quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Ponta da pena

Vivendo por palavras,
dando sangue por epígrafes razoáveis,
sigo essa vida mansa de escritor,
de pobre lamentador sem obra...

Rezando por disciplina,
por paciência e luz
pra dar luz a um romance
que não seja um romance de esquina.

Ah como eu queria...

Por Caroline,
por Luisa,
por Alice,
umas Marias...

Ah eu bem queria.

Queria epígrafes menos corporais,
achava bom sentir qualquer coisa etérea antes de tudo,
antes de me desiludir de vez com o mundo,
com as crenças todas dessa esfera muito louca.

Porque há dias que não existem verdades,
da ciência e religião aos números,
do brilho dos olhos ao amor de uma criança.

E eu...

Não ligo mesmo,
eu só quero tirar verso de tudo,
ter o poder, o dom,
perícia com a palavra,
eu só queria esse sossego,
essa pureza e mansidão,
pra avultar na minha alma o apuro
pra versar cada pedrinha no chão...

E continuar vivendo por epígrafes possíveis,
dando sangue por boas palavras combinadas,
seguindo aos trancos e barrancos
nessa vida de costas muito quentes,
inteiro tomado por tristezas de escritor,
por muito medo de folhas em branco
e de sentir a ponta da pena sem amor.

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