a felicidade é que sempre me causa estranheza,
algo que sempre levei em conta
para tentar compreender os parvos,
ou então pra admirar aqueles muito inteligentes
e donos de almas velhas.
Pelos muitos anos que falo disso,
sempre sinto e penso que me repito,
mas é que o sentimento por ela não muda,
não transmuta, não difere jamais.
A tristeza sem dúvida é planície,
descampado muito certo,
chapadão a perder de vista,
estepe muito fértil repleta de doçuras finas e sabores ternos,
lastros de tudo aquilo que já foi felicidade um dia,
e que hoje é planura, planalto, coisa linda.
Tristeza não é só melancolia, bile negra,
é preciso tratar disso com clareza,
tristeza é a existência prática,
um ceticismo brando,
é como deixar de acreditar apenas nos seres humanos,
e residir calmamente no seu íntimo misantropo,
mas sem conflito, sem alarde,
sem cansar-se de si mesmo...
E assim, compreender tranquilo todo o mal que nos assola,
sabendo voltar todos os dias pra casa,
como os bêbados.
E amanhecer todos os dias do ano,
saber dormir,
saber viver sem deixar cair,
sem ter de necessariamente sofrer.