quinta-feira, 31 de março de 2022

Inatos

Dizem por aí, que agora tudo é uma egotrip,
nessa muito nova era moderna de apliques,
de golpes e espelhos,
de narcisos afogados criando guelras
e permanecendo bem vivos.

E enquanto nada faz sentido
pra esse alguém que sempre foge do destino,
que faz um esforço louco
pra viver sempre perdido...

Se esquivando das pessoas chatas, 
dos quase mortos-vivos
que não dão nem duas páginas de um livro.

É como eu vou me controlando 
pra não viver de porre do mundo,
das pessoas rasas, dos homens de farda,
dos seres imensamente aguerridos
e quase sempre sem brilho.

Esses que me dão certeza 
da existência de um Deus poderoso e vivo.
Pois só a distração de um grande criador
poderia dar vida a tamanho vazio...

Vazio dessas almas desgarradas, e eu digo, 
desgraçadas;
dos homens sempre plácidos,
dos mansos residentes do vácuo 
de suas mentes parvas...

E dos viveres improfundos,
dos lemas flexíveis e inatos
que são a fina flor desse absurdo.

A prova da ignorância mais plena
que é o grande medo de fazer silêncio
e de assim criar justiça.

Imagem do dia!

                     Obras de alargamento da praia da Gávea, Rio de Janeiro, 1948
 

Chega de gente!

Não quero que a semana comece
o dia ensolarado não me desce,
o peso do mundo em meus ombros é pouco,
não tenho mais saco pro corpo 
nem a alma dos outros...

Pra mim, chega de gente,
eu detesto quem sente,
detesto quem chora e quem ri,
quem diz que é sempre feliz,
quem não lembra que a vida 
é curta demais.

O mundo já deve acabar,
por previsões na bíblia 
ou guerra nuclear...

Eu não sei nada além disso,
vamos pelo clima ou vaidades dos ricos,
eu não espero mais nada até lá,
só quero ver de cima,
se um disco voador puder vir me buscar.

Pra mim, já chega de gente,
eu detesto quem sente,
quem fala ou se cala demais...

Quem é chato e não sabe,
quem não lembra da gente,
quem só chora ou só ri,
e ainda gosta de mim...

Pra mim, já chega de gente,
eu já não luto essa frente,
me considero um rapaz que vive das inconsequências,
que segue a tragédia dos astros e que nada sente.

Eu sou a noite escura,
a madrugada,
sem medo da barra quebrar,
que o sol não é de nada.

Eu sou a mata escura,
o amor desenganado,
sem medo de anhangá,
meu passo é sempre atirado...

Pra mim, já chega de gente,
eu tô cansado demais,
cansado assim, de quem gosta de mim,
ou quem não vale nada,
cansado demais, de quem amo
ou quem fica pra trás...

Pra mim... chega.