segunda-feira, 21 de abril de 2025
Lugares vivos
domingo, 30 de março de 2025
Onde ninguém vai
é onde ninguém vai.
Onde não me encontrem,
não me irritem,
não me tirem a paz...
Já que busco paz de céu azul
e paz de céu cinzento,
dia nublado, pouca luz,
poucos acontecimentos.
Busco paz que ninguém quer,
paz difícil, de solidão,
dentro do café coado,
pisando no tapete persa.
Pensando como a vida é massa,
e em como pesa,
e o quanto pesa o coração.
Mas tudo é mais fácil
quando não há ninguém,
ninguém onde eu vou,
ninguém onde eu vivo,
ninguém que queira saber
ou que se importe comigo.
É mais fácil viver com saudade de tudo,
do que saber muito precocemente
dos sempre apinhados caminhos do mundo.
terça-feira, 25 de março de 2025
Vida & Verso
terça-feira, 18 de fevereiro de 2025
O imbecil da vida
O imbecil da vida
é a vida toda.
O julgamento de outros olhos
é pra sempre, o tempo inteiro.
Quase nunca vivo pra comemorar
mais um dia passado,
menos um na sentença.
Uma vida inteira
aprendendo essa dança.
Sendo máscara
esquecendo o próprio rosto,
um cativo muito omisso
da vontade do entorno.
Não sou dono, nunca,
nem responsável,
sou passageiro internado da agonia,
passageiro conformado da agonia.
O imbecil da vida
é a vida toda.
E o julgamento de tantos olhos
é pra sempre e o tempo inteiro.
Não se iluda porque não existe
o eterno e indulgente.
Todo mundo, quando quer, sabe ferir;
todo amor do mundo pode e deve te afligir.
Porque o imbecil da vida
é a vida toda.
E o julgamento dos teus olhos
vai ser pra sempre o derradeiro...
Não me iludo, eu não existo,
sou omisso e descontente.
Sempre soube que isso ia me afligir,
sempre soube que o amor ia me ferir.
terça-feira, 28 de janeiro de 2025
O velho e o charuto
Foi numa segunda-feira, ou talvez numa terça — a verdade é que já não sei bem. Mas era bem cedo, entre quatro e cinco da manhã. Se era Nascimento Silva ou Redentor também não me lembro, mas lembro bem daquele velho ostentando um suspensório grená; uma calça desgastada de linho, camisa branca lisa e uma social listrada em branco e rosa, bem aberta. A barba era grisalha, levemente por fazer... eu só não me lembro mesmo dos sapatos.
Mas aquela cena me chamou muito a atenção, farejei um certo desconsolo na feição daquele senhor, no jeito como ele estava ali, aquela hora da manhã, sentado de maneira pouco confortável recostado numa jardineira dessas de rua, sob uma grande árvore... Era diferente, algo que parecia rotina mas, que também carregava uma coisa que não se encaixava. Poderia ser o charuto com aquela fumaça densa, ou a tristeza da solidão daquele personagem parado ali, não sei. Talvez fosse a hora, a postura. Ele tinha cara de poucos amigos, cara de quem estava pouco interessado em tudo à sua volta.
Havia uma melancolia especial naquela cena, uma coisa que a gente vê, sente, depois tenta traduzir e não consegue.
E talvez aquele fosse apenas um dia comum em que ele precisou sair para espairecer, soltando baforadas daquela fumaça branca. Lembrando de velhas histórias, de velhos amigos, recordando almoços de família; a mesa cheia, o cheiro da carne daquela churrascaria em Petrópolis, o nome do maître… João, Mário, Chico? Não sabe. Não lembra. Como estaria ele, seja lá qual fosse o nome? Será que ainda trabalha lá? E o cheiro da carne, o sabor, o filé à Oswaldo Aranha... será que continua igual? Talvez nem fosse tudo tão bom quanto ele lembra. O que realmente importava era a mesa cheia, a criançada dando trabalho, filhos, netos, sobrinhos, agregados...
É, talvez fosse de alguma coisa assim saudosa e corriqueira que surgia aquele ar de desesperança. Talvez fossem só lonjuras, distâncias...
Mas há outros que não, para alguns é só um pequeno vício, coisa de poucos minutos, dessas que vêm com a insônia e vão embora com um charuto.