo mudou.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Stand by

Me desinforme,
preciso de paz.

Não compro esse mundo,
não quero nunca mais.

Em 20 minutos nada deve mudar
e se mudar talvez ninguém precise saber...

O que é que há com vocês?

Me de opção, eu quero dizer não,
ao menos uma vez, eu não quero tudo no on!

Stand by! Stand by me!

Stand by! Stand by me!

Não derrame o clima
assim na minha cabeça,
eu prefiro surpresa, eu prefiro não levar o guarda-chuva,
eu entendo numa boa se Deus tiver a fim de fazer chuva.

Me desinforme por favor,
eu preciso de mais amor,
eu prefiro paz...

Stand by! Stand by me!

Stand by! Stand by me!

Não compactuo com esse lixo,
essas vozes da verdade,
comentaristas dos anais,
os senhores da palavra,
essa gente escrota e triste
que parece viver por nada.

Me dê opção, eu preciso dizer não,
ao menos uma vez, eu não quero tudo no on!

Apague a luz, desligue o rádio,
não ligue o computador...

Quero silêncio que é pra sentir,
pra saber se o problema é óleo no radiador...

Já que meus dois mil cavalos calados
estão reduzidos a pó,
e o meu andar alucinado
virou uma tristeza só.

Stand by! Stand by me!

Stand by! Stand by me!

Me desinforme, tire o uniforme
esqueça o seu crachá, jure pela sua mãe mortinha
que não abrirá a boca se não tiver nada pra falar.

Não despeje o seu discurso pedante
à toa assim nos meus ouvidos,
poupe-me de sua inteligência amarga,
de suas histórias inventadas...

A vida é uma grande piada
e se não tiver graça, não vale de nada.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Fino trato

Hoje eu sonhei com você
e tudo era tão real que parecia mentira.

O mundo não era essa tragicomédia,
esse combinado de descombinos,
esse atar dolorido, esse conto sofrido,
esse repetido desamor que é o frio dos desatinos.

E eu acordei feliz...

Querendo seu corpo, seu vinho, seus vícios,
querendo suas partes nos meus olhos tristes,
seu corpo hermético ensaiando revide,
seu nariz em riste, e vide, veja bem...

Veja só... que dó!

Tem dó de mim,
tem dó que só assim...

Me chego nos seus passos,
me largo sem vergonha nos teus sonhos rasos.

Só assim esqueço das máscaras
pra me aventurar na sua parte,
pra deslizar na tua quadra com esse meu porte covarde.

Largado e salgado de mar,
de corpo inteiro na tua rua,
mas com a cabeça nas tuas curvas...

Pensando se minha covardia tem fiança,
se ainda tenho pra mim suas ancas,
as covas e constelações...

Sabotando a mania de curto prazo,
querendo de novo uma migalha que fosse
daquele amor desmedido de juntar os trapos...

Pensando no bem que me fazia
o seu fino trato.

domingo, 14 de julho de 2013

Gostaria

Em noites como essa
eu gostaria de esquecer o seu nome...

Domingos me pegam de jeito
e eu lembro sem um erro,
o seu endereço e o telefone.

Posso soletrar o dia inteiro sem parar
todos os detalhes
dos seus cantos mais secretos.

Todas as marcas das suas costas,
todas as datas pra se lembrar.

Posso repetir pra eternidade
que a minha metade mais intensa
ficou com você...

Mas também posso sorrir
mesmo andando assim vazio.

Porque se eu chorei,
eu chorei com razão.

E se amei, eu amei porque amar
é um jeito bom de sofrer.

Em noites como essa
eu gostaria de esquecer o seu nome...

Porque me bate um tédio enorme da vida,
largado de madrugada,
vendo o vt de uma partida qualquer...

Eu gostaria mesmo é de não existir
já que não posso te esquecer,
eu não pensaria duas vezes
se de repente eu pudesse sumir...

Desaparecer.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Nada sério

Não entendo,
eu não pego,
não compreendo
esse complexo raciocínio...

Esse amor cínico,
reduzido a terrorismo

Esse atentado pagão
só corpo a corpo
sem mão na mão.

E me perdoa essa crise,
essa bandeira que eu to dando,
falando coisa de quem gosta,
coisa que só fala quem se importa.

Mas é que você merece muito mais do que procura,
do que pensa que te basta, do que vive, do que acha...
Hoje o que te abasta nem te merecia ter por perto.

Por isso eu não entendo,
não pego,
não compreendo
esse complexo raciocínio...

Essa falta de amor,
esse avoar, os conceitos frios.

E me perdoa o ciúme
eu sei que é bobagem,
mas é que as suas palavras
quase nunca me deixam impune.

Eu sofro a beça,
as vezes faço um verso,
mudo o disco, desconverso...

Mas não te entendo,
não concordo com o seu lero-lero,
não acho esse papo sincero, é velho,
é muito velho dizer só que não quer nada sério.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Fecha o mundo

Não abra sua janela,
não deixe o sol entrar.

Feche o mundo pra balanço,
e leve a vida mansa
só pra ver no que vai dar.

Namastê, por quê?
Carpe diem? Carpe noctem?

Mais o quê?

Qual é a sua onda,
me fale do seu mantra,
qual a transa que te prende,
o que te faz viver melhor?

Me fale dos seus deuses,
os do céu ou da televisão...

Me diga algo sobre a revolução,
ou sobre qualquer coisa fútil...

Me diga algo bem inútil,
sobre um célebre sem cérebro,
sobre algum vírus altamente infecto,
genocídio, fale de suicídio...

Me diga qualquer coisa
que eu precise concordar.

Namastê, por quê?
Eu preciso saber!

Carpe diem? Carpe noctem?
E mais o quê?

Me explica essa alegria
que me parece estupidez...

Tem a ver com astrologia?
Cartas? Búzios?
Alguma orgia que eu não fui chamado?
Magia? Sorte? Sacanagem com dados?

Eu preciso mais que o sol,
também nem me ligo mais no mar,
céu azul, a sul, você...

Eu to precisando de alta voltagem,
de superdosagem até regular...
to numa de não pensar em voltar,
dopamina até sumir, bitolar.

Qualquer coisa assim,
triste ou feliz...

Que me faça o olho brilhar.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Quinze dias

Hoje a repetida noite
me trouxe uma sensação nova,
e já fazia tempo
que eu andava descrente de encontrar.

Tem uns bons quinze dias
que eu não falo de você,
e sinto falta de qualquer dor
só pra por o amor em dia.

Anda me faltando aquela vontade
de me jogar da janela do seu andar...
Ainda acho o elevador tão sem graça.

Aliás, hoje eu descobri andando na lagoa
que vão derrubar aquele prédio da nossa quadra,
aquele quase na epitácio...

E eu lembro muito bem de dizer que era alí,
de dizer que a gente ia... ah, é melhor deixar pra lá.

Menina, cê me perdoa?

Mas é que eu me peguei ouvindo umas músicas,
usando umas coisas... e de repente já eram dez pras três.

Eu nem me liguei, só que já tinha tanto tempo
que eu não prestava atenção no Cazuza.

Que loucura, imagina a fissura,
a cara de tacho, a falta de norte...

Que sorte!

De repente eu já estava alto,
muito alto pra acertar o seu telefone,
e ainda meio baixo pra cair no choro, no sono...
Uma linha tênue difícil de se equilibrar.

Hoje a noite ia bem,
e faziam uns bons quinze dias...

Mas agora já posso parar de contar.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Vivo

Nem bem, nem mal
não falem de mim.

Não me vivam,
me deixem.

Não me revivam,
nem me lembrem...

Que eu não vivo,
eu só finjo,
e não me aflijo
com qualquer sentença.

Eu sou a beça,
sou o muito.
O veneno da erva,
santo cristo,
eu sou maluco.

Sou narciso, largado no mundo,
sou a luz dos olhos teus,
o coração vagabundo.

Sou wave, soul brasil,
com "s" de sex appeal.

Sou planet copacabana,
eu sou bacana aqui da terra de santa cruz.

Sou verso puro,
ato sujo, mente sã,
corpo doente, corpo clemente,
da vista doída
aparada nas lentes rayban.

Sou eu, sou meu,
só meu.

Sou nada, sou poeira das estrelas,
sou o lixo da galáxia.

Enterrado no autoflagelo
de uma derretida solidão.

Num deleite também meu, só meu,
num banquete egoísta de palavras
trançadas sem grande exatidão.

Sou eu, sou meu,
o vivo de ontem, morto de amanhã.

Que dorme no céu rajado
e acorda no escuro da noite,
pelo amor dos seus, dos meus e de toda paixão,
pelo saturnal terror de que isso tudo não passe de um ensaio
pro o acorde maior.

O momento em que todos os ruídos
se juntarão ao silêncio
e irão detonar a espiritual inércia dessa falha forma.

Vão urrar o terror,
o prelúdio ao mistério terrível,
o único infalível destino, que é partir.

Nem bem, nem mal,
não falem de mim.

domingo, 23 de junho de 2013

Marrentismo praiano

Sabe assim olhar em volta
e de repente se encontrar...

É só aqui nessa cidade
onde dá pra ser feliz e nem desconfiar,
ir a praia qualquer dia
e no caminho se apaixonar.

Porque o sol te chama
e te escraviza o dia inteiro,
te joga no vai e vem irresistível de ser solteiro,
numa onda, um passo rasteiro,
de quem segue tropeçando só pra ver no que vai dar.

Se esguiando por aí,
na ponta dos pés, entre os corações,
morrendo de amor, vivendo eternos verões.

De janeiro a janeiro,
sal e rio de janeiro...

É preciso agradecer
e vir ver pra crer,
viver pra crer!

Que nas areias tem meninas,
tem garotas de ipanema, tem seu tipo,
seu esquema, sua grife, mundo livre,
aqui só não tem problema.

De janeiro a janeiro,
sal e rio de janeiro...

Um eterno fevereiro,
é preciso agradecer!
E vir ver pra crer,
viver pra crer!

Que por todos os lados
tem os amigos e os chegados,
domingo tem chopp gelado e gol lá no maracanã,
e se a cadeira é numerada, eu não me rendo,
eu não me calo, ver jogo sentado só quando for setentão.

De janeiro a janeiro
sal e rio de janeiro...

É preciso agradecer!
E vir ver pra crer,
viver pra crer!

Aquele abraço pro meu Deus,
pro seu, o pai do nosso redentor,

Aquele abraço pra você
que aplaude o pôr do sol no arpoador.

É que eu nasci na gema
e o resto desse mundo
hoje não me envenena...

Que eu sou carioca, eu sou fino,
eu sou rico, eu sou pobre,
eu sou branco, preto, moreno,
mulato, marrento, eu sou nobre...

Que eu sou carioca,
eu sou sul e também sou norte,
eu sou o sol forte, eu sou o mar de Iemanjá.

É que eu sou carioca, eu sou a ginga,
a finta, a lenda...
eu sou o amor a toda prova,
o funk, o samba e a bossa nova...

Eu sou foda!