Eu não posso lembrar que te matei,
preciso deixar que passe,
preciso que não haja êxtase,
que não me acelere os batimentos,
que a sensação esteja permanentemente no passado.
Eu não posso lembrar que ainda hesitei,
que eu estava alterado,
que o mundo girava e tudo estava confuso;
sempre vivi em outro fuso,
sempre vivi do meu desinteresse crônico por tudo,
até que te encontrei,
e então eu te matei,
eu te matei para que passasse.
Para que a vida em mim crescesse,
que houvesse uma outra descoberta,
e que o estado de alerta em que eu fiquei fosse mais longo,
para que a tua alma que me assombra fosse embora,
e que as tuas falsas falas que ainda ecoam
fossem logo pra um outro plano,
para que fosse possível que eu apenas passasse um pano
e esquecesse que matei você,
que te arranquei da vida,
que te expulsei da minha, que te esqueci.
Por isso eu não posso lembrar que te amei,
que te matei, que amei demais, não posso lembrar,
lembrar que te amei, e que hesitei,
que esqueci porque não posso nem lembrar,
não posso permitir, preciso que esteja morta,
mas não matei, eu hesitei, eu só amei,
amei, amei demais.
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