segunda-feira, 21 de abril de 2025

Imagem do dia!


 

Lugares vivos

Esse lugar hoje é tão vivo 
que me cheira a morte,
e o cedro, o aço, 
o sinteco fresco, o taco...

São em mim como um faixo de luz,
funcionam como as engrenagens,
destravam as sensações.

Me transportam pra onde havia vida,
mesmo tendo muita vida aqui,
mesmo sendo vivo e lindo esse lugar.

E o cal na grama, a agulha,
a trave de madeira, a manga,
a goiaba podre, e a chuva...
São como desengripante
pra minha alma enferrujada e suja.

Me transportam pra onde havia vida,
mesmo tendo muita vida aqui,
mesmo sendo quase o mesmo lugar.

Mas o cheiro da morte vem de mim,
do grito desesperado e mudo,
do corpo cinzelado 
pelas dores e pelos absurdos.

Vem do sorriso catártico e insano,
da alma possuída, da tristeza doentia,
da intoxicação e da saudade de ser criança,
do amor por essa forma de viver
tão omissa e tão doída.

E por isso é que os lugares amados 
devem ser prisioneiros do passado,
devem ser pra que assim não se desfaçam em nós.

Pra que não desatem os bons nós
e não nos tirem a ilusão tão doce
de termos sido plenamente felizes 
por um só momento que fosse.