1 - Parte primeira
Nessa vida muito morna de torrentes
e de acessos incompreensíveis,
ainda me encontro são e salvo,
de canto, virado,
vidrado nos olhos de cor de sempre...
Repetindo minhas verdades inventadas,
minhas verdades preferidas,
minha regras infundadas...
Num regozijo de pura tristeza,
ritual massacrante,
pra dar forma de letra
nas lágrimas que caem sob a mesa.
Bem do jeitinho que escrevia seu nome no ar,
dispersando o nevoeiro de amargura que havia entre nós,
lembrando de quando media sua mão junto da minha,
naquele tatear incansável,
coisa de quem ainda não tinha medo de amar.
2 - Parte segunda
Por Deus, fechem as janelas,
tranquem as portas a chave,
eu perdi o amor que tinha por ela.
Acordei distraído,
o dia começou mais triste do que o normal,
por algum motivo sumiu todo o encantamento,
desvendou-se o inexplicável,
fez-se triste
o que me parecia sempre alegre.
Senti na pele o frio
de um sol de quarenta graus,
congelei sem perceber
na sombra antes alentadora
de uma frondosa amendoeira.
Eu não sorri nem pros cachorros do parque,
a não ser pra um bulldog bastante simpático.
Esqueci de olhar o mar,
não vi as ondas como estavam,
nem o horizonte se era claro ou nuveado,
eu não quis sair em pleno sábado.
É, acho que perdi isso aqui dentro de casa mesmo,
deve estar num canto escuro,
num cantinho empoeirado.
O amor tem dessas,
vive se perdendo
querendo ser achado.
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