quarta-feira, 22 de março de 2017

Aqueles azuis

Aqueles azuis ainda me sugam todo dia um pouquinho de vida,
e quando aparecem pela cidade,
sempre me jogam num mundo novo de possibilidades.

E ela nunca avisou mesmo, nunca foi de ser normal,
ela nunca parou pra pensar,
e sempre me causou toda sorte de problemas.

Todo dia, de noite ou de dia,
sempre fez questão de não se guardar,
sem vergonha, seguia com aquela sanha
imparável de se entregar.

E aqueles azuis ainda me dão certa pena,
me doem nas noites em que passo sozinho,
me tiram um pouquinho de paz todo dia.

Porque todo dia ela partia pras ruas,
seguia com as idéias turvas,
e levava aquela alma toda nua,
sem uma pontinha de esperança pra se escorar.

Aqueles azuis ainda me trazem aqueles anos,
me tiram o sono,
e sem cerimônia me fazem chorar.

Imagem do dia!


De amargar

Foi mesmo de amargar, difícil de lembrar daquela noite,
eram quatro horas da manhã
e eu já via o sol como um farol no horizonte,
eu alucinava mil situações, não estava bem,
mas não fazia mal, mal nenhum à ninguém...

Foi por culpa dela, dos olhos verdes de água do mar,
que eu me repeti, que de novo caí naquela escuridão,
eram quatro horas da manhã o tempo todo,
e eu via que o sol na verdade era a lua,
eu alucinava uma multidão,
enquanto sete vampiras se digladiavam pelo meu coração.

Não foi uma noite fácil,
aquilo nem parecia o leblon,
em todas as calçadas eu via corpos pelo chão,
e era tudo culpa dela,
daqueles olhos de morfina,
o mundo estava acabando por causa daquela menina.

Eram quatro horas da manhã o tempo todo,
e eu era apenas uma sombra, um rastro de escuridão,
carregando a dor comigo, até o dia amanhecer,
esperando por milagre que tudo estivesse no lugar,
depois daquela noite tão difícil de lembrar,
depois daquela noite de amargar.

More than ever

Mais do que nunca o mundo parece me pregar peças,
continuo sem vontades, continuo aquele mesmo ser absorto,
morto em vida, vivo em caos, perdido, desencontrado,
mais do que nunca, hoje,
more than ever ando sumido de mim.

Agora não são só vontades que me faltam,
já não me sinto à vontade nos dias,
já não faço nada que me encha o peito,
o Rio não basta, se é que um dia bastou,
a vida parece que não vale, e até meu vale de lágrimas secou.

Quando muito, tenho sentido apenas raiva,
quando sinto são coisas que preferia nem sentir,
nas ruas não existem mais novidades pra mim,
na noite também, nos bares, nas pedras, na areia, no mar,
é tão difícil explicar o que me falta,
só sei que falta e sinto falta do que antes eu tinha pra amar.

Mais do que nunca, hoje, more than ever me sinto outro,
antes fosse triste, antes fosse só como era antes,
fosse só eu contra o mundo, contra tudo que não queria,
antes eu queria aquele não querer com tanta força,
com tantos motivos, com frases prontas,
sorrisos e olhares tão sórdidos,
eu tinha alguma coisa,
eu tive algum amor dentro de mim.

Mas hoje, mais do que nunca,
more than ever,
não tenho, não sou,
não sinto nem um tiquinho...

Eu só rezo pra Deus não esquecer que estou vivo.

terça-feira, 7 de março de 2017

Só viver

Hoje eu acordei pensando em você de novo,
mesmo depois de todo esse tempo,
mesmo depois dos ventos que nos afastaram,
das coisas da vida que covardemente nos envenenaram.

Escutei um crepitar no meu peito,
e era o fogo do meu coração se apagando,
era um pedido de socorro da minha alma,
era o que eu podia fazer pra viver.

Pedir, pedir por socorro,
querer de novo, pra ter um pouco,
e trazer de dentro qualquer lembrança,
sobreviver, e só viver,
só viver um pouquinho mais.

Deuses do carnaval

Tomem as ruas, falem a língua dos outros,
esqueçam o sol que faz aqui,
esqueçam dos graus tão altos daqui,
sumam de casa, ganhem o mundo,
cantem e sambem,
até não ter mais o céu azul...

Peçam aos deuses do carnaval,
um pouco mais desses dias,
orem aos deuses do carnaval,
peçam que a carne sobreviva.

E tomem as ruas, falem a língua do povo,
esqueçam o sol que faz aqui,
esqueçam o calor tão fácil daqui,
sumam de casa, ganhem o mundo,
um pouco de tudo, cantem e sambem,
até não ter mais o céu azul...

Peçam aos deuses do carnaval,
a benção dos Orixás,
a benção de Deus,
Ganesha e Alá,
a benção dos deuses do mundo que há,
lá fora, do mundo que há lá fora.

E tomem as ruas, esqueçam de tudo,
tomem as ruas, em nome dos deuses,
em nome dos deuses do carnaval.