segunda-feira, 21 de abril de 2025

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Lugares vivos

Esse lugar hoje é tão vivo 
que me cheira a morte,
e o cedro, o aço, 
o sinteco fresco, o taco...

São em mim como um faixo de luz,
funcionam como as engrenagens,
destravam as sensações.

Me transportam pra onde havia vida,
mesmo tendo muita vida aqui,
mesmo sendo vivo e lindo esse lugar.

E o cal na grama, a agulha,
a trave de madeira, a manga,
a goiaba podre, e a chuva...
São como desengripante
pra minha alma enferrujada e suja.

Me transportam pra onde havia vida,
mesmo tendo muita vida aqui,
mesmo sendo quase o mesmo lugar.

Mas o cheiro da morte vem de mim,
do grito desesperado e mudo,
do corpo cinzelado 
pelas dores e pelos absurdos.

Vem do sorriso catártico e insano,
da alma possuída, da tristeza doentia,
da intoxicação e da saudade de ser criança,
do amor por essa forma de viver
tão omissa e tão doída.

E por isso é que os lugares amados 
devem ser prisioneiros do passado,
devem ser pra que assim não se desfaçam em nós.

Pra que não desatem os bons nós
e não nos tirem a ilusão tão doce
de termos sido plenamente felizes 
por um só momento que fosse.

domingo, 30 de março de 2025

Onde ninguém vai

O meu lugar favorito 
é onde ninguém vai.

Onde não me encontrem,
não me irritem,
não me tirem a paz...

Já que busco paz de céu azul 
e paz de céu cinzento,
dia nublado, pouca luz,
poucos acontecimentos.

Busco paz que ninguém quer,
paz difícil, de solidão,
dentro do café coado,
pisando no tapete persa.

Pensando como a vida é massa,
e em como pesa, 
e o quanto pesa o coração.

Mas tudo é mais fácil 
quando não há ninguém,
ninguém onde eu vou,
ninguém onde eu vivo,
ninguém que queira saber
ou que se importe comigo.

É mais fácil viver com saudade de tudo,
do que saber muito precocemente 
dos sempre apinhados caminhos do mundo.

terça-feira, 25 de março de 2025

Vida & Verso (Música)


 

Vida & Verso

Quando o sol me cospe 
o ouro de tolo da manhã,
sinto no peito o vazio, 
o calor de ser homem e ser são.

Vivo o seu passado 
e os passos do trovador,
daquela gente sincera 
que canta à capela o amor...

E os loucos pelas pedras
que só tiveram da vida o verso,
os que vivem nas margens
mas sempre são tão espertos.

E é tão difícil dizer, 
o que eu te digo agora.
Rio eu te amo tanto 
que preciso ir embora!

Vivo seu passado 
que é o que me cura a ferida,
eu rezo pelos bardos roucos,
e pras meninas bem nascidas...

Que façam da cidade
e da luz do redentor,
o seu palco mais lindo
e uma peça que fale de amor.

Pois quando o sol me cospe 
o ouro de tolo da manhã,
sinto no peito o vazio 
de ser homem e ser são.

E é tão difícil dizer 
tudo o que eu te digo agora...
Rio eu te amo tanto,
que preciso ir embora!

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Imagem do dia!

 


O imbecil da vida

O imbecil da vida
é a vida toda.

O julgamento de outros olhos
é pra sempre, o tempo inteiro.

Quase nunca vivo pra comemorar
mais um dia passado,
menos um na sentença.
Uma vida inteira
aprendendo essa dança.

Sendo máscara
esquecendo o próprio rosto,
um cativo muito omisso
da vontade do entorno.

Não sou dono, nunca,
nem responsável,
sou passageiro internado da agonia,
passageiro conformado da agonia.

O imbecil da vida
é a vida toda.

E o julgamento de tantos olhos
é pra sempre e o tempo inteiro.

Não se iluda porque não existe
o eterno e indulgente.
Todo mundo, quando quer, sabe ferir;
todo amor do mundo pode e deve te afligir.

Porque o imbecil da vida
é a vida toda.

E o julgamento dos teus olhos
vai ser pra sempre o derradeiro...

Não me iludo, eu não existo,
sou omisso e descontente.
Sempre soube que isso ia me afligir,
sempre soube que o amor ia me ferir.