Sentou-se timidamente,
sem nada em mente pediu o da casa,
fazia o estilo discreto,
nem rei nem rato, despreocupado...
E quando me bateu na lente
não parecia ninguém diferente,
era só mais algum costa quente,
metido a modesto assalariado...
Pediu mais uns bons drinques,
sem gelo, sem dignidade,
e pelos traços sentidos
alguma coisa ali era saudade.
Transitou entre mesóclises,
até enrolar o palavreado,
disse ser o barão de não sei onde
com seu rebuscado vocabulário...
Distinto do resto dos seres parvos do recinto,
explicou ainda que arredio
que a partir daquela data não era nada...
Só mais um divorciado
que gastou milhas em honorários
pra ficar com o piano da sala.
Mas que no fim de tudo
só ficou com o seu amor em migalhas,
e um tapete persa enrolado
esquecido em um dos quartos da casa.
Replicante, profetizou o fim dos tempos
quando viu o calendário,
apontou sem pestanejar
numa data da semana passada...
Excelentíssimo senhor,
desnorteado pelo engano,
chamou todo mundo de babaca.
E lá pelas tantas
com tudo já longe das tampas,
chorou, chorou, depois sorriu...
Como quem tem alguma idéia genial,
levantou, pediu uma garrafa e abriu,
chorou, chorou, serviu.
Elogiou o serviço ao gerente,
saiu pela porta da frente
com um andar inabalável
e pensamentos condenáveis...
Se foi, escolheu não ser notícia,
estendeu o seu tapete
naquela sala imensa já meio vazia...
E colocou bem alto o velho disco arranhado,
aquele de oitenta e quatro, do barão.
Escutou silenciado, junto ao barulho do mar,
mentalizou uma quarta-feira de dezembro
e deu a ela um chão vermelho, um céu cinzento.
Sorriu mais uma vez
e se jogou no seu impulso vingativo e ciumento...
Da janela do quinto andar,
só pra desvalorizar o apartamento.
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