Ainda é cedo,
agora são quatro e um pouco além de nós.
Mas não tem nós,
tem sim um ser sozinho,
só um ser sozinho, só,
tão só...
Tão só e tão somente um
que nada sente além do próprio vazio,
da necessidade que sente
de ser qualquer coisa diferente
do que é essa sua existência
de ser só e tão somente um.
Do que perdeu, lamenta,
vive e repete pra si as interrogações,
anestesias de um ser só... pra si...
pra se guardar.
Ora, aonde você se meteu amor,
onde se meteu o que foi o nosso amor,
aquilo que nos tornou capazes
de não sermos mais tão sós,
tão sós... e tão somente
pertencentes de nós mesmos.
Já não somos mais tão jovens,
não somos mais tão egoístas,
já nos perdemos por outros lados,
vivemos tanta coisa,
sabemos de longe entender um engano.
Mas ainda é cedo amor,
cedo pra você ir embora,
pra me jogar no canto
da prateleira dos desencontros.
Ah, um dia desses te vi de longe
num bar vazio pela manhã em copacabana,
e esse foi o motivo perfeito
pra chorar por mais umas semanas...
Bem como quando você sumiu
e só deu notícias chegando em barcelona,
nem me lembro o que foi que eu fiz,
entrei num transe até você voltar;
talvez me tire uns anos de vida
aquele tempo fora do ar.
E até hoje me pego brigando com postes na avenida atlântica,
ouvido sermões da minha própria sombra,
vivendo com medo do som dos meus passos,
jogado no chão do chuveiro de casa...
soluçando verdades confusas, chorando por vício,
vomitando minha alma, sendo um imenso vazio...
Mas ainda assim
um vazio menos só
do que o meu velho eu vazio.
Um vazio melhor,
trôpego, estilhaçado e sofrido,
que apesar de castigado,
me torna assim resignado,
nesse eu-lírico bem apessoado...
É um vazio sim,
mas é um que tem
qualquer coisa de celeste,
de divino...
Um vazio intenso
que me aparece a galope,
acima do bem e do mal...
Um vazio saturnal
todo cheio de você.
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