domingo, 8 de junho de 2014

Jarrett

Jarrett pela manhã,
e toda aquela efusividade musical,
todo aquele suor das notas,
o ofegar, a displicência na postura,
estilo indefinido, o aplauso,
os olhos fechados, a pausa...

Tudo isso pra mim
foi bom gatilho pra lembrar que toda tristeza,
apesar de também ser beleza,
é no fundo uma vilã...

Jarrett e o som do mundo acordando,
essa efusividade matinal,
essa euforia de tudo voltando a acontecer,
e do fundo do meu coração
te empurrando pra mais perto de mim,
com os seus olhos derramados na cama,
com seu jeito de menina mimada,
de menina pidona... parece mentira,
mas eu só desperto por essas lembranças.

Jarrett pela manhã...
Keith, é,
você não sabe quem é,
nem sonha saber,
mas me lembra você...

O som, tudo meio en passant,
mas com profundidade irretocável,
improvisação de intensidade,
know-how de maestrão.

É, coisa sem pé nem cabeça,
coisa da minha cabeça,
besteira, é,
você sabe como é.

Jarrett e um pouco do resto do mundo,
uma brecha na janela não mais do que isso,
um desgosto profundo, um aperto terrível,
um sabor esquisito de viver,
um medo de solidão, de mundo sem você,
seja resto, meio, pouco, inteiro...
medo de futuro sem você.

Jarrett pela manhã,
escrevi seu nome no ar,
estou indo dormir,
é sempre assim...

Não te pedi perdão,
não te pedi licença,
mas te pus nas minhas orações,
pedi pra Deus o perdão que não te pedi,
me aproveitei da fé pra conseguir dormir,
pra conseguir sumir...

E você deve estar acordando,
sabe como é...
é sempre assim.

Jarrett pela manhã,
e um pouco de reflexão,
não queria abusar de você,
eu queria ser sua metade,
mas não...

Jarrett pela manhã,
Tokyo, Vienna, O trio,
You don't now what love is!

Aquela intimidade,
conhecimento, as mãos no piano,
um dom tão divino,
e toda essa desfaçatez,
esse dentro, fora, dentro, fora...
que abuso, desplante,
o ar, o respirar... o som.

Jarrett pela manhã,
sinto sua falta,
é coisa sem pé nem cabeça,
besteira, mas você sabe como é,
já cansei de te dizer.

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