quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A indiferença

- Parte primeira

Odeio sua auto-suficiência
e amo você de todo coração.

Odeio seus teatros,
suas obras, desacatos,
mas amo todos os seus papéis,
todos os seus retalhos.

Odeio a tarde quente sem você,
porque eu amo sempre
o que há de mais frio em nós dois.

Odeio estar longe demais,
eu amo essas duas quadras,
eu amo as nossas estacas.

Odeio a idéia de te perder,
porque te amo.

Odeio tanto, tanto,
que às vezes odeio você.

- Parte Segunda

Eu amo fazer de você meu sonho de paz
e odeio ver nosso cenário se desintegrar,
eu amo esse lugar.

Odeio ver tudo se desconstruindo
pela idéia do progresso.

Mas enquanto amo você
de muito pouco importa o resto.

Odeio notar que as esquinas da nossa zona azul
ficam tão diferentes com o passar dos anos,
odeio mudanças.

Eu amo o jeito como você surta
e enuncia barbaridades,
e amo mais ainda essa maneira doce de falar
que faz tudo soar tão sincero, tão leve,
digno, indiscutível.

Odeio ver mundo,
mas amo o mundo
quando penso que o mundo todo pode ser você.

Odeio me distanciar,
tenho medo do fim,
medo de ver tudo mudar.

E em nome disso tudo
eu seguraria qualquer barra,
eu entraria em qualquer onda errada...

Só pra ter certeza,
pra não permitir que os maus hábitos
emitissem um ruído que fosse na nossa história,
nos nossos cantos, nossos segredos,
nos nossos olhos salgados pelas tantas besteiras.

Eu faria de tudo pra defender
pra proteger toda a ternura de nós dois
do rompante inexplicável que é o desamor.

A apatia, o desinteresse,
o desespero legítimo dos corpos unidos
e das almas distantes.

Ah, eu me vitimaria de olhos impávidos
somente pela certeza de aniquilar para todo sempre
qualquer possibilidade de ver nascer a indiferença entre nós.

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