sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Passionais

Pego emprestada a tua dor
pra ir dormir em paz no escuro,
pego e reviro na cama
pensando se você me ama.

Ah, bom saber,
bom lembrar de vez em quando,
que eu sou fruto dos teus
delírios passionais,
que eu sou só mais um
dos teus desejos mais carnais.

Pego emprestado do mundo
mais um pouquinho de escuro,
porque eu preciso de sombras,
pra vagar nos escombros
do que um dia eu chamei de coração.

Pego na marra isso tudo,
divido, reparto, distribuo,
eu saio por aí pra me perder,
pra esquecer que eu não dou futuro.

Ah, tão bom saber,
bom lembrar de quando em vez,
que eu não sou nada pra você,
não sou nada, vezes nada,
absolutamente nada.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Imagem do dia!


Temperamental

Engoliu a seco logo que acordou
mais um dia de fevereiro sem ventilador,
desceu todas as escadas do prédio,
o elevador estava quebrado,
ele mal podia acreditar como era azarado.

Mais um dia frio em frente a televisão,
chove canivetes e não é chuva de verão,
o terno na janela molhou e ele nem viu,
amanhã vai odiar todos os dias de abril.

Dezembro chegou, ele consertou o ventilador,
jurou que seria um homem de mais amor,
e aos pés da menina mais querida, ajoelhou,
fez o grande pedido, e ela não aceitou.

Engoliu a seco só no dia seguinte,
desceu as escadas vestindo seu terno de mais requinte,
parou no décimo andar porque aquele era o do vizinho
que reclamava o tempo inteiro e nem era velhinho...

Aquele era um dia frio, um dia cinza especial,
incomum e detestável, e ele estava muito instável,
abriu a porta do rapaz com apenas um chute certeiro,
mijou no tapete, pintou tudo de vermelho,
pensou então que só faltava um final perfeito...

Se jogou da sacada naquele sábado frio,
não queria mais nada, sujou o meio fio.

Se jogou da sacada naquele sábado frio,
não queria mais nada, sujou o meio fio.

Voltar pra lá

Ainda tenho lapsos muitas vezes,
não sei porquê, mas funciona como vertigem,
tudo ganha cores às vezes,
as coisas ficam menos feias,
e a cidade menos nociva, as pessoas mais amáveis,
e o ar mais puro e fácil de respirar...

É uma coisa muito esquisita,
dá de repente uma tranqulidade,
sente-se a pureza escapar por entre os dedos,
e os medos, os medos nem existem mais.

É como em cena de cinema,
mas cena de filme antigo,
filme barato e bonito.

Eu ainda tenho esses lapsos,
mas me dói pensar que eu vivia permanentemente nesse estado
e que deixei o mundo me tirar dali...

E agora esqueci como faz pra voltar pra lá,
agora eu não sei mesmo como é que faz pra voltar pra lá.