sábado, 10 de agosto de 2013

Onésimo

Escrevo-te morto, roto, seco,
com um passo descontinuado,
um viver quase hesitante...

Porque me bate às vezes
essa certeza cruel
de ter perdido o brilho.

Me abate a idéia
de ter perdido o amor,
perdido a chance, o gosto, o sabor...

E aí me pego nessa onda errada,
de olhos vermelhos salgados,
em noites que o mundo parece fugir
e tudo parece estar fora do lugar aqui...

Noites de um solene terror,
em que as horas combinam
por falta de sorte ou capricho do destino...

E todos os sentimentos que me restam,
se apresentam desnutridos,
me expondo de peito em frangalhos,
soluçando, rendido...

Escrevo-te chorando,
verdadeiramente desaguado, traído.

Por tua causa
e culpa minha,
pelos teus olhos
e os meus também.

Hoje sou só tristeza
por que é disso que sou feito sem você.

Um homem fraco, tardo,
que duvida, sorri e desaponta.

Tremendo lamentador, insuportável,
onésimo no último, um árabe num elevador.

Sujeito estranho, fugindo,
procurando qualquer rastro teu por perto
que é pra ter o que sentir...

Mesmo que seja só dor
e que você já não queira mais estar aqui.

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