domingo, 26 de abril de 2015

Querela

Andam faltando dias cinzentos por aqui,
minha tristeza está pra morrer de fome
e o sol tem queimado a depressão...

Anteontem até choveu de noite,
mas eu quase não percebi,
não ventou,
não trovejou,
de que adianta quando é assim?

Tô precisando de um temporal
daqueles que levou Pedro de Caymmi,
e que endoideceu Rosinha,
a mais bonitinha e mais bem feitinha
de todas as mocinhas lá no arraiá.

Tô precisando de verdade,
de um tempo ruim, de um vento frio,
das pedras molhadas,
do Rio vadio que eu sempre amei,
e que amo mais quando chora
e eu choro junto.

Ando precisado da ausência,
ausência de todos e da minha,
da ausência dos meus e das minhas.

Tudo isso porque faltam dias cinzentos,
e a minha tristeza
logo mais morre de fome.

O sol não vai mesmo me dar uma trégua,
continua sufocando todos os dias com esses raios,
e o azul, o azul é sempre muito azul demais.

Ah, faltam pequenas tragédias,
falta sofrimento,
falta qualquer coisa
que traga o luto as mulheres que vestem branco,
faltam partes de mim que só funcionam nas atribulações,
ah se faltam,
e como fazem falta...

Mas o sol,
o sol não vai mesmo me dar uma trégua,
é melhor encerrar,
dar como finda esta minha querela.

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