segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

As pessoas da sala de jantar

Seus conceitos pobres
me embaraçam pelas tardes,
seus objetos valiosos
exterminam meus neurônios

Quero ver verdades
e não ter nenhuma razão,
quero ser de verdade
e não sofrer desse sopro em silêncio.

Porque as pessoas na sala de jantar,
elas não são as mesmas,
mas talvez eu seja,
talvez eu já esteja lá...

Muito ocupado com o nascer e morrer,
e os nós sufocantes,
todo aquele "mandar fazer",
todas aquelas coisas tão importantes.

Mas seus conceitos mortos,
eles ainda me desarranjam,
me abrem feridas,
e os tapetes persas,
suas mesas de pinho de riga...

Eu não quero jogar pelas regras,
nem exijo as benesses da sua côrte,
não quero o mundo em cores,
nem quero que todos possam e tenham voz.

Eu aceito,
aceito ser o próximo algoz.

Quero ser a tragédia,
quero ser o vilão,
e habitar na sala de jantar
da próxima geração.

Imagem do dia!

Getúlio Vargas 

Tudo que há de bom

Pros homens tristes, como eu,
pros idiotas e insensíveis,
e os que tem vergonha de saber 
que não sabem amar...

Pros que nunca olham pro futuro
com bons olhos de viver,
pros miseráveis, desgraçados,
que mesmo afortunados
não vivem felizes...

Como em oração,
lhes desejo o que há de bom,
um muro à duzentos por hora, 
uma queda de avião.

Pra vocês, que são como eu,
e vivem rastejando,
desejando que o mundo,
não dure tanto assim.

Como em oração,
lhes desejo tudo o que há de bom,
cianeto, beladona,
uma janela alta no verão

Isso é pra vocês, que são como eu,
e não sabem carregar,
a dor insuportável 
de não saber amar.

Requentado

Não requente meu café,
hoje acordei recheado de negativas,
os fusos confusos não me animam,
e também não destroem,
escapo pela tangente,
de toda essa gente que não suporto.

Poderia ser melhor e, eu sei,
poderia ser diferente,
mas é o sentimento misantropo que me laça,
é sobre tergiversar da humanidade
que meus dedos gostam de falar.

A felicidade desde sempre
me escapou de todo jeito,
não vejo, não enxergo,
não consigo querer grita-la,
alerta-la, pedir para que fique
por uma temporada.

Não tenho, não sei,
eu nunca vivi esse fetiche,
vejo mais charme na tristeza,
vejo beleza e tranquilidade,
discrição, realeza, coisa fina,
alma fácil, anciã.

A felicidade esconde coisas demais,
enquanto a tristeza é mais sublime e verdadeira,
e eu, que sou chegado em coisa certa,
nunca vi vantagem em viver feliz por aí...

Preferi sempre o escuro do mundo
e os lados mais tristes das canções,
sou de romantizar quase tudo,
de acordar pra profanar versos de Montaigne,
e só viver como quem
nem faz questão de morrer.

Imagem do dia!