sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Esvaecimento

De forma um pouco discreta,
tenho enfim feito as pazes com meus poetas,
e assim, ando mais conformado com as tristezas do mundo,
não que eu não me frustre com as maldades,
mas é que como disse um dos meus;

"O amor acaba."

E eu penso que tendo esse cenário como certeza,
a tristeza sempre vence, ela sempre há de vencer,
porque a felicidade não é plena,
e nem a alma mais pura,
nem a existência mais serena,
estará a salvo de um fim trágico,
de um grande horror,
de um derradeiro fracasso.

De forma muito, muito discreta,
tenho feito enfim as pazes com meus poetas,
e assim sendo,
volto ao meu dramático esvaecimento.

Imagem do dia!


Dor demais

Algo dilacera o meu peito,
uma dor que se sente aguda dos pés a cabeça,
é difícil respirar,
já não sei como se vive,
como se faz pra pôr os pés fora de casa.

Dizem que pode ser depressão,
e que há remédios que me fariam viver,
mas se é dor, e se é minha,
como a chuva, deixe chover,
disso não morro, disso não vou morrer.

Sinto como se o teto desabasse,
e se não tiver teto é como se o céu descesse muito,
o mundo é um enclaustro escuro, um cenário absurdo,
o sol me enjoa e o frio consola,
a chuva é uma festa,
e o calor me esfola...

Vivo sem certezas, sem contar as luas cheias,
sem saber do mês que vem,
sem fazer questão de quase nada,
sofrendo faltas impreenchíveis,
saudades que nem me pertencem,
e preocupações que me adoecem,
fazendo com que ninguém nunca perceba,
passo pelos dias como quem deseja
que toda essa dor um dia apenas ceda.

Esperando sempre um braço amigo,
e um pouco de amor também,
gosto de pensar que ainda sou querido,
pra não findar romantizando um suicídio.

Maus bocados

Amanhece na cidade como sempre amanheceu,
e eu canto só pro mundo,
com o amor que Deus me deu,
desavisado e esfarrapado,
eu sigo cantando espalhado,
não sigo seus planos baratos,
eu vivo aprontando,
eu vivo dos meus maus bocados...

Nem sempre sabem se estou vivo,
as vezes vivo como quem morreu,
e choro pelos cantos,
colhendo as letras dos meus novos cantos,
esquecendo meninas na vida,
deixando amor pelo caminho...

Amanhece na cidade, como sempre amanheceu,
e eu canto só pro mundo,
vivendo um novo amor que apareceu,
desavisado e muito mal cuidado,
eu sigo cantando embrasado,
sem seguir nenhum plano barato,
eu vivo aprontando,
eu vivo dos mais velhos fatos.

Imagem do dia!