É difícil vender as verdades cruas,
botar sentimento cantando as ruas,
frequentar a madrugada
e ainda viver falando de amor por nada.
Complicado destrinchar as histórias,
as drogas, as passadas tortas,
e desviar das faixas traçadas no asfalto,
dos desejos trancados no canto escuro do quarto.
É difícil abstrair toda a estupidez da burguesia,
a pequenês da alma, toda essa anestesia
que está entregue ao mundo inteiro...
Que está por toda parte nesse lado fútil onde a vida ainda é boa,
o mundo dessa gente que nasce e morre à beira da lagoa,
junto ao lixo flutuante, a pétrea falta de caráter,
o implícito vilão de hoje ou de antes...
Que ainda guia todos aqueles que vivem dos olhos de lince,
que rondam disfarçados feito abutres nas mesas da alta,
se encostam, se dobram, interpretam sinceros,
e se alimentam daqueles que estão sempre muito loucos no baixo leblon.
Mas não, não há mais nada lindo pra se ver,
não há mais nada...
Não há nada que se cante como antes,
nada nobre pra se ver aqui,
não há desejo mais puro que um tiro no escuro,
roleta russa numa mesa de jogo, branca de pó.
Não há mais nada pra comemorar,
nada mais lindo que um suicida.
E é por isso que hoje é tão fácil
entender porque ninguém gosta do Lobão...
é que é bem mais fácil cantar que ela é carioca
do que insistir que essa noite não.
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