terça-feira, 30 de novembro de 2021

Viver e ganhar

Chuto baldes e garrafas,
sou quem eu mais detestava,
me derramo na vida pra esquecer,
eu brigo muito pra sobreviver...

Pelas ruas e calçadas,
pelo Rio ameaças,
sou bem mais do que eu faço valer.

Não me comprometo, é perigo,
eu não sei bem do que eu digo,
só preciso vir te convencer...

Que eu sou o mistério da raça
e vivo um milagre insalubre,
vocês nunca sabem onde procurar,
vocês nunca, nem querendo,
vão me achar.

Viro os dias desastrado,
como um santo desalmado,
se puder causar um estrago
eu sei que vou me divertir.

Nas esquinas mais batidas,
no asfalto com o seu sangue,
nos dias de sol a pino 
que te fazem desmaiar...

Por que eu gosto 
do que não é pro meu bico,
e vocês não sabem, 
como isso é difícil...

Mas é que eu não fui feito 
pra viver e ganhar,
eu não fui feito 
pra viver e ganhar.

Imagem do dia!


 

Amargo y docemente

 Muy amargurada alma
sob os desavisados passantes,
choca quem não é de lua
absolve os filhos da rua...

Muito doce, docemente,
mente muito pra viver,
sabe tudo, sabe muito,
doce, mente pra esquecer.

Muy amargurada alma
sob os lírios da noite mãe,
choca os desavisados passantes,
como antes, como antes.

Muy amargo y docemente,
como os trilhos que não seguimos,
e o que vimos, como antes,
diz demais da vida à toa...

E que a amargurada alma
precisa seguir docemente,
como antes, como antes.

Deuses vis

Quando a manhã se espreme pelas frestas
penso em coisas que me alentam
penso em coisas impossíveis
penso pra querer viver...

Mas e se a gente não pudesse
e se nada mais doesse
e se a gente não vingasse
e se o dia não nascesse 

Como seriam as tardes
as manhãs de sol e chuva
os amores sem sentido
os teus olhos cor de fruta 

Remexendo o céu de maio
adulando o azul anil
detestando feriados
rezando pra deuses vis 

Mas se o dia não viesse,
e a barra não quebrasse
seria tudo verdade
seria tudo um deslize
de algum dos deuses vis.

Imagem do dia!

Baden Powell por Pedro de Moraes