sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Tango tenebroso

Em seu nome com muito gosto
resolvi tirar do peito
este elegante tango tenebroso.

E com minha voz mais cavernosa,
à maneira de Sátiro Bilhar,
eu quis dedilhar, quis dedicar
qualquer coisa imponente pra você...

Que é pra te transformar,
num fino encontro etimológico,
num lance meio aristocrático,
um moderno verso estilizado,
tomado inteiramente
pela prosódia intrínseca impecável
que me traz o seu olhar, o seu viver, o seu amar.

Mas de nada adiantou a minha inclinação,
minha vontade foi solenemente ignorada,
e o estro de minha poesia foi marcado,
anulado impiedosamente pela zaga dos compêndios de gramaticidade
que não me trazem verdade e ainda me podam seu amor...

Assim meu tenebroso tango, virou samba,
samba-choro, um lance fossa,
como fosse assim meio Maysa, meio Buarque de Holanda,
apaixonado, um quase trágico e provinciano fado,
fardo doce e amargo,
que no entanto me parece enfim ter se tornado algo mais apropriado.

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