Pelos dias e noites em que as coisas nos fogem,
qualquer silêncio e qualquer meia luz me chamam a atenção,
os dezembros doem, arruínam a caixa onde esqueço meu coração,
trazem coisas de mim que eu não conheço mais,
coisas que eu não reconheço mais em mim.
São os sóis do verão,
aquela velha sensação juvenil de ter que ser feliz,
de ter que sair de casa para descobrir a cidade,
e fazer isso sem alarde,
perder a hora sem hora nem nada,
correr pra sair e não chegar tarde,
por quase todos os dias,
por quase todas as tardes.
E se durante os meses todos do ano, os dias me fogem,
nos dezembros eles me encontram,
me cobram comparecimento,
repetem a celeuma de todos,
insistem que eu encontre o outro...
Que eu vomite a bile negra,
e que deixe de detestar as pessoas,
que eu volte a viver como antes,
mesmo que agora não sinta mais nada.
Os dezembros me adoram,
roem a corda da cortina na cochia,
querem que eu esteja à postos,
querem me ver rezar a boa oração dos postos,
eles sentem falta do desacato à tudo,
sofrem quando lembram da hipocrisia,
da ruptura e do amor ao mundo.
Dezembros me amam,
dezembros me cansam demais.
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