segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Lonjuras

Enquanto eu tiver
alguma coisa pra dizer,
alguma coisa em mim
vai estar gritando você...

Porque é por isso que ainda vivo
e mantenho como um vício esse fascínio
pelo mundo violento que você me apresentou.

Cada poro do meu corpo
é como um louco diferente
dentro de um só eu...

E ainda que esses átomos todos se rebelassem,
ainda que em vida todos eles me trocassem,
haveria alguma coisa inexplicável pra sentir,
certamente eu ainda teria um grito de amor seu em mim.

E é por isso que enquanto tudo isso me corrompe o amor a vida,
tropeço com você em nobre horário,
explorando outras feridas, repartindo os olhos mel,
entregando ao mundo o céu do meu agora ínfimo paraíso.

O meu último e real desejo puro de criança,
pra quem quiser olhar, bem ali na frente,
perfeitamente intocável, já sem nenhuma esperança...

E é assim que chego ao ponto
onde me arrasto pelos cantos,
procrastinando, relendo todos os cantos
que eu nunca cantei pra você...

Todos os que eu fiz por não ter mais o que dizer,
não ter mais com o que lutar
e nem saber pra onde correr...

Enquanto você me faz pensar que fui escola,
cobaia, laboratório, um ensaio...

Alguém que reagia as esmolas
de qualquer atenção que você estivesse disposta a dar,
de qualquer textinho pronto,
qualquer coisinha com algum amor nos olhos e uns diminutivos.

E é por isso que enquanto tudo isso acontece,
o que me resta é me agarrar a alguma prece,
alguma informalidade mundana,
um troço que não me roube
e nem envenene essas doces lonjuras
das coisas melhores da vida...

E que ainda alimente alguma distância saudável
além da natural,
entre a cabeça e o coração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário