quinta-feira, 30 de setembro de 2021
Quase nunca
Precisado das palavras
peço amor a quem me guia,
a paixão pelas esquinas
o desprezo pelos dias.
Sinto forte a dor dos anos
e das coisas só da vida,
sinto forte faltas doces,
o amor das bem nascidas.
Me preocupo com rasuras,
o pouco conhecimento,
com lisura de vontades,
amar já não é alento.
Sou um escuro como outros,
um herói muito improvável,
desertor que não espera,
um omisso indo pra guerra.
Dono de vida sem graça
e muito pouca coisa pra dizer,
homem de mundo qualquer,
de quase nunca ter querer.
Dono de uns bons não queros,
trivial, simplista e manso,
docemente me contento
quando o amor vira algum canto.
Metades
Consigo ver-te de longe
teus lindos verdes me assombram,
me habitam como poesia,
se escondem e se jogam de mim.
Me aprumo pro mundo impessoal,
me entrego a opacidade e a rasura,
à morte do meu infinito,
o preço irreal da fartura...
São coisas da vida ele disse,
duas partes da mesma laranja,
são lados da mesma canção,
desculpas que a gente arranja.
Consigo viver sem amor,
o meu bamboleio permite,
metade é carta na manga,
metade é morte terrível.
São coisas da vida é o que eu digo,
percalços de um longo caminho,
os verdes que já foram cura
todo dia me matam um pouquinho.
Descuido
Só vivo por milagre,
e meu olhar vive ancorado
no futuro inevitável
que só a dor pode me dar.
Sábios nos seus fraques,
letrados com seus livros,
o que será que o tempo quer aqui
enganando esses prodígios...
Nós sabemos mais,
entendemos que é só vida,
que são rugas e que o vento
é um sonho que nos toca.
Nós sabemos mais
que conceitos estudáveis,
entendemos que é a vida
e que a morte é um afago.
Vivo por milagre,
por milagres e deslizes,
por descuido divinal,
pelos astros, por acinte.
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