Um vento quente rompe outro momento intranquilo da tarde,
ouço um sino, alucino,
não há sinos perto de casa.
Sinto coisas que não entendo,
há momentos que questiono toda minha existência,
paro, penso, por quê?
Esqueço, vivo um escuro de artista,
sem arte, sem obra,
vivo outras vidas, por vezes sou cópia,
sou homem novo recitando línguas mortas.
Noutros tempos não vivo,
sou tido como desaparecido,
não jogo pro mundo,
me visto e saio pra rua.
Sou visto, me escondo,
me ponho de novo a questionar toda existência,
não sou, não sinto,
tudo o que dizem é lenda.
Perco as tardes,
ah, como eu odeio as tardes,
as comparo aos jovens insolentes,
fazem tanto calor, tanto barulho,
são tão lindas e passam desvairadas.
Ganho as noites,
são minhas, as vivo com tanto gosto,
atravesso-as com as meninas que pintam o rosto,
nem pareço comigo,
a noite estou sempre disposto.
Um vento quente invade de novo a janela do quarto,
não ouço o sino,
sinto um arrepio, releio o meu vago desvario,
questiono minha relevância literária,
embargo novas inspirações,
apago, rabisco, amasso, rasgo,
paro, penso, por quê?
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