quarta-feira, 11 de junho de 2014

Estado de sítio

Sabe quando chove
e você fica ali sozinho,
impossibilitado de qualquer coisa,
prisioneiro da indolência flutuante que a chuva traz,
rendido pelo absoluto silêncio das células,
da morte dos comichões de amor
e de outras vontades quaisquer...

Sabe quando chove
e dá aquela preguiça de gente,
preguiça de viver, de ver os outros,
de pisar fora de casa,
de almoçar, de jantar,
de ver tv, de abrir os olhos
pra quem sabe perceber que amanheceu...

Sabe, eu nunca disse isso antes pra você,
mas esses dias de chuva
são pra mim como os dias em que eu não te vejo,
os dias que você não dá notícias,
dias que você me faz pensar
que sumiu porque não suportaria me ter nas vistas...

Nessas horas eu fico pra morrer,
morrer, mas um morrer sofrido,
morrer que rende,
uma sangria torturante,
um medo desajeitado,
um arrepio, um suor frio
só de pensar que de repente,
que possivelmente,
por qualquer loucura tua,
por qualquer coisa que fiz e nem percebi,
por algum motivo tolo,
quem sabe, você tenha pensado bem e...

Preferiu me deixar,
me deixar aqui onde sempre estive,
largado num canto escuro da minha alma,
da minha existência pedante,
escravo do meu próprio mal estar,
cuspido, devolvido pro sórdido pedaço do mundo
de onde você me tirou,
mastigado, usado,
sugado, doente...

Eu quase não posso acreditar que você faria isso,
mas eu preciso cogitar a possibilidade,
não posso ser pego de surpresa,
seria dor demais, mais que muito,
maior que grande,
muito mesmo, dor demais,
infinita, e além...

Pensar tanto assim é torturante,
são planos pro sofrimento que vem num próximo capítulo,
simulação que dá vivência
só porque a agonia é um sentimento inocente
que dói já na imaginação,
que aperta o peito...

Faz bem fintar de quando em vez,
que é pra doer menos quando for preciso,
quando for declarado estado de sítio.

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