As luzes se apagam lentamente,
fantasmas sobem as escadas,
voltam para os casarões...
Com suas roupas de baile
e os seus modos da côrte,
ouço o sotaque lusitano,
o império ainda prospera noutros planos.
Os bichos se espreguiçam,
o som dos pássaros toma o quarto...
e a noite num susto,
enfim dá seu adeus.
O horizonte clareia,
o sol covarde invade a sala,
queima as cortinas,
queima meus sonhos, rouba minha onda,
esquenta, se deleita nas horas do dia,
ri de mim e das minhas manias,
tripudia sob meu frio enclaustro.
E eu me sinto um louco,
um estranho rastejando nas sombras,
pedindo uma força das nuvens,
um milagre dos céus...
Esse é o meu jeito
de sentir o seu perdão,
de sentir qualquer perdão...
De fingir que tudo ainda está feliz,
que tudo que escutei é realmente o que devo sentir
e é o que devo falar, repetir pra sempre...
Não devo mais fugir,
preciso me render,
me arrepender, me redimir,
deixar crescer a luz em mim.
Mas o sol quando vem,
desarma e joga no meu peito aquilo tudo
que não se deve mais lembrar,
me lança numa agonia ressequida,
doída, difícil de enganar...
Covarde,
laça, prende, o sol me parte,
me corta o coração,
me julga e executa na luz do meio dia,
no raio que racha o chão de terra batida,
sol que mata, que maltrata,
que ata mais o nó dessas feridas...
E isso não é só cisma,
esse é peso de sofrer
junto ao castigo de lembrar...
De saber que nada agora faz sentido
sem a noite pra me por no lugar.
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