Toda a aura de desajuste não me choca
eu já gostava do mundo torto
muito antes dessa doença nova.
É que desde sempre
eu vivi pra ver a rua vazia,
a orla desamparada,
as praias desertas à noite,
os dias vindo pra nada.
Nada, nada disso me atormenta,
eu gosto da solidão das coisas,
gosto da tristeza escorada nos pontos mais lindos,
do amor cego e maltratado batendo em retirada,
desistindo.
É que desde sempre
eu quis viver pra ver a beleza mais difícil,
qualquer singularidade extasiante,
qualquer pormenor que cause vertigem,
qualquer historinha que o olho brilhe,
os detalhes, as coisinhas.
Por isso não me choca esse mundo vazio
e a cidade dormida,
não me causa estranheza,
não me deixa perdido...
É que eu vivo pra isso,
e por isso até prefiro...
Eu só achei tais belezas,
quando as pessoas sumiam.