terça-feira, 23 de julho de 2013

A cura

Me deixa só por hoje ser feliz,
não abra sua boca,
nem fale do que acha que lhe diz respeito.

Porque da minha parte é sempre de coração
quando eu digo que não,
que não quero saber como anda o seu...

O seu.

Me deixa viver de longe
e só saber por acidente.

Me deixa viver dessa falta de amor
como quem faz disso um interesse livre-docente.
E me perdoe o tom pedante
mas isso é pela ausência de interesse, amor...

No amor.

É que eu ando ultimamente entretido,
tomado por uns sentimentos, uns estilhaços variados,
algo como um coquetel de dores sortidas,
uma compilação de fracassos...

Eu ando remexendo uns espaços,
lugares que sempre tiveram alguma coisa pra me dizer,
e que escondi muito bem escondido
pra não tropeçar no próprio sofrer.

Tô dando uma volta por aí,
revirando o vão entre os paralelos,
as raízes daquele lugar, das pedras da nossa parte,
que não sei se você sabe
mas continuam sendo parte de um infinito desaguar.

Tô dando uma volta cercado de despretensão,
com uma mão na frente e outra no acaso...

Tô procurando pra não encontrar,
esperando uma chuva de dezembro
que me pegue de surpresa na sua rua,
e traga num tiro, num pingo morno,
aquele tempo que não parou pra você ficar.

É eu tô nessa, tateando qualquer coisa que me faça sentir,
que me faça não querer sumir daqui...

Algo que se misture, sincretize, incorpore
e por dentro detone...

Algo que machuque, que aniquile,
extermine, dissolva, destrua!

Algo que não seja amor
e que me cegue, me triture...

Que só guarde a síntese
e então por milagre ou piedade
me refaça e me cure.

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