quarta-feira, 27 de março de 2013

Só que...

Eu não gosto tanto de você
que eu não pense em te matar às vezes,
só às vezes...

Nos dias que a lua crua me acorda
e pede que eu lhe chame,
pede que eu insista no vexame que é te amar.

Nos dias que você me joga com as palavras
nesses abismos de sentimentos destrutivos.
Pensamentos tão mortais,
dilemas pouco nobres desses pobres mortais.

É que eu não gosto tanto de você
pra sustentar incondicionalmente
o seu intrépido silenciar...

Eu não gosto tanto de você
que eu não pense em te matar às vezes,
só às vezes...

Nesses dias que você me acorda
pra dizer que é porque eu te falto
que você precisa se completar.

Precisa de alguém pra toda hora,
alguém com quem você acha que pode contar.

Só que eu não gosto tanto de você,
eu não gosto tanto de você,
eu não gosto tanto de você...

Porque eu gosto muito de você pra te amar.

terça-feira, 26 de março de 2013

Ninguém gosta do Lobão

É difícil vender as verdades cruas,
botar sentimento cantando as ruas,
frequentar a madrugada
e ainda viver falando de amor por nada.

Complicado destrinchar as histórias,
as drogas, as passadas tortas,
e desviar das faixas traçadas no asfalto,
dos desejos trancados no canto escuro do quarto.

É difícil abstrair toda a estupidez da burguesia,
a pequenês da alma, toda essa anestesia
que está entregue ao mundo inteiro...

Que está por toda parte nesse lado fútil onde a vida ainda é boa,
o mundo dessa gente que nasce e morre à beira da lagoa,
junto ao lixo flutuante, a pétrea falta de caráter,
o implícito vilão de hoje ou de antes...

Que ainda guia todos aqueles que vivem dos olhos de lince,
que rondam disfarçados feito abutres nas mesas da alta,
se encostam, se dobram, interpretam sinceros,
e se alimentam daqueles que estão sempre muito loucos no baixo leblon.

Mas não, não há mais nada lindo pra se ver,
não há mais nada...

Não há nada que se cante como antes,
nada nobre pra se ver aqui,
não há desejo mais puro que um tiro no escuro,
roleta russa numa mesa de jogo, branca de pó.

Não há mais nada pra comemorar,
nada mais lindo que um suicida.

E é por isso que hoje é tão fácil
entender porque ninguém gosta do Lobão...
é que é bem mais fácil cantar que ela é carioca
do que insistir que essa noite não.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Subúrbio

Passando na linha vermelha
com a agonia da luz amarela
alertando sobre a falta de combustível...

O verde do mato molhado pela chuva de verão
me trouxe um pouco de medo... Por que não?

Senti na pele a falta de tudo que não tinha ali,
o medo da vida sofrida que havia dentro de todas aquelas janelas.

O desconsolo profundo e verdadeiro do mundo em preto e branco
daquele senhor que estava lendo, sentado num terraço entulhado
em companhia de um varal esticado e cheio de roupas...

Com mil carros passando por cima da sua cabeça,
por todos os dias, por todas as noites.

Nesse momento senti um inexplicável medo suburbano,
uma vergonha do orgulho tijucano.

Uma claustrofobia incurável
da tristeza de bater os olhos todos os dias nesses quadrados,
na vista suja por todas essas toneladas de concreto armado.

Senti um desgosto, um aperto no peito,
me bateu um preconceito, uma incapacidade de viver.

E em seguida com mais calma...

Eu só tinha uma vontade imensa de dormir,
fechar os olhos e acordar no rebouças,
de fugir daquela realidade e só acordar dando de cara com a Lagoa.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Um verso suicida

Quatro e trinta de uma noite meio cinza,
de um dia já distante
onde seus olhos foram me visitar.

E depois daquela tarde
foi bom pegar a chuva na lagoa
me lembrou que a vida é doce,
e mais uma vez, que nada é tão bom quanto ipanema no ar.

Hoje você é o motivo da minha alegria...
e se bem me lembro, era também da última vez.

Hoje você me fez lembrar o gosto de um sorriso
e eu nem lembrava que pra sorrir mesmo era melhor amar.

Mas agora pouco a chuva bateu na janela
e eu acho que depois da euforia do reencontro,
o que me bateu mesmo nessa chuva, foi uma chuva de verdades.

E aí, quase sem sentir...
eu fiz um verso suicida pra você,
fiz em meio aos clarões do horizonte, do céu em chamas,
do caos que todo esse caos me proporciona internamente.

Eu fiz um verso, primeiro em mente, depois papel.
E antes descrente eu não comprei,
achei que não era sério, só que a vida não é só mel.

E então pra ser...

Eu escrevi no verso,
no verso do verso suicida que eu fiz pra você.

Que eu não sei porque você vai sempre embora...
e que já não é de agora que eu não quero que você vá.

Só que aí lembrei que pra você ler o verso desse verso,
era preciso que eu me fosse.

E se assim fosse...

De nada adiantaria o que eu escrevi,
no verso do verso suicida que eu fiz pra você.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Trombei

Trombei, bati, corri com reis nas mãos,
se fez, não faz, desfaz e amém.

Todo dia não tem nada demais,
não tem nada pra mim aqui e além...

Cinco e trinta, trinca, de baixo da língua
e escorrega a vida nessa linha.

Confunda o asfalto e o mar.

Confunda o amor com qualquer coisa.

O cerol por aqui anda fino,
o rodo passa, a rede puxa,
o anzol fere quem será ferido,
fere quem será ferido.

Mas a vida anda linda, leviana,
essa vida tem valido alguns tostões por aqui,
alguns mil réis, alguns papéis, papéis...

Com suas loirinhas padrão,
desfilando os amores nos olhos
e seus poderes ilusórios pelas ruas do leblon,
com vestidos de algodão,
com seus vestidos de algodão doce...

Doce, doce, doce...

Doce, doce, doce...

Nas quinas da cidade,
trombando brancas lagartinhas
e seus cristais, suas gotinhas...

Acredite que é pura, espuma, bota pra fora o medo,
a caretice hoje é toda minha e não tem mais segredo.

Marquemos pedaladas pelo céu,
marque de marquei aquele só com os seus...

Ou marque com uma daquelas, com aquela colada no céu,
com aquela colada no céu, colada no céu da boca.

Trombei, bati, corri com reis nas mãos,
se fez, não faz, desfaz e amém irmãos.

A vida é doce...

Doce, doce.

E ainda é cedo...

Cedo, cedo demais.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Não interessa

Não te amar
é algo que soa tão triste...

Há um tempo atrás não faria sentido,
acho que é por isso que me sinto tão vazio.

Mas continuo vivendo dependente desse meu ninho,
meu caminho muito pouco pleno de mato e mar.

Correndo contra todo esse tempo que eu tenho de sobra...
ainda meio cambaleante, devagar.

Há um tempo atrás nada disso faria sentido,
seria como ver um concord no céu sem ouvir um ruído,
seria como torcer pro flamengo e ainda desejar estar vivo.

Só que os tempos hoje são outros...
eu cansei de você.

É, agora vai ser assim, direto.

Não tem porque suavizar,
não te quero bem,
não te quero perto...

Qualquer mentira sincera já não interessa.

terça-feira, 5 de março de 2013

O início, o fim e o meio

Nesse momento há um casal que não se entende,
há um adeus e o até logo,
um abraço e um desamparo.

Nesse momento a cidade acorda,
enquanto muitos de nós dormem
e vivem com medo do sol.

Com medo de que as ruas cobrem,
com medo do que as ruas cobrem.

Nesse momento há um amor
destruído por um amante,
há causas nobres que destroem diamantes,
há vidas tortas que não escondem seus pensamentos infames.

Sem medo de que as ruas cobrem,
sem medo do que as ruas cobrem.

Nesse momento há um sinal fechado,
há um desaforo e um muito obrigado.

Também existem nuvens e ondas quebrando na areia,
o sudoeste que sopra, o coqueiro que dobra,
a menina que corre pela endorfina na veia.

Nesse momento há o desejo,
um lampejo...

Há um desacato, um olhar abismado,
um tapa, um tiro, um beijo.

Há um início, um fim e um meio.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Não é comigo

Talvez tivesse mesmo que ser assim
e hoje eu nem ligo...

Pra começar é melhor dizer,
amor não é comigo.

Parece milagre e nem tem tanto tempo,
eu não sei o que eu esperava...

A caixa de pandora dos seus sonhos
era minha surpresa da vida,
minha alegria sem hora de chegada ou de partida.

Talvez eu tenha culpa
e se por acaso tenho ela é toda minha...

Você nunca ligou, nunca deu a mínima.

E pra começar eu preciso dizer
que aprendi direitinho e nem foi com você.

E se parece problema, não é...
Também não é drama, não é cinema.
Não, não tem vingança,
é tudo mais simples do que isso, isso aqui é Ipanema.

Pra todos os lados
existem mil jeitos de te esquecer.
E eu já nem acredito que antes
trombava em todas as esquinas com você.

Que tudo era tão turvo e quente,
que os olhos embaçavam com o vento vindo desse mar de gente.

Que qualquer par de olhos claros
me lançavam na armadilha de lembranças
que são aquelas luzes lá de cima...

E aquela vista de vento e paz
largada em meio ao caos
dos nossos imensos precipícios sentimentais.

Mas ainda te imagino espiando, de cima, de longe...
de olho na vida passando pela visconde pirajá,
nos postes apagados da barão da torre,
e na jogatina das calçadas na rua do poeta
que para despudoradamente pra secar o vai e vem de todas elas.

E depois de tudo isso...

Se foi, é porque talvez tivesse mesmo que ser assim
e hoje eu já nem ligo...

Pra começar é melhor dizer,
amor não é comigo.