terça-feira, 29 de novembro de 2016

Me encontrar

Nas noites da cidade
já não há nenhuma novidade pra mim,
nas praias daqui,
nos poetas, nas juras que fiz.

Há somente um gosto ruim,
um sentimento de perda,
uma morte lenta e ruidosa
que não me deixa dormir.

Há também um sentimento
de que tudo nunca será melhor do que já foi,
e que o tempo vai levar aquilo que importa pra ele,
levar pra guardar bem longe.

Junto a isso, sinto dores tremendas,
dores inexplicáveis, esquecimentos absurdos,
o sentimento súbito e impiedoso
de que não consigo mesmo escrever pra viver.

Ando me imitando, reescrevendo,
tentando me lembrar de quem eu sou,
estou perdido em mim mesmo,
sangrando num canto do meu coração.

Sofrido, de olhos brancos,
já sem lágrimas pra chorar,
estou perdido em algum canto
precisando me encontrar.

Imagem do dia!


So shy

Passarinha dos olhos castanhos,
esfinge, última rainha
dos suspiros desertos dos meus sonhos.

Menina, delícia,
distante, tão distante
das obviedades dos nossos amores...

Salamandra, descoberta,
lisa de carícias,
desinibida,
but so shy, so shy.

Jogada nos caminhos,
com carinho,
ela é tão... indecisa.

Lobo bom,
lobo mau...

Ela é meu anjo,
meu demônio,
paraíso, inferno astral.

Casamento,
separação.

Deusa onipotente,
politeísmo pagão.

Hermética,
metafísica,
linda, linda,
linda e lírica...

Passarinha,
tão menina...

Oásis de tranquilidade e amor,
Cleópatra desavisada,
flertando perigosamente com toda dor.

Passarinha solta, solta,
planadora, harpia,
lisa, lisa, cheia de delícias,
desinibida,
but so shy, so shy...

Oração à minha alma

Minha alma de novo baiano,
que antes tão leve, hoje pesa.

Não me leva,
não me guia pelos caminhos de outros tempos,
essa alma que hoje me trai, já foi tudo,
minha tão querida alma, antes tão minha,
e hoje perdida.

Ela já não me sustenta, não me ajuda,
não mata a sede e nem a fome de viver.

Ah, minha alma,
meu princípio, meu lado de cá,
norte, minha provação,
porque me traíste?

E de onde assistes
meu recente vagar sem ti pela vida?

Ah, parte minha que anda vivendo outro mundo,
volte, preciso transbordar,
preciso dos olhos brilhantes,
das mãos firmes,
das vontades inexplicáveis.

Não posso viver sem,
não há porque persistir sem gosto, sem tato,
sem o amor e a tristeza do meu lado,
volte, por favor.

Em nome do pai, de toda criação,
por piedade, misericórdia,
volte correndo com uma paixão.

Não fique aí de onde assistes
o meu recente vagar sem ti pela vida.

Esqueça essa necessidade de estar longe,
volte a ser meu espectro pulsante em carne,
meu princípio puro e imaterial,
quero tê-la de volta...

 Alma, volta!

Imagem do dia!


sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Fantasias

Sinto falta dos poetas todos,
do amor que eu tinha em mim,
sinto falta de toda poesia,
ultimamente ando de alma triste.

Padeço numa solidão que não compreendo,
algo me dói até o espectro,
me rói os ossos, me falta,
são todas aquelas lonjuras de novo.

Não sinto nem os meus medos,
vivo em transe com esse nada,
nada me inspira, nada me revive nem me mata,
ando de alma triste, levo uma vida sufocada.

Não me encontro nos olhos das meninas,
nem nas tardes quentes da cidade,
não vivo amores e nem dores,
não me acabo e nem reajo.

Ando fazendo desse limbo minha casa
e vou vivendo esse "não sinto" até que acabe,
não me choco, já não choro,
esqueci minhas fantasias.

domingo, 20 de novembro de 2016

Levando a dor

Perambulo pela casa com fome de tudo,
seguro um café fraco e quente com todo cuidado do mundo,
ponho o meu coração no congelador,
parto pra mais um dia sem saber o que é ter o seu amor.

Levito pela cidade como quem anda anestesiado,
não pelos teus olhos de morfina,
mas agora pela droga da tua ausência.

Tomo um café pequeno
num pé sujo de ipanema,
esqueço o meu coração
remedando com deboche qualquer cena de cinema.

Já não posso mais viver assim,
não posso mais não acordar e dormir
ao seu lado...

Não posso mais não ter você,
não posso dizer que não amo,
dizer que não te amo mais...

Perambulo pela casa, esqueço do mundo,
não parece que o tempo passa, não sinto mais aquela sede de tudo,
ponho meu coração de volta no peito,
pra voltar a viver sabendo que já tive você e o seu amor,
voltar a viver, viver levando essa dor.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Imagem do dia!


Viver longe de ti

Aquele disco que traz o seu nome,
traz consigo a dor de tantos homens,
que eu quase não sinto mais,
eu tenho ciúmes demais.

E aquele pôr do sol que nós vimos,
quase todo domingo, eu vou até lá,
e são tantos casais, tantas de você e de mim,
que eu quase não sinto mais,
eu tenho ciúmes demais.

Mas quando te vejo, menina,
eu sinto tanto,
que padeço em um pranto
que nunca ninguém jamais sofreu.

E aquele disco que traz o seu nome,
é o que me mata a fome que eu sinto de você.

E o nosso pôr do sol,
nosso mirante lá no alto do leblon,
são as coisas que me mantém são,
são as coisas que me salvam,
que me abraçam quando eu sofro dessa solidão,
quando desatina em mim a dor de tanta lonjura,
e da falta de você, desse viver longe de ti.

Ensaios

Redescubro lugares já cantados estando ao seu lado,
reedito meus sorrisos, dou vida aos meus antigos medos,
sou de novo eu mesmo, sem ensaios.

A impressão que tenho é de que vivi a espera disso,
e não sei mesmo se estou pronto pra você,
se um dia estarei,
ou se a espera deve continuar.

Mas a verdade é que há hoje lá fora um mundo colorido,
um Rio todo cheio das vontades que eu tinha perdido,
um Rio onde todos os meus cantos sagrados
voltaram a ter novos encantos para serem cantados ao seu lado.

É, acho que finalmente encontrei,
e agora penso que posso dar por finda a minha busca,
já que tenho nos teus olhos novo mundo, nova vida,
e no teu sorriso, o meu,
tenho todo o amor que nunca usei,
e os estilhaços do meu coração, que juntei,
vou colar pra lhe entregar.