terça-feira, 23 de maio de 2017

Portugofilosófico

As rosas secam nas paginas amareladas
dos seus versos preferidos...

E aqui de cima das pedras hoje eu vejo que as areias
estão mais brancas que o normal,
e as minhas lusitanas na canela,
gritam a saudade de um outro carnaval...

Porque ainda que ela respire longe e viva outros ares,
ainda que ela só pise leve por aqui pra eu não notar,
os cantos dessa casa e as ruas desse lugar
guardam aqueles passos,
guardam esses rastros que não me pertencem,
e que só me enchem de saudades.

São pontos pra ninguém botar defeito,
coisas tomadas e deixadas por pressa e despeito,
objetos largados que só fazem o efeito contrário,
são lembranças dos tempos de rei,
são os dias de sumiço riscados no quarto.

E mesmo que brindado com esta conformada forma de viver,
com esse jeito omisso, pacato,
de aceitar e pronto,
de levar a vida, ser feliz e ponto...

Não há nada nesse mundo que me assuste mais
do que não poder contar e cantar
o meu tropeço nos sonhos dela...

Nada que me assuste mais do que ver os anos
jogando outras cartas no baralho,
me tratando de otário e sumindo com tudo que eu amei.

Esmerilhando as dores mais lindas,
jogando no sol pra curtir,
fazendo elas acreditarem que vão se dissolvendo sem peso na alma,
amalgamando o sofrer do amar em vida e corpo,
em dor que bate... coração!

Pulsando a mais viva forma de se sentir a paz,
jogando nas veias com o sangue pra se dissipar,
trancando nos cantos do corpo os desejos
e as lembranças que não se devem fazer lembrar.

Sim, essas são as minhas ilhas de paz!

Guardadas com algum medo, só pra ainda me manter refém,
em forma de um arquipélago de desastres póstumos,
vigiado pelos dois mil cavalos calados de sempre,
e tomado nas margens pelas águas choradas,
e as caravelas roubadas de todo o meu lamento portugofilosófico.

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