terça-feira, 2 de dezembro de 2025

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Desfile

O féretro com minha alma
desfila pela noite escura,
a vida do caçador,
o espelho refletindo as rugas.

Desisto sob o sol de maio,
desisto sob a luz da lua.
Eu não cobro por um olhar de cura,
sou um sátiro te querendo nua.

Sou bicho de verdades cruas,
não me aflijo por qualquer sentença.
Tenho medo quando não me acho,
eu sou dono do que você pensa.

Me encalacro como em sinuca,
quase nunca me deixo sonhar.
Todo dia é dia de festa,
toda festa sempre faz chorar.

O féretro com minha alma
desfila pela madrugada,
procura pelos corpos vivos,
destrona rainhas infundadas.

Eu sigo pelo sol de maio,
eu sigo sob a luz da lua,
cobro caro por olhares puros,
sou um sofista que vende rascunhos.

Um sábio de verdades rasas,
vivendo num baile de máscaras,
procurando o que foi perdido
e perdendo-se junto da própria alma.


Largamundo

Hoje,
o que escrevo de nada vale.

E ainda escrevo pouco,
sem inspiração,
sem transpiração,
sem brilho no olho.

Não me faltam grandes tragédias,
nem pequenas paixões.
Não é culpa do senhor das esferas,
nem dos vícios tolos desta elite rastaquera.

A culpa é minha
e deste crônico desinteresse.

Destas dores todas de quem nada sente,
desta alma rota,
rendida ao abatimento de sempre.

A culpa é, sem dúvida,
desta coisa que me faz ser eu
— e, sobretudo, deste eu tão fajuto,
tão vago e largamundo.