O nosso tempo não nos permite legítimo amor,
não ligamos pras rosas,
não temos a Barra,
já não vivemos sem computador...
Perdemos a inocência nos setenta
e as rédeas nos oitenta,
com charrete e condutor,
estamos tão perdidos nessa história
que eu já nem sei se existe mesmo o amor.
Não há polaróides como antes pra sorrir,
e nem há novos discos de Caymmi e Tom Jobim,
não se carregam livros nas mudanças, isso ficou pra trás,
e eles não voam nos arroubos violentos dos casais,
ninguém liga pra poesia mais.
Já não deixamos a vida nos levar
e não assistimos corrida de submarinos na beira do mar,
não há mesmo esperança, nem o bar,
foi-se o tempo da sarjeta
e até o Carvana já foi descansar.
Talvez por isso eu já não te ame mais,
e eu nem sei mesmo se amo meus amigos,
e os meus pais.
Eu juro por tudo quanto é sagrado,
eu ando perdido, desesperado,
porque não entendo,
eu não sei o que aconteceu,
não sei como não percebi,
mas parece que até o amor morreu.
Nós não somos hippies ou punks,
não temos um bom discurso,
vivemos sufocados,
somos cegos, surdos, mudos.
Nós não temos nenhuma boa desculpa,
não somos filhos da puta,
nós tivemos sempre muito carinho e amor.
Nós não somos a geração dourada,
não sonhamos com o hawaii,
e nem teremos a sorte de viver
como os nossos pais...
Não queremos uma surfshop
que só abre ao meio dia,
não queremos nada,
não pensamos em família.
Nós não vamos a igreja,
não almoçamos à mesa,
somos todos solitários e carentes,
somos gente, gente que quer comer gente,
somos uma geração de canibais.
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