Esse lugar hoje é tão vivo
que me cheira a morte,
e o cedro, o aço,
o sinteco fresco, o taco...
São em mim como um faixo de luz,
funcionam como as engrenagens,
destravam as sensações.
Me transportam pra onde havia vida,
mesmo tendo muita vida aqui,
mesmo sendo vivo e lindo esse lugar.
E o cal na grama, a agulha,
a trave de madeira, a manga,
a goiaba podre, e a chuva...
São como desengripante
pra minha alma enferrujada e suja.
Me transportam pra onde havia vida,
mesmo tendo muita vida aqui,
mesmo sendo quase o mesmo lugar.
Mas o cheiro da morte vem de mim,
do grito desesperado e mudo,
do corpo cinzelado
pelas dores e pelos absurdos.
Vem do sorriso catártico e insano,
da alma possuída, da tristeza doentia,
da intoxicação e da saudade de ser criança,
do amor por essa forma de viver
tão omissa e tão doída.
E por isso é que os lugares amados
devem ser prisioneiros do passado,
devem ser pra que assim não se desfaçam em nós.
Pra que não desatem os bons nós
e não nos tirem a ilusão tão doce
de termos sido plenamente felizes
por um só momento que fosse.
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