terça-feira, 31 de março de 2015

Só o Rio

Em tempos difíceis apelo pra ti,
apelo pros dias claros,
pros clichês intermináveis.

Apelo pro cristo visto do parque lage,
recorro aos azuis do mar calmo no arpoador,
aos passantes dançando em volta das estátuas da cidade,
recorro a essa aura de descontrole e amor de irmão.

Eu nessas horas invoco
o poder das pedrinhas portuguesas,
uma dessas belezas bestas
que depois de velho não vou enxergar.

Me debruço num pedalar incansável,
deslizando sem medo pelo caos,
passando por entre as veias,
pelas entranhas dessa povoação,
nas horas tristes e felizes,
nos pontos de fervura,
de ebulição...

Recusando esse assolamento das almas,
essa tendência do século,
esse desamor, essa distância de tudo,
esse ver e rever constante
que hoje é sem abrir os olhos,
sem deixar brilhar.

Em tempos difíceis apelo pra ti,
apelo pras quedas d'agua,
pros cantos que lavam a alma.

Apelo pro céu estrelado das noites daqui,
essas noites frustradas que queriam ser dia.

Ah, eu apelo pros domingos de sol olhando pras tijucas,
apelo pra joatinga, pra marambaia,
apelo pras delícias, pros loucos, pras meninas.

É, sempre dá certo,
em tempos difíceis no final das contas
eu sempre me viro, parece besteira...

Mas é que só Rio me salva do Rio.

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